Falhas no Estande

Falhas no Estande

Jonas Farias Pinto

jonas@fundacaoprosementes.com.br

Silmar Teichert Peske e Luis Osmar Braga Schuch

Dentro de uma população de plantas, a competição geralmente ocorre por nutrientes minerais, luz, água e a competição interespecífica. O conhecimento desses fatores e suas inter-relações, são importantes para predizer o desempenho das espécies nas comunidades, num ambiente em constantes mudanças naturais.

A soja, por exemplo, tolera uma ampla variação na população de plantas, alterando mais a sua morfologia que o rendimento, sendo um fator determinante para o arranjo das plantas no ambiente de produção. Estudos de arranjo de plantas permitem minimizar a competição intraespecífica e maximizar o aproveitamento dos recursos ambientais. Essas modificações no arranjo podem ser feitas por meio da variação do espaçamento entre plantas dentro da linha de semeadura e da distância entre linhas.

Assim, para maximizar os avanços técnico-científicos no sentido de se obter alta produtividade, é essencial uma boa semeadura, com distribuição espacial adequada e uniforme das sementes.

O conhecimento das forças de interação entre as espécies dentro de uma comunidade de plantas é de fundamental importância para compreender como as comunidades são estruturadas, mesmo sendo difícil quantificar essas forças. Para exemplificar essas forças de interação verifica-se que, mesmo com cultivares de soja possuindo potenciais de produtividade de até 6.000 quilos de grãos por hectare, ainda depara-se com níveis de produtividade abaixo da média nacional, que se encontra ao redor de 3.000 quilos por hectare.

Como o potencial de rendimento da soja é determinado geneticamente, o quanto deste potencial será atingido na lavoura dependerá do efeito de fatores limitantes que estarão atuando em algum momento durante o ciclo da cultura. O efeito desses fatores pode ser minimizado pela adoção de um conjunto de práticas de manejo, que faz com que a comunidade de plantas tenha o melhor aproveitamento possível dos recursos ambientais. Por isso, a população adequada de plantas homogeneamente distribuídos é um fator determinante para um perfeito arranjo das plantas de soja, pois influencia no crescimento, inserção de vagens, número de ramificações e de legumes.

A combinação da densidade de plantas na linha, com o espaçamento entre linhas, define a população de plantas da cultura, a qual influencia em algumas características agronômicas da planta de soja, bem como pode modificar a produção de grãos.

Não menos importante é a qualidade física, fisiológica e sanitária da semente, pois a semente é um meio de se levar ao agricultor todo o potencial de um cultivar, tanto genético como em qualidade física, fisiológica e sanitária.

O rendimento máximo a ser alcançado pela soja é determinado pela otimização da capacidade da planta em maximizar a interceptação da radiação solar durante os estádios vegetativo e reprodutivo iniciais, sendo esse acúmulo de matéria seca dependente de muitos fatores, como condições meteorológicas, data de semeadura, genótipo, fertilidade do solo, população de plantas e espaçamento entre linhas. Além da captação da radiação solar, o potencial produtivo da soja depende das condições do meio em que as plantas irão se desenvolver. Assim, alterações relacionadas à população de plantas, dentre outros, podem reduzir ou aumentar os ganhos em rendimento.

Esses ganhos estão relacionados, além da população de plantas, ao arranjo das mesmas na lavoura. A utilização de novas disposições das plantas permite minimizar a competição intraespecífica, maximizando o aproveitamento dos recursos ambientais. As modificações no arranjo podem ser feitas por meio da variação do espaçamento entre as plantas na linha de semeadura e da distância entre linhas. Vários trabalhos verificaram que a maior competição entre plantas ocorre na linha de semeadura e desta forma a distribuição das sementes no solo se torna um elemento fundamental.

Os rendimentos obtidos com a modificação do arranjo de plantas se devem às mudanças morfofisiológicas, podendo essas serem melhor entendidas pela análise dos componentes do rendimento e da morfologia da planta. Assim, observou-se que para uma mesma população de plantas a diminuição do espaçamento entre linhas da soja aumenta o número e o comprimento dos ramos, no entanto o tamanho da semente e o número de sementes por vagem não foram afetados pelo arranjo de plantas.

