Falta equilíbrio
Ana Borges
A forte queda da inflação neste primeiro trimestre foi amplamente noticiada como positiva. Afinal, esta é a menor taxa do IPCA desde que o Brasil passou a ter, de fato, uma moeda. Uns consideram que o Banco Central finalmente conseguiu resolver o problema. Na verdade, fez mais do que isso. A expectativa para este ano está abaixo do centro da meta, de 4,5%. Ou seja, em tempos de recessão, o Copom demorou demais para baixar a taxa de juros. A Selic elevada penaliza a economia há muito tempo.
No primeiro trimestre, o IPCA acumulou alta de apenas 0,96%, o menor percentual para os primeiros três meses do ano desde a criação do Plano Real, em 1994. No acumulado em doze meses, o IPCA soma 4,57%, como divulgado pelo IBGE na sexta-feira. Unindo os dados já divulgados com as projeções, fica evidente que há espaço para novos cortes de juros, que devem ocorrer nas próximas reuniões.
Também na última semana, o Banco Central reduziu mais a projeção para a inflação e divulgou a previsão de que o IPCA ficará em 3,6% em 2017 e 3,3% em 2018, caso não haja alteração nem na taxa de juros nem no câmbio. Segundo o BC, a mudança está relacionada a um erro no cálculo anterior. Também foram alteradas as projeções para o que ele chama "cenário híbrido" - taxa de juros constante e projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio. A estimativa da inflação para o ano de 2017 passou para 3,7% e para 2018, o número ficou em 3,5%. Aí se fica pensando se o equívoco não especificado não reduziu o ritmo de corte da Selic, penalizando mas que o necessário a combalida economia.
A ciência econômica demonstra que a taxa de juros alta reduz a chamada inflação de demanda, provocada por elevado consumo, coisa que não há no Brasil hoje. Este comportamento é destacado pelo próprio BC ao analisar os dados do PIB do quarto trimestre de 2016. “No âmbito da demanda, destacaram-se os recuos no consumo das famílias, consistente com a continuidade dos processos de distensão do mercado de trabalho e arrefecimento das operações de crédito”. Altos juros também desestimulam investimentos de empresas, outro componente da renda que vem demonstrando queda, com redução de 1,6% no quarto trimestre.
Além disso, teorias como a da curva de Philips destacam que há um trade off entre inflação e nível de desemprego. Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção e, assim, baixam a taxa de desemprego, mas também elevam a taxa de inflação.
Isso significa que, quanto mais for priorizado o combate à inflação, mais alto será o nível de desemprego. É exatamente este o momento em que a economia brasileira se encontra agora. Priorizou-se o combate à inflação e, como consequência, provocou-se o aumento do número de desempregados. De acordo com os dados recentes divulgados pelo IBGE, o número de desempregados entre dezembro e fevereiro bateu o recorde estabelecido entre setembro e novembro (11,9%), chegado a 13,2%, ou 13,5 milhões de pessoas nos três meses seguintes.
Combater a inflação, que, na prática, reduz o poder de compra da população, ao provocar queda da renda real, é importante para manter a estabilidade econômica. Entretanto, o que falta no momento é a busca pelo equilíbrio. O país encontra-se em recessão e manter juros elevados impõe sacrifícios à atividade econômica.
É preciso calibrar as decisões. Afinal, o que defende o ministro da Fazenda é uma política fiscal restritiva. Dentre as medidas do governo para cobrir o rombo no orçamento de 2017, estimado em R$ 58,2 bilhões, está o corte de R$ 42,1 bilhões com gastos da União. Outra medida é o fim da desoneração da folha de pagamento para empresas da maioria dos setores que são grandes geradores de emprego. Na prática, apesar de o ministro dizer o contrário, reoneração da folha de pagamentos, significa o retorno da obrigação do empregador de pagar impostos sobre a folha de pagamento. O impacto da medida será o aumento de R$ 4,8 bilhões na arrecadação federal e menos empregos para os brasileiros.
Política fiscal restritiva precisa ser compensada pela política monetária expansiva. Caso contrário, a economia permanecerá no buraco.