FEBRE AMARELA EM FOCO!!!
A febre amarela (FA) é uma doença infecciosa aguda, febril, não contagiosa, de curta duração (no máximo de 12 dias) e de gravidade variável. É produzida por um arbovírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae. A doença mantém-se endêmica e enzoótica em diversas regiões tropicais das Américas e da África, e é responsável por surtos periódicos, de magnitude variável.1
A forma grave caracteriza-se clinicamente por manifestações de insuficiência hepática e renal, que podem levar à morte. Não existe um tratamento etiológico específico para a FA. A vacinação é a medida mais importante para prevenir a doença.1
Do ponto de vista exclusivamente epidemiológico, podem ser diferenciados dois ciclos de transmissão: urbano e silvestre. Em ambos os ciclos, a doença é a mesma sob os aspectos etiológico, clínico, imunológico e fisiopatológico. No ciclo urbano, a doença é uma antroponose, não se reconhecendo reservatórios animais de importância epidemiológica. O Aedes aegypti é seu principal vetor, tanto na América do Sul como na África.1
A vacinação contra a febre amarela é exigida pelo Regulamento Sanitário Internacional para viajantes provenientes de, ou com destino a áreas endêmicas. Mesmo assim, em 2016, uma epidemia de febre amarela predominantemente urbana, com transmissão pelo Aedes aegypti, ocorreu em Angola, com 4.306 casos suspeitos (884 casos e 121 óbitos confirmados por laboratório), e se propagou para a República Democrática do Congo, com 2.987 casos suspeitos (81 casos e 16 óbitos confirmados). A disseminação da doença por diversas províncias e o esgotamento do estoque emergencial de vacina disponível para campanhas de vacinação em massa propiciou a importação da doença em países como China, Quênia e Uganda, representando um risco para a segurança sanitária global.2
A partir de 2010, observou-se uma expansão da doença da África Ocidental para as regiões central e oriental do continente, onde campanhas preventivas de vacinação em massa não haviam sido conduzidas. A situação da febre amarela em Angola, com sua expansão nacional e internacional, reforçou a necessidade de medidas proativas de prevenção nos países da África Central e Oriental. Seguindo recomendação do Comitê de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil exige o Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP) de modo temporário e restrito aos viajantes procedentes ou em trânsito em Angola e República Democrática do Congo. Assim, além das campanhas de vacinação nos países com ocorrência de casos, a intensificação de medidas de controle em regiões vulneráveis precisou ser realizada em curto período de tempo para evitar a disseminação da doença e interromper a circulação viral. No entanto, o fornecimento global de vacinas, em situações de emergências como essa, tem sido um grande entrave para o controle efetivo da doença.2
O Brasil vive, desde dezembro de 2016, um dos maiores surtos de FA de transmissão silvestre da sua história, com ocorrência em estados da região Sudeste, principalmente Minas Gerais e Espírito Santo, mas também no Rio de Janeiro e em São Paulo.1
Na série histórica de 2000 a 2012, no Brasil, foram confirmados 326 casos de FA e 156 óbitos, com letalidade média de 47,8%. De dezembro de 2016 até a segunda quinzena de março de 2017, 448 casos e 144 óbitos foram confirmados no país. O Estado de Minas Gerais registrou 349 casos e 118 óbitos confirmados, superando os números da série histórica de 2000 a 2012, quando foram confirmados 101 casos e 41 óbitos no estado. Os estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, que até então não eram considerados áreas endêmicas, registraram 93 casos confirmados e 22 óbitos, e 3 casos confirmados e 1 óbito, respectivamente, de dezembro de 2016 até março de 2017.1
O Ministério da Saúde também anunciou a preparação dos serviços para um possível fracionamento das doses da vacina, com o objetivo de conter a expansão da doença nas regiões metropolitanas que necessitarem de bloqueio.1
No passado, a febre amarela representou um dos maiores problemas para a saúde pública brasileira, mas foi controlada com a eliminação da transmissão urbana no país em 1942. Entretanto, com a impossibilidade de erradicação da febre amarela de transmissão silvestre, por tratar-se de uma zoonose de animais silvestres, e a ampla dispersão do Aedes aegypti nas cidades brasileiras, a possibilidade de reemergência da febre amarela nos espaços urbanos é uma ameaça constante.2
Referências
1. Karina Ribeiro Leite Jardim Cavalcante, Pedro Luiz Tauil. Risco de reintrodução da febre amarela urbana no Brasil. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 26(3):617-620, jul-set 2017.
2. Tatiana Guimarães de Noronha, Luiz Antônio Bastos Camacho. Controvérsias sobre a ampliação das áreas com vacinação de rotina contra a febre amarela no Brasil. Cad. Saúde Pública 2017; 33(10):e00060917.
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7 aCarol Palombini