Sabe-se que numa baixa população de plantas, ou seja, com espaçamento mais amplo entre plantas na linha de semeadura, a produção individual por planta é maior, embora por área seja menor. Aumentando-se a população através da redução do espaçamento entre plantas ao longo da linha, a produção por planta diminui, existindo porém um aumento na produção por área. O decréscimo na produção por planta é compensado pelo aumento do número de plantas por área. A produção por unidade de área é máxima quando a população é ideal. A partir daí, o decréscimo na produção individual não é compensado pelo aumento de plantas por área.

Ao reduzir o espaçamento entre linhas com as novas cultivares, sem o devido ajuste da densidade das plantas na linha, o produtor poderá estar contribuindo para o acamamento da cultura. Por outro lado, se o ajuste da densidade resultar em poucas plantas por metro, estas poderão crescer com menos altura e ramificar mais, porém, com maior probabilidade de aumentar as perdas de colheita, pela baixa inserção das vagens, reduzindo a produção. Um dos objetivos da modificação no arranjo de plantas, pela diminuição da distância entre as linhas, é encurtar o tempo para a cultura interceptar 95% da radiação solar incidente, e com isso incrementar a quantidade de luz captada por unidade de área e de tempo.

A densidade ideal de plantas para cada cultivar depende principalmente de algumas características, tais como: ciclo biológico, altura da planta, hábito de crescimento, índice de acamamento e período juvenil. Essas características agronômicas são influenciadas pelo espaçamento e densidade de semeadura. A densidade ideal depende também do ambiente de cultivo, sendo afetada pela temperatura, disponibilidade de água, época de semeadura, fertilidade do solo e adubação, entre outras.

Os espaçamentos entre as linhas e a densidade de plantas nas linhas podem ser alterados, com a finalidade de estabelecer o arranjo mais adequado à obtenção de maior produtividade e adaptação à colheita mecanizada. Hoje isso é possível devido a alta tecnologia das máquinas de plantio, sendo possível utilizar espaçamentos mais adequados para cada tipo de cultura e tamanho de semente.

Um aspecto fundamental a ser levado em consideração é a perfeita distribuição das plantas ao longo da linha de semeadura. O acúmulo de plantas em alguns pontos da lavoura pode provocar o desenvolvimento de plantas mais altas, menos ramificadas, com menor produção individual, diâmetro de haste reduzido, e, portanto, mais propensas ao acamamento. Por outro lado, espaços vazios deixados na linha, além de facilitar o desenvolvimento de plantas daninhas, levam ao estabelecimento de plantas de soja com porte reduzido, além de não contar com a produtividade dessas plantas ausentes. O estande produzido dessa forma pode acarretar redução na produtividade, além de dificuldades por ocasião da colheita mecanizada.

Esse estande reduzido e principalmente com distribuição irregular de plantas ao longo da linha pode ser ocasionado pela baixa qualidade das sementes, como também pelo processo de semeadura, em que a semente não foi depositada no local a ela destinada, ocorrendo as falhas.

Falha no estande

Sabe-se que a soja compensa as falhas na linha de semeadura, entretanto isto possui um limite e uma grandeza que deve ser considerada na gestão de um cultivo. Neste sentido, um estudo foi conduzido com 15 sementes por metro linear (6,5cm entre sementes) e 0,5m entre linhas, em que se arranjou falhas na linha de semeadura variando entre 0,13m a 0,45m. Avaliou-se a morfologia, a produtividade e os componentes do rendimento das plantas localizadas nas bordas das falhas, bem como de plantas isoladas e de plantas dentro da população sem falhas.

Os resultados indicaram que planta isolada apresenta resultados superiores, diferindo quanto ao diâmetro do caule e número de ramificações por planta (Tabela no texto). Por outro lado, a altura de plantas foi similar entre todos os tratamentos. Este resultado foi o esperado, pois, estando isolada, a planta pode expressar todo o seu potencial, uma vez que não há competição com outras plantas por água, nutrientes e luz. Nesta condição, a planta não enfrenta obstáculos para emitir um grande número de ramificações, diferentemente de quando há outras plantas localizadas próximas, que condicionam para o crescimento vertical.

