Ferramenta de liderança para jogar fora

Ferramenta de liderança para jogar fora

No Natal, o diretor comprou de presente o panetone mais barato do mercado pra equipe inteira de umas 20 pessoas dividirem. Estava difícil levar aquele trabalho a sério, eram várias cenas que passavam da linha do respeito e exemplificavam o que, apesar de bem nova, eu já sacava: brasileiro acha que pra abrir um negócio é só ter vontade. E mais, que pra ser líder, basta ter uma equipe. 

Habilidades e competências de gestão e liderança passavam longe da diretoria. Meu chefe nunca tinha tempo pra uma reunião - talvez ele soubesse que não teria respostas para o que eu iria questionar. 

Apesar de tudo, eu trabalhava com seriedade fazendo meu melhor, recebendo um salário bem nhé, numa empresa que nem salinha pra gente tomar café tinha. Acredite, ainda assim valia a pena, aquilo era melhor do que muito universitário vivia nos primeiros anos da carreira profissional. O começo era o começo e tava tudo bem pra mim.  

Eu fazia o que dava, tentando transformar teoria em prática do que eu aprendia na faculdade, buscando manter todo mundo contente na minha primeira experiência como líder: continha pequenas rebeliões e cavava reuniões remuneradas pós expediente pro pessoal fazer um extra. Das boas memórias, ficaram a constatação de que a energia que se coloca na gestão de um time é proporcional ao sucesso do cliente, um amigo que mantenho contato até hoje, e o hábito sustentável dos recortes de papel colorido.

Dentro da gaveta da mesa de trabalho que eu usava, havia uma sacola transparente com recortes de papel ofício. Eu guardava pedaços das folhas usadas para escrever recadinhos motivacionais aos membros da equipe porque não parecia que o pessoal estava disposto a trabalhar lá por muito tempo. Era só aparecer uma folha usada na minha mesa, que em vez de rasgar e jogar no lixo, eu recortava e guardava na gaveta. A alegria do dia era puxar a sacola e ver aquele arco-íris de papéis pra eu escolher e usar.  

Numa manhã bem nublada, a esposa do diretor resolveu aparecer por lá e fiscalizar o meu trabalho. Buscou, buscou e buscou algo pra reclamar e não achou. Aí abriu a minha gaveta, pegou a sacola colorida e jogou em cima da mesa: “Que tanto de lixo é esse aqui?” Jovem inocente, me dei ao trabalho de justificar que para economizar papel, eu guardava aqueles recortes que iriam pro lixo e usava para bilhetes e comunicados. Ela suspirou debochada e pá, tacou tudo no lixo. E não foi a sacola que ela jogou fora, ela fez questão de jogar como uma cachoeira cada folhinha colorida na lixeira. 

Foi como se um pedaço do meu sonho profissional estivesse sendo jogado fora, prestes a ser recolhido pelo caminhão do lixo. Naquele dia compreendi a rebuscada ferramenta que um ser humano nhé usava com maestria para se sentir superior: pagar o salário de alguém.



Alexandre Gasparini

Varejo | Gestão | Precificação | RGM | Empreendedorismo | Treinamento e Consultoria

3 a

É, o que não falta é gente nhé por aí. O engraçado é que sempre estão juntas - um bolinho.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Camila Carnielli

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos