Ficar para a história não paga a conta

Ficar para a história não paga a conta

Cecilia Lodi - publicado na Revista Showroom - janeiro 2018

Muito se lê sobre a história das empresas familiares. Quais foram os desafios e as encruzilhadas. Como os fundadores conseguiram, com grande sacrifício, sair do nada para uma grande expressão nacional. Salivamos ao ler as biografias que tem sido publicadas pelos Lemman, Gerdau, Klein e outros que transformaram suas ações e suas escolhas em patrimônio significativo. Queremos devorar as suas experiências, evitar seus erros, seguir seus passos.

Nas escolas de Administração multiplicam-se as disciplinas de valores, testamento moral, legado. Como devemos perpetuar nossas conquistas? Como faremos para que nossos filhos tenham os mesmos valores que foram fatores do nosso sucesso? Como inspira-los?

As famílias, muitas da segunda geração, fazem curso que ensinam sobre a importância do legado mas não ensinam a tomar decisões. Ensinam sobre valores mas não ensinam como conviver com a solidão de trilhar os caminhos que tiram as empresas da crise. Não ensinam como enxugar, não ensinam como caçar.

Não estou dizendo com isto que falar sobre legado é inútil. Ninguém acredita mais em viver numa sociedade de valores como eu, mas estou questionando por que, no meu dia a dia, encontro tantas pessoas tendo aulas do que sentir e tão poucas do que pensar.

Acreditamos, erroneamente, que é importante focarmos num legado para deixarmos para nossos filhos e antecipamos nossas expectativas tentando resolver o futuro sem cuidar do presente. Mas ficar para a história não paga a conta e antes de virarmos peça de museu, o ideal é verificar se a conta fecha. Se conseguiremos nos sustentar no mercado, engordar o caixa e permanecer num jogo que todos os dias causa sustos no empresariado brasileiro. São nestes aprendizados que não estamos capacitando nossos familiares. Estamos deixando tudo isto nas mãos de profissionais de fora que, não necessariamente, tem um vínculo de preservação do negócio familiar.

É muito importante, principalmente para as empresas de segunda geração, em que participam sócios que não estão envolvidos na gestão, que capacitemos os tomadores de decisão nos detalhes profundos da operação, para que eles compreendam de onde o lucro surge e remunera a família. Não adianta adotarmos uma posição mais blasé, superficial até, acreditando que alguém cuidará dos detalhes importantes da fina arte de ganhar dinheiro. Cada um de nós, se tomadores de decisão, somos responsáveis por isto. Precisamos estar preparados para isto. Precisamos colocar a mão na massa.

Numa empresa familiar não existem pedras. Só vidraças. Não adianta ficarmos pensando no legado do vovô enquanto a empresa afunda por mudança nos costumes, no mercado ou na economia. Não adianta acreditar que estaremos vivos a entregar para nossos filhos a empresa que recebemos de nossos pais se não estivermos prontos a reinventa-la. Cada geração tem seu desafio de, não só não destruir o que já foi conquistado mas também dar o próximo passo.

Por isto, está na hora de focarmos em nos preparar para três habilidades vitais. Saber ler o ambiente e sintonizar a visão para aquilo que vai perseverar. Saber tomar decisões que, de fato, mudam a realidade e dão velocidade à nossa empreitada e saber escolher as pessoas cujo perfil irão nos ajudar a chegar onde queremos. Para desenvolver estas habilidades em tempos como este, não devemos procurar fontes que falam muito e entregam pouco, como Napoleão em Waterloo. Devemos entender que os atos de nosso ego são menos importantes que os atos da nossa sobrevivência.

Marcelo Rocha

Mining & Metals Executive | Business Development

6 a

Olá Cecília, excelente artigo.

Josmar Bignotto

DESDE 2009 ATUANDO EM DIVERSAS ORGANIZAÇÕES E SEGMENTOS COMO CONSELHEIRO INDEPENDENTE COM FOCO NAS ESTRATÉGIAS DE NEGÓCIOS,GOVERNANÇA CORPORATIVA E PESSOAS .

6 a

Cecília Excelentes pistas.. .parabens

Muito bom artigo Cecilia. Temos visto na prática em nossos clientes em comum a importância do planejamento de sucessão! Sucesso!!!

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