Filosofia, Mito, Lenda e Utopia
Uma Rápida História
A palavra filosofia é grega, sendo composta por duas outras: Philo que deriva de philia, e significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais, e Sophia que quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.
Filosofia significa, portanto, apreço pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Filosofo é o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim a filosofia indica um estado de espírito: o da pessoa que ama, ou deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
Pitágoras de Samos teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem deseja-la ou amá-la, tornando-se filósofos.
“Quem quiser ser filosofo necessitará infantilizar-se, transformar-se em menino”. (M. Garcia Morente, letrado escritor espanhol ).
Não se sabe ao certo se a Filosofia tem mais ou menos 2600 ou 5000 anos de tradição. Se considerarmos a influência do pensamento egípcio sobre os povos gregos, a Filosofia pode ter mais de 3000 anos e, se considerarmos que já havia a produção de um tipo de pensamento filosófico no Extremo Oriente, a raiz primeira da Filosofia que pode ser identificada nos antigos ensinamentos budistas já passa dos 5.000 anos de existência.
É um fato que a Filosofia é uma forma de pensamento organizado, conceitual e que tem a capacidade de movimentar o próprio pensamento por meio da identificação e da formulação de questões, ou seja, a Filosofia é, por natureza, polemica, evitando fornecer respostas prontas para as questões levantadas e criando novas questões, novas perguntas e novas interrogações que fazem com que o pensamento nunca cesse so eu ciclo de funcionamento.
Não importando, por ora, a sua origem certa, o importante é saber que não há uma resposta única e definitiva para a pergunta “o que é filosofia?”. Diversos filósofos, em diversos locais e épocas diferentes, responderam a essa pergunta, não necessariamente de uma maneira explícita. Muitos o fizeram por meio da prática (fazendo as suas filosofias), cada qual do seu modo.
Para os gregos pré-socráticos, a Filosofia era uma maneira racional de se investigar a origem de tudo no universo por meio da formulação de teorias contrárias, muitas vezes, às afirmações dos mitos. Para Sócrates, a Filosofia seria um olhar para dentro de si e uma forma de extrair as ideias verdadeiras sobre aquilo que o próprio ser humano desenvolveu mediante a criação das sociedades.
Para os helenistas, a Filosofia era uma espécie de prática de vida para alcançar a plenitude e a felicidade. Para os medievais, a Filosofia estaria submetida à Teologia, e a sabedoria infinita de Deus teria dado ao ser humano a possibilidade do conhecimento racional.
Já os modernos voltaram-se para a questão do conhecimento e da ciência, além da política e da ética, desenvolvendo um pensamento que resgatava certas características dos gregos, mas as aprimorava. Na contemporaneidade, a Filosofia abraçou novos problemas, característicos de nossa época, para desenvolver novas respostas e novos conceitos sobre elas.
Grécia Antiga
A Grécia
A Grécia localiza-se na Europa, numa região chamada Península Balcânica, banhada a Sul pelo Mar Mediterrâneo e abraçand os Mares Egeu, Jónico e de Creta. O litoral, muito recortado, facilitou o comercio externo e o contato com outras culturas.
A civilização grega originou-se em sucessivas invasões e pelo estabelecimento ali de quatro povos indo-europeus, que vindos da Ásia Menor e dispondo de armas de bronze e ferro, dominaram os povos locais. Esses invasores, os aqueus, jônios, eólios e dórios, ao fundirem-se com os nativos, originaram os gregos, tal como os conhecemos.
As comunidades iniciais organizaram-se em clãs patriarcais, denominados genos. numa sociedade que unia pessoas e bens, onde a terra era coletiva e, tudo o que o grupo necessitava para sobreviver pertencia a todos.
Mas com o passar do tempo, a população foi aumentando e a propriedade coletiva deu lugar á propriedade privada, a sociedade passou a se constituir em classes, sendo que os proprietários das terras se tornaram fazendeiros e os chefes das comunidades tornaram-se reis, com amplos poderes.
Surgiram mais tarde as cidades-estado que formaram a Grécia e outras civilizações conhecidas da Antiguidade, nesta região.
O Nascimento da Filosofia
Como resultado da ânsia na busca do conhecimento, nasceu a filosofia grega antiga por volta do século VI a.C. nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. e continuou durante todo o período helenístico e mesmo no período em que a Grécia e a maioria das terras habitadas por gregos fizeram parte do Império Romano. Nessa altura, a Grécia era um lugar em que muitas culturas se encontravam, pelo que recebia influências de diversas partes do mundo, modificando pensamentos, opiniões e crenças, e levando os indivíduos a refletir sobre tudo à sua volta e suas condições de vida, de forma crítica. As crenças mantidas, relacionadas com a mitologia e comando dos deuses sobre os homens a partir das suas vontades, foram sendo ultrapassadas pelo desejo de encontrar uma verdade mais concludente.
O termo filosofia (amor pela sabedoria), é tradicionalmente creditado a Pitágoras que foi a primeira pessoa no mundo a se declarar filósofo. Ele criou a expressão afirmando que a sabedoria plena era cabida apenas aos deuses, mas aos seres humanos cabia o amor pelo conhecimento e os homens, poderiam apreciar a sabedoria através da filosofia. O primeiro filosofo, foi Tales de Mileto e a filosofia foi usada para aumentar o conhecimento do mundo de uma maneira não religiosa. Cobria uma ampla variedade de assuntos, incluindo astronomia, matemática, filosofia política, ética, metafísica, ontologia, lógica, biologia, retórica e estética, sendo tratada como uma cosmologia, palavra composta por cosmos que significa mundo ordenado e organizado; e logia da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento.
