A filantropia no Brasil está se tornando mais grantmaker?
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A filantropia no Brasil está se tornando mais grantmaker?

Por Pamela Ribeiro*

Grantmaking é um termo em inglês que usamos para designar uma possível e desejável estratégia de atuação do campo da filantropia e do investimento social privado que envolve o repasse de recursos financeiros, de forma estruturada, para organizações ou iniciativas de interesse público, diferenciando-se, assim, da execução de projetos próprios. Financiar organizações da sociedade civil e movimentos sociais (entendendo aqui este financiamento como um sinônimo de doação) é fundamental para o fortalecimento do tecido social brasileiro e, por consequência, da democracia no nosso país. Por isso, a importância de se promover uma cultura de doação no campo do investimento social.

Historicamente, observamos no Brasil, um campo de investimento social mais executor de seus próprios projetos do que financiador de terceiros. Um resgate histórico de dez anos do Censo GIFE mostra oscilações na proporção dos montantes doados em relação aos investimentos sociais totais. Em 2020, o Censo GIFE registrou, pela primeira vez, o volume de recursos doados (47%) superior aos executados (42%). Foram R$2,5 bilhões doados a terceiros, sendo R$2 bilhões para iniciativas de enfrentamento aos efeitos da pandemia de Covid-19.

Este resultado, sem dúvidas, é digno de celebração já que mostra um campo de investimento social solidário e ágil na resposta a situações de emergência. Porém, não indica necessariamente um campo de investimento social mais grantmaker, na medida em que não sabemos o quanto desse volume de doações será incorporado às estratégias permanentes dos investidores sociais.

Outro dado do Censo GIFE, que talvez indique de forma mais precisa o quanto o campo de investimento social está adotando o grantmaking como uma estratégia de atuação mais perene é o número de investidores sociais essencialmente financiadores, ou seja, aqueles com mais de 90% do orçamento destinado à doação. Em 2020, apenas 16% dos respondentes foram classificados como essencialmente financiadores, praticamente o mesmo patamar de dez anos atrás (15% em 2011). E mais, houve uma queda de 7 pontos percentuais neste perfil de essencialmente financiador em relação a 2018, apesar do acentuado crescimento no volume de doações em razão da pandemia.

Portanto, apesar da mobilização extraordinária de recursos financeiros para o enfrentamento da pandemia de Covid-19 e do espaço que a agenda da doação ganhou dentro das empresas, institutos e fundações, os dados parecem mostrar que ainda temos um longo caminho para fortalecer o grantmaking no Brasil e torná-lo uma estratégia de atuação do campo da filantropia e do investimento social.

*Pamela Ribeiro é graduada em relações internacionais pela PUC-SP, mestre em administração de empresas pela FGV-SP e mestre em sustentabilidade, também pela FGV-SP.  É coordenadora de projetos especiais no GIFE e membro do comitê coordenador do Movimento por Uma Cultura de Doação.

#grantmaking #doações #investimentosocial #filantropia #gife

Ana Paula Garcia

Analista de Relações com Comunidades na Vale

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Podemos dizer que a destinação de recursos incentivados aproxima o invstimento social privado do grantmaking GIFE?

Luis Cláudio BONA

Engº Agrº Agroecologista, consultor para programas e projetos de desenvolvimento rural sustentável

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Excelente temática! Penso que qualificar o investimento social privado passe por identificar quais são as condições estruturais para se romper o ciclo de geração da pobreza em cada ambiente / território. Como comentou o Samuel, atender o que a comunidade precisa, porém com uma projeção de apoio estruturante, que identifica as etapas e prevê direcionamento estratégico dos investimentos em cada uma delas, com prazos compatíveis. Conheço cenários onde metas numéricas são perseguidas por doadores, com sobreposição e até certa disputa de espaço entre grantmakers, sem que o apoio tenha um caráter estruturante, que atenda o imediato (segurança alimentar - SAN, geração de renda, etc), mas com ações voltadas para o empoderamento local, fortalecendo autonomias (no plural mesmo!) e resiliência. Apoiar a formação estimulando a construção coletiva do conhecimento, muito além da terceirização de treinamentos ou capacitações operacionais, seja qual for o tema! É preciso fortalecer a organização local e territorial, para uma participação social qualificada nos espaços da disputa democrática por Políticas Públicas igualmente estruturantes. Investimento social privado pode até complementar, mas não deve ocultar o que é papel do Estado!

Samuel Simões Neto

Comunicação Socioambiental, Jornalismo e Causas

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Eu acho fundamental pensar nessa educação do campo de investimento social pra esse olhar mais atento ao seu ambiente... saber onde buscar, como acessar projetos que buscam financiamento e, principalmente, atender ao que a comunidade precisa – e já expressa de muitas formas. Conectar é preciso.

Angelina Carvalho

Assistente Social | Professora em Perícia Social Forense| Especialista em Serviço Social Forense -ISSSP| Escritora | Coordenadora Editorial | Projetos Editoriais | Brasil | Portugal | Espanha | Chile

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Muito interessante!

Bia Ribeiro

Proprietária Biá Planejamento e Comunicação

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Pamela, para mim sempre fez mais sentido fortalecer bons projetos, seja com doação financeira seja com doação intelectual do que criar os próprios. Acredito que essa fragmentação torna o caminhar mais lento, e traz um pouquinho da competição da qual precisamos nos descolar. Adorei sua análise.

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