Ferramentas Para Ajudar as Crianças a Gerir as Emoções
Num evento recente, um aluno disse algo que se destacou para a educadora Karen VanAusdal: “Quero que o meu professor me pergunte como é que eu estou, e não apenas como é que estão as minhas notas.”
Durante estes períodos estressantes, as crianças desejam mais atenção do que nunca para a sua saúde emocional. É por isso que algumas escolas vão este ano começar a dar aulas baseadas em sentimentos. Com a designação ASE – ou aprendizagem socioemocional – esta abordagem é usada por muitos educadores para ajudar os alunos a lidarem com as grandes mudanças trazidas por 2020.
“Se as crianças estão a lidar com muitas questões emocionais, como é que se pode esperar que desliguem todas essas emoções para se concentrarem?” pergunta Jon Sarna, que ensina consciência socioemocional no Distrito Escolar Unificado de Burbank, na Califórnia.
O stress dificulta a aprendizagem, mas adquirir capacidades para controlar o stress pode ajudar, diz Christina Cipriano, diretora de pesquisa do Centro de Inteligência Emocional de Yale. “[O stress] impede a nossa função executiva e a memória”, diz Christina. “Se não conseguimos reconhecer essas emoções e regulá-las, elas vão minar a nossa capacidade de interação.”
Quando as aptidões de ASE são ensinadas na sala de aula, os alunos sentem-se mais ligados aos professores. Isso, diz Karen VanAusdal, diretora de práticas da Coletiva de Aprendizagem Académica, Social e Emocional de Chicago, ajuda a apoiar os estudos de uma criança.
Mesmo que a escola do seu filho não ensine aptidões de ASE, não se preocupe. Com a sua ajuda, as crianças também podem aprender ASE em casa.
O que é a ASE?
Ao nível mais básico, a ASE é um conjunto de estratégias que visam ajudar crianças ou adultos a controlarem as suas emoções e a relacionarem-se com outras pessoas de forma saudável. Este conceito surgiu na década de 1960, quando o psiquiatra infantil James Comer sugeriu que os alunos desfavorecidos poderiam obter melhores resultados académicos se se sentissem mais valorizados e seguros na escola. James Comer construiu um programa piloto no Centro de Estudos Infantis da Escola de Medicina de Yale, colocou-o em prática em duas escolas de baixo desempenho em New Haven e observou os problemas de comportamento a diminuírem e as capacidades académicas a aumentarem.
Na década de 1990, a ASE era ensinada em centenas de escolas e, em 1995, o livro de Daniel Goleman, Emotional Intelligence, popularizou o termo ASE.
Atualmente, os padrões de aprendizagem social e emocional já foram adotados por escolas do mundo inteiro. As aulas de ASE são ensinadas enquanto unidades dedicadas, que é o que Jon Sarna faz, ou integradas no ensino sob a forma de perguntas e comentários ponderados que os professores são treinados para incorporar. As aulas estão elaboradas para ajudar as crianças a adquirirem aptidões para a vida, como reconhecer e nomear as suas emoções, ter empatia pelos colegas e aprender a construir boas relações.
Como pode a ASE ajudar
Embora fazer uma pausa no ensino para falar sobre sentimentos possa parecer contraproducente para a aprendizagem, mais de 20 anos de investigações mostram que, na realidade, este processo pode impulsionar o desempenho académico, aumentar a saúde mental, reduzir as taxas de abandono escolar e muito mais. Afinal de contas, quando as crianças se sentem bem, obtêm melhores resultados.
Um estudo feito pela Universidade Estadual da Pensilvânia acompanhou alunos desde o jardim de infância até completarem 25 anos e descobriu que os indivíduos que apresentavam “comportamentos pró-sociais” quando eram jovens tinham maiores probabilidades de evitar uma vida de crime, evitar drogas e álcool e ter uma boa saúde mental na vida adulta. Este tipo de aptidões podem ser ensinadas. (Outra forma de fomentar a saúde infantil: Generosidade.)
De acordo com uma análise de estudos que incluiu mais de 270.000 alunos, as crianças que participaram em programas de ASE tiverem melhor comportamento na sala de aula, conseguiram controlar melhor o seu stress e tiveram 11 pontos percentuais a mais nas notas escolares do que as crianças que não participaram em programas de ASE.
Como aplicar a ASE em casa
Independentemente de os seus filhos terem ou não aulas de ASE na escola, podem beneficiar de um apoio extra nestes tempos stressantes. Seguem-se algumas técnicas de ASE que os pais podem usar para obter alguns dos mesmos benefícios em casa.
