A filosofia lean na logística outbound
A filosofia lean pode ser aplicada em diversas áreas dentro de uma empresa e é comum escutarmos sobre implementações e ferramentas dentro da fábrica, no local onde os produtos são de fato processados. Mas o lean pode se expandir nas pontas da cadeia, trabalhando desde o recebimento de materiais e o relacionamento com fornecedores, até a entrega de produtos acabados para o cliente. É atuando na logística externa que os conceitos lean se expandem pela fábrica e trazem ainda mais benefícios para toda a cadeia. Neste texto veremos um pouco sobre a entrega dos produtos acabados, o outbound.
Quando tratamos de outbound devemos ter em mente todo o processo entre o fim da manufatura e estar disponível para venda para o cliente final.
Mas para entender melhor isso, vamos começar pelo processo de distribuição dos produtos para os clientes:
Inicialmente, vamos considerar três situações distintas de fluxo de produto acabado da fábrica até o cliente.
Situação 1: O cliente pede o produto diretamente para a fábrica, que o produz e o envia, o qual segue em fluxo pelos diferentes nós da cadeia logística até o cliente.
Situação 2: O cliente realiza um pedido, o qual é atendido pelo centro de distribuição (CDD) mais próximo. O CDD, por sua vez, pede o produto para o centro de distribuição regional - anterior a ele na cadeia logística - afim de repor o produto que foi consumido para atender à demanda do cliente. Essa situação segue até que o pedido chegue na fábrica e a reposição seja completa ao longo dos nós da cadeia logística.
Situação 3: a fábrica produz os bens os envia para o próximo nó da cadeia logística sem a solicitação do cliente, com base apenas em previsões. Esse nó, por sua vez, envia o produto para o próximo na cadeia logística, também conforme suas previsões, e assim sucessivamente até o ponto de distribuição para o cliente final.
Em todas as situações podemos enxergar a cadeia logística como uma linha de produção: cada nó representa um processo, o qual deve entregar seus produtos para seu cliente interno.
Figura 1 - Nós da cadeia logística - Outbound
- Na situação 1, a cadeia logística comporta-se como uma linha em fluxo contínuo, em que o pedido é enviado para o ponto de programação, a fábrica, a qual assume o papel de pacemaker da cadeia logística. A partir dela o produto segue em fluxo entre os diferentes nós da cadeia logística até chegar no cliente.
- Na situação 2, toda a cadeia logística funciona com puxadas de produção consecutivas. Cada centro de distribuição comporta-se como um supermercado que aguarda um pedido de retirada e, após liberar um produto, envia um pedido de reposição para o processo, no caso centro de distribuição, anterior.
- Na situação 3 o produto é enviado para o próximo nó da cadeia sem ser solicitado. Nesse caso conseguimos identificar uma linha empurrada e a cadeia logística não respeita as necessidades reais do cliente.
Quando tratamos de um gerenciamento lean da cadeia de valor a situação 3 deve ser evitada, pois o sistema empurrado de produção, além dos altos níveis de estoque, não absorve as possíveis variações de demanda, resultando em fenômenos como o efeito chicote, por exemplo. Já as situações 1 e 2 podem ser utilizadas, tanto sozinhas como combinadas. É importante lembrar que o fluxo contínuo sempre é desejável, mas em diversas situações, pela variabilidade da cadeia logística ou distância entre seus pontos estratégicos, por exemplo, o uso de puxadas através de um sistema semelhante ao supermercado torna-se necessário para garantir a estabilidade na distribuição dos produtos.
Agora que já sabemos como acontece a distribuição de produtos, fica a pergunta: como é feita a programação dessa distribuição?
Para isso, podemos iniciar estudando a programação da produção na logística interna:
Na logística interna os pedidos de clientes são programados em diferentes horizontes de planejamento, que podem variar conforme o tipo de produto e a metodologia de produção da empresa. Imagine: uma empresa que programa os pedidos recebidos distribuindo-os entre os dias do mês conforme a capacidade da linha, através de uma caixa logística. Os pedidos de cada dia são então planejados por hora, através de uma caixa de nivelamento da produção. Por fim os pedidos do horário são repassados para a linha em um sequenciador que garante a entrega de produtos conforme a sequência planejada.
Figura 2 - Fluxo da programação da produção na logística interna
De maneira similar, na logística externa: programa-se a distribuição de produtos em diferentes níveis de planejamento. A caixa logística, como primeiro ponto de programação, planeja, por exemplo, o envio de vários pedidos para o centro de distribuição do estado de Santa Catarina. A caixa de nivelamento, por sua vez, planeja no CD do estado a distribuição dos produtos entre as diferentes regiões: oeste, sul, litoral… Por fim o sequenciador realiza a última divisão, separando os pedidos nos caminhões de entrega para cada um dos clientes finais.
É válido ressaltar que o fluxo do pedido é inverso ao fluxo de produto acabado. São as pontas finais da cadeia logística que recebem o pedido do consumidor e o enviam para os nós iniciais da mesma.
Figura 3 - Fluxo da programação da distribuição na logística externa
E como ocorre o fluxo de Informações da demanda?
O planejamento da distribuição de produtos deve levar em consideração a variabilidade da demanda. Na logística externa é comum analisar a demanda agrupada de uma região. Assim, as variações nas diferentes pontas da cadeia compensam seu valor entre si, reduzindo a variabilidade e tornando a previsão muito mais confiável. Ganha-se também em estabilidade para os centros de distribuição mais próximos da ponta inicial da cadeia, uma vez que a demanda de uma região é mais constante que a de uma loja apenas.
Além da variabilidade, outro ponto a ser evitado é o efeito chicote. Este efeito amplifica as quantidades pedidas ao longo da cadeia, do cliente final até o produtor, levando a empresa a produzir (e posteriormente manusear, estocar e transportar) produtos que não foram solicitados efetivamente pelo consumidor.
Dentro de uma empresa lean a produção em excesso é um grande desperdício a ser evitado, buscando-se produzir sempre apenas o que o cliente solicita efetivamente. O efeito chicote da logística externa pode ser evitado através da rápida e constante passagem de informação, principalmente da demanda final, entre os elos da cadeia logística. Assim, os diferentes nós da cadeia sabem o que realmente está sendo consumido pelo cliente final. Da mesma forma, em uma linha de produção a troca de informação mais rápida e constante entre os processos é desejada para se obter maior estabilidade dentro da fábrica.
Portanto, a filosofia lean pode ser usada para solucionar problemas e otimizar resultados tanto na fábrica como na cadeia logística, eliminando desperdícios e agregando valor para o cliente.
Qualquer dúvida, o Grupo de Estudos em Lean (GLean) da Universidade Federal de Santa Catarina está à disposição para solucioná-las! Acesse nossos LinkedIn, Facebook e continue nos acompanhando com conteúdos semanais!
Autores: Augusto Lira, Bruno Lopes, Caroline Gibim, Débora Dal Farra,Henrique Tittoto, Mayara Garcia, Sérgio Mafra e William Inouye.
Diretor | Gerente Executivo Vendas & Relacionamento
8 aGostei.
Logística - Transporte - Área de Projetos - Área de Operações.
8 a👍👍👏👏
Profissional Senior da Área de Suprimentos
8 aMuito bom.
Gerente Produto PicPay | Coordenadora Comitê Open Finance ABFintechs
8 aParabéns William e ao GLEAN, os posts estão cada vez melhores!!