Fidelidade ao Pensar Estratégico: papel de todo Conselheiro
“Criar mais tempo para o futuro, no presente, cria mais futuros no futuro; e espaço, também. É fundamental resistir à tentação de, no presente, viver só o presente.”
O trecho do livro “O que é Estratégia?”, de Sílvio Meira, é brilhante (há muitos outros trechos tão brilhantes quanto esse!). No mundo empresarial, dedica-se tempo significativo a rotinas e resultados imediatos, reservando-se pouco ou nenhum tempo para projetar e simular a empresa no futuro. Se tal comportamento é característico dos executivos da organização, já se percebe alguma gravidade. E se a mesma postura orienta a atuação dos membros de conselhos consultivos e conselhos de administração, é inadmissível.
Para avaliar se não estou sendo muito radical, vamos retomar à nossa referência maior: as publicações do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). O que estabelece o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa? Por lá, identifica-se que os conselheiros devem:
Relendo essa outra publicação “O Papel do Conselho de Administração na Estratégia das Organizações”, verificamos que conselheiros são formuladores de estratégia e precisam desenvolver habilidades que fomentem o pensamento estratégico e inibam posturas que reduzam esse pensamento.
Atualizando o tema, a mais nova publicação do IBGC traz a discussão sobre “O Pensar Estratégico nas Organizações e o Papel de seus Órgãos de Governança”. O Pensar Estratégico deve ser contínuo e não está restrito a um período do ano, quando se define o planejamento estratégico. Aliás, existe diferença entre os dois conceitos:
Ressaltando que planejamento estratégico reflete o processo de execução da estratégia, vejamos uma visão complementar do artigo “Strategic Planning Should Be a Strategic Exercise”, de Graham Kenny, da Harvard Business Review. O autor enfatiza que o foco principal de um plano estratégico é a competitividade. O objetivo do plano é responder às mudanças e às oportunidades futuras de forma a encontrar vantagens. Tudo refletido em ações concretas e indicadores de mensuração de resultados.
A rápida revisão dos materiais valida o raciocínio: conselheiros atuantes devem priorizar o Pensar Estratégico, assumir responsabilidades sobre o futuro e tratar a questão de modo sistemático, para que toda a organização siga em busca da sustentabilidade empresarial.
Um dos aspectos mais difíceis de se pensar estrategicamente é ter tempo para isso. A empresa está sempre ocupada. As atribuições diárias tomam conta da agenda e impedem a conclusão até mesmo de tarefas urgentes. Pensar no futuro “seria um luxo”.
A Mckinsey realizou pesquisa junto a 25 CEOs de empresas públicas e privadas da Europa e Ásia, e demonstrou que os conselhos passam muito tempo observando o espelho retrovisor, analisando relatórios trimestrais, trabalhos de auditoria, orçamentos e conformidade. Não se dá a devida atenção ao futuro e seus impactos no negócio. Em muitas organizações, os CEOs apresentam a visão estratégica uma vez por ano, os conselheiros discutem e ajustam numa única reunião. A contribuição dos conselheiros é mínima e não há tempo suficiente para debate ou informações detalhadas para avaliar adequadamente as possibilidades de futuros.
Baseado nessa evidência, a Mckinsey propôs uma agenda dinâmica para o conselho, com destaque para atividades voltadas à análise do futuro. Tais atividades não são restritas a um período do ano, mas devem se prolongar ao longo de um período de 12 meses. A Figura 1 ilustra como os conselhos poderiam dedicar mais tempo aos aspectos estratégicos e voltados para o futuro.
Figura 1 – Como os conselhos voltados para o futuro devem organizar sua agenda
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Percebe-se que a proposta da Mckinsey está alinhada à visão de que o papel central do conselho é cocriar e, em última análise, concordar com a estratégia da empresa. Ao invés de atuar como suporte ao trabalho do CEO, os conselheiros passam a se envolver nas discussões estratégicas, formam opiniões independentes e trabalham em colaboração com o CEO para garantir que as metas de longo prazo sejam bem formuladas e posteriormente alcançadas.
Surge aqui outro aspecto relevante na formulação e condução da estratégia: o relacionamento do conselho com o CEO. No livro publicado pela McKinsey “CEO Excellence: as seis mentalidades dos melhores líderes”, foram reunidas as características que diferenciam os 200 líderes com melhor desempenho do mundo. Dentre elas, selecione-se aquela que está associada à governança: extrair a melhor relação com o conselho. A pesquisa que subsidiou as conclusões do livro identificou que a maioria dos líderes considera penosas as reuniões com o conselho. Todavia, aqueles CEOs que se destacaram pensam diferente. Entendem ser necessário aproveitar o relacionamento com o conselho, formado por especialistas que se tornam parceiros para o negócio. E assim, desenvolvem uma relação de transparência com o conselho, deixando claros os papeis de cada um. Numa analogia aos times de futebol, conselheiros não entram em campo, mas têm o papel de escalar os melhores profissionais dirigentes, com as competências adequadas para executar a estratégia.
A sintonia entre o conselho e o CEO, por sua vez, possibilita o estímulo e a disseminação do pensamento estratégico por toda a organização. O comportamento deixa de ser reservado às áreas de planejamento ou mesmo às áreas de inovação. A organização toda se envolve. O exemplo vem do topo: do conselho.
O mundo dinâmico e complexo da atualidade, que já passou por três grandes crises neste século – bolha da internet, bolha imobiliária dos EUA e pandemia da Covid-19 – é alvo de profundas transformações que podem provocar futuras situações críticas na economia mundial. Seria irresponsável fechar os olhos para a discussão desses cenários.
Estudos de abrangência global, elaborados por instituições que pensam o futuro, são importantes para subsidiar o Pensar Estratégico. Seguem alguns deles:
No âmbito nacional é importante reservar atenção às novas regulamentações: regras para o setor de energia, regras para o agronegócio, marco regulatório para fundos de investimento, real digital, dentre outros. Há muita mudança, muita incerteza e muitos futuros a serem considerados.
Diante de tudo o que se discutiu, sem caráter exaustivo, evidencia-se a relevância da fidelidade dos conselhos ao Pensar Estratégico. Conselhos precisam voltar-se para o futuro, permanecendo vigilantes ao ambiente externo e seus impactos no ambiente interno.
Os conselhos bem avaliados são aqueles que trabalham com espírito de melhoria contínua, mantendo sempre em mente as estratégias de longo prazo, como elemento que fortalece o modelo de negócio, traz sustentabilidade e, simultaneamente, mitiga os riscos de comprometimento em situações de crise.
Referências:
Impulsiono a comunicação do seu negócio | CEO
7 mLina, muito bom o conhecimento compartilhado 👏🏾
Conselheira | Empresária e Investidora | CGO | CIO | CTO | Inovação
1 aLina Salles você é brilhante... com suas ponderações colaborativas e agregadoras... você naturalmente é o PENSAR ESTRATÉGICO. Parabéns... e continuamos juntas nesta jornada.
Superintendente de TI (CIO)
1 aRicardo Ramos
Superintendente de TI (CIO)
1 aMuito bom Lina!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