Respiração abdominal. “Usamos esta ferramenta para acalmar os sentimentos mais fortes ou quando as crianças sentem que não se conseguem concentrar ou precisam de se acalmar”, diz Jon Sarna. As crianças colocam as mãos na barriga e respiram pelo nariz. Os pais podem orientá-las para respirarem “como se estivessem a cheirar uma sopa deliciosa”. Diga-lhes para sentirem o ar a entrar. De seguida, diga-lhes para soprarem como se estivessem a arrefecer uma sopa. As crianças podem “respirar profundamente” antes de reagirem a uma situação, ou antes de se sentarem para fazer os trabalhos de casa.
Crie uma lista de objetivos. “Trata-se de um documento com o qual a nossa família ou unidade escolar se identifica”, diz Christina Cipriano. No início da pandemia, Christina e a sua família criaram a sua lista: “Perguntámos como é que nos queríamos sentir em casa e o que iríamos fazer para nos sentirmos dessa forma.” A família de Christina decidiu que todos se queriam sentir respeitados e ouvidos. Depois, pensaram em como conseguiriam atingir esse objetivo e escreveram: “Vamos ouvir o que as pessoas estão a dizer e o que não estão a dizer.” Christina sugere que os pais se sentem com filhos e peçam a todos para escreverem quatro ou cinco palavras que descrevam como se querem sentir e, de seguida, quatro a cinco atividades que todos concordem em fazer para os ajudar a chegar lá.
Partilhe rosas e espinhos. Durante o jantar, fale com a sua família e pergunte: “O que aconteceu hoje de positivo?” Depois, peça para partilharem um desafio que tenham enfrentado durante o dia. Os pontos positivos são as rosas e os desafios são os espinhos. Quando alguém partilha um espinho, resista ao impulso de o tentar solucionar. “Pode perguntar como é que lidaram com isso”, diz Karen VanAusdal. “Se o desafio ainda não foi resolvido, pode perguntar o que se pode fazer em conjunto para ultrapassar isso. Dê às crianças a oportunidade de refletirem e exercitarem os seus músculos de resolução de problemas.”
Pense durante três minutos. “Se dermos três minutos às crianças para simplesmente não fazerem nada e terem os seus próprios pensamentos, isso é poderoso”, diz Jon Sarna. “O simples ato de dar às crianças espaço para pensarem e permitir que os seus pensamentos fluam livremente, isso permite que elas explorem a sua intuição, em vez de sermos nós a sobrecarregá-las com o que já sabemos.”
Experimente um medidor de humor. Trata-se de um gráfico com palavras que expressam sentimentos e que as crianças podem usar para saber como se sentem num determinado momento – por exemplo, antes de um teste, depois de um dia difícil ou mesmo durante um acesso de raiva. “É algo que nos ajuda a identificar as nossas emoções com mais precisão”, diz Christina, “e aumenta a autoconsciência para aprendermos a regular, a compreender e a expressar as nossas emoções”. Quando as crianças reconhecem as suas emoções, podem usar essa informação para tomar decisões mais informadas, decisões que não se baseiem apenas nas emoções.
Leia em voz alta. Karen VanAusdal sugere que os pais, quando estão a contar uma história, podem perguntar às crianças mais novas como é que determinada personagem lidou com aquele conflito? O que torna aquela personagem realmente forte? Por que é que determinado conflito aconteceu? Isto faz com que as crianças construam um vocabulário para as suas emoções.
Partilhe os seus sentimentos. “Posso perguntar a uma turma se alguém já teve medo e, por vezes, ninguém diz nada”, diz Jon Sarna. “É aí que eu digo que já tive medo. Depois, todos querem dizer que já tiveram medo. E todos se sentem um pouco mais confortáveis. Partilhar uma emoção pode ajudar as crianças a compreenderem que esses sentimentos são normais.”
Pare para pensar. “Chamamos a isto meta-momento”, diz Christina Cipriano. “Acontece uma coisa, temos um sentimento e paramos para pensar antes de reagirmos: O que faria a melhor versão de mim próprio nesta situação? Antes de tirarmos conclusões precipitadas, tentamos fazer o que a melhor versão de nós próprios faria. Uma criança pode dizer que se está a sentir frustrada. Está a sentir raiva. O que faria a melhor versão de si própria nessa situação?” Christina enfatiza que isto pode ajudar tanto adultos como crianças a compreenderem melhor a ligação entre emoções e comportamentos.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com