Embora não tenha sido observada diferença estatística no crescimento final, era esperado que as plantas isoladas apresentassem menor altura em relação às plantas em competição com outras. Provavelmente, este comportamento ocorreu pelo hábito de crescimento da cultivar utilizada (determinado).

A maior produtividade por planta também foi observada na planta isolada, equivalendo a 25,4g por planta. Isso se deve a um maior número de ramificações (8,9), maior número de vagens por planta (119) e sementes por planta (182). Supondo que em uma lavoura de soja com população de 300.000 plantas por hectare cada planta produzisse 25,4g, a produção seria de 7.720 kg/ha. Essa alta capacidade que uma planta pode chegar a produzir mostra o potencial produtivo da soja.

Comparando as plantas individuais entre os distintos tratamentos, a testemunha (Planta normal sem falha), no qual todas as plantas estão equidistantes uma das outras, apresentou valores inferiores ou equivalentes para diâmetro do caule, altura de plantas, número de ramificações por planta, número de legumes por planta e número de sementes por planta. Para peso de sementes, a testemunha foi significativamente inferior aos tratamentos com planta isolada e planta localizada em borda de falha de 45,5cm e equivalente aos demais.

Analisando a produtividade por área (normalmente essa é a que interessa), verificou-se que a produtividade diminuiu linearmente com o acréscimo no tamanho das falhas, pressupondo a ocorrência de uma falha por metro de linha dentro da lavoura (Figura no texto), embora observe-se que com o aumento do tamanho das falhas ocorreu um acréscimo linear da produtividade individual das plantas das bordas das falhas (Figura no texto). Assim, constata-se que à medida que aumenta o tamanho das falhas, a produtividade por planta das bordas das falhas também aumenta. Porém, essa compensação apresentada pelo aumento da produção das plantas das bordas das falhas não foi suficiente para manter o nível de produtividade por área das populações de soja.

A testemunha, na qual não há falhas e as plantas estão equidistantes entre si, a produtividade por planta foi de 12,0g/planta, o que equivale a uma produção de 3.600kg/ha. Já o tratamento com planta em borda de falha de 45,5cm, no qual ocorre uma falha de 7 plantas por metro linear, apesar de a produtividade por planta das plantas da borda da falha ser maior que a testemunha, isso não foi suficiente para compensar a falta de plantas, o que acarretou uma diminuição de 38% na produção por hectare.

Ressalta-se que a produtividade em planta isolada foi de 25,4g/planta, sendo o dobro da testemunha; porém, extrapolando essa produtividade para rendimento por hectare, chega-se a uma resultado de apenas 508kg/ha, ou seja, 14% do total observado na testemunha, em função da baixa população de plantas na lavoura nesse tratamento.

Verifica-se que, com a falha de apenas uma planta por metro de linha (0,13m), a produtividade total por área atinge apenas 94% do obtido sem a presença de falhas (Tabela no texto). Quando há falha de sete plantas consecutivas, apesar da compensação apresentada pelas plantas das bordas, que produzem 63% a mais que as plantas individuais em espaçamento normal, a produção por área fica reduzida a apenas 62% da verificada sem a ocorrência de falhas. Estes dados evidenciam a importância da necessidade de uma boa distribuição e qualidade de sementes para o sucesso de uma lavoura comercial.

Para evitarmos tal problema necessitamos ter uma distribuição uniforme das plantas ao longo da linha, ou seja, uma distribuição onde todas as plantas fiquem exatamente a uma mesma distância umas das outras, uma vez que a soja tolera melhor a ocorrência de populações mais baixas, porém com plantas bem distribuídas, ao invés da ocorrência de falhas ao longo da linha de semeadura.

Vários mecanismos podem ser utilizados para que a distribuição das plantas no campo se aproxime ao máximo possível de uma distribuição ideal, e para isso são necessários: lotes de sementes de alta qualidade (vigor e germinação); semeadoras com sistemas eficientes de distribuição das sementes; profundidade de semeadura ideal; umidade do solo adequada; controle de pragas e doenças e uso de produtos que possam reduzir o atrito entre as sementes, garantindo assim uma melhor distribuição.

Certamente a adoção destas ações contribuirá para alcançar uma maior produtividade na cultura da soja.

Parte da tese de doutorado de Jonas Farias Pinto


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