Os padres da Igreja Cristã, ao tentarem demonstrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos, não sendo superstição nem primitivos ou incultos, apresentavam os filósofos gregos como filiados a correntes de pensamento místico e oriental, o que os colocava numa linha próxima do cristianismo, que é uma religião oriental.
No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”. Muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar em filosofia como sendo o “milagre grego”.
Com a palavra “milagre” queriam dizer varias coisas:
• Que a filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse;
• Que a filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio de um milagre;
• Que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante, nem antes nem depois, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a filosofia, como foram os únicos a criar as ciências e a dar ás artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem antes nem depois deles.
Já verificamos que a busca do conhecimento foi comum em muitas civilizações mas a filosofia grega foi a que mais influenciou a cultura ocidental desde a sua criação e por essa razão é considerada como a base de trabalho de todos os filósofos. Alfred North Whitehead observou que "A caracterização geral mais segura da tradição filosófica europeia é que ela consiste em uma série de notas de rodapé para Platão". Linhas de influência claras e ininterruptas levam desde os antigos filósofos gregos e helenistas até a filosofia islâmica primitiva, o escolasticismo medieval, o renascimento europeu e a era do Iluminismo. A tradição filosófica subsequente foi tão influenciada por Sócrates como apresentada por Platão pelo que é convencional referir-se à filosofia desenvolvida antes de Sócrates como filosofia pré-socrática. Os períodos seguintes, até e após as guerras de Alexandre, o Grande, são os da filosofia "grega clássica" e "helenística".
O acordo de nomear os filósofos que estavam ativos antes da morte de Sócrates como os pré-socráticos ganhou força com a publicação em 1903 do Fragmente der Vorsokratiker, de Hermann Diels. Embora o termo não se originasse com ele, foi considerado útil porque o que passou a ser conhecido como a "escola ateniense" (composta por Sócrates, Platão e Aristóteles) assinalou o surgimento de uma nova abordagem da filosofia; A tese de Friedrich Nietzsche de que essa mudança começou com Platão e não com Sócrates (daí sua nomenclatura de "filosofia pré-platônica") não impediu a predominância da distinção "pré-socrática".
Os pré-socráticos estavam preocupados principalmente com cosmologia, ontologia e matemática e foram distinguidos como "não-filósofos" na medida em que rejeitaram explicações mitológicas em favor do discurso fundamentado
A Filosofia Grega
Que respostas buscavam os primeiros filósofos?
Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra arvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer à noite, o inverno parece fazer surgir à primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo.
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até ressecar-se e retorcer-se no inverno.
Por que a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da música que antes me embalava, agora que estou doente, parece um ruído insuportável?
Por que as coisas se tornam opostas ao que eram?
Á água do copo, tão transparente e de boa temperatura, torna-se uma barra dura e gelada, deixa de ser liquida e transparente para tornar-se sólida e acinzentada.
Mas, também, por que tudo parece repetir-se?
Depois do dia, a noite; depois da noite, o dia.
Depois do inverno, a primavera, depois da primavera, o verão, depois deste, o outono e depois deste, novamente o inverno.
De dia, o sol; à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, o mar é tranquilo e propicio á navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. O calor leva as águas para o céu e as traz de volta pelas chuvas.
Ninguém nasce adulto ou velho, mas sempre criança, que se torna adulto e velho.
A religião, as tradições e os mitos davam a sua explicação para essas coisas, explicações que já não satisfaziam os que se interrogavam sobre as causas da mudança, e queriam respostas mais coerentes sobre o mundo que os cercava.
O Mito e a Filosofia
A palavra mito originou-se no grego, mythos, e deriva dos verbos: mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). O mito surgiu de povos gregos antigos, como narrativas para explicar fenômenos da natureza de difícil compreensão, sendo geralmente utilizado para explicar a origem de acontecimentos. Já a filosofia é o estudo e reflexão de questões relacionadas à existência humana e reflete sobre o conhecimento, valores morais e estéticos, pensamento e linguagem. Ao contrário do mito, que tem as suas explicações baseadas na crença, a filosofia é um conhecimento metódico apoiado na razão e na lógica.
O conceito de mito é embasado na ideia de que os antigos gregos criavam narrativas para explicar acontecimentos e fenômenos da natureza que não podiam entender.
Mas é importante citar que um mito, em alguns casos, pode ter um fundo de verdade, assentado em um acontecimento real ou nas relações dos indivíduos com o mundo.
Por não terem a lógica como fundamento, os mitos assumem um caráter fantástico (fantasioso), embora no entanto, um mito não signifique um “conto de fadas”, pois comporta em si uma tentativa de explicação de fenômenos relacionados à existência humana.
Os mitos buscavam dar sentido às coisas numa época em que não havia outra forma de explicá-las, sendo portanto, algo mais que uma simples narrativa ficcional.
Nas civilizações tradicionais daquele tempo, imbuídas de uma consciência mítica, não havia a mesma relação e divisão usada nos dias atuais para o que é natural e sobrenatural, pelo que as duas concepções se misturavam nas explicações de acontecimentos e na leitura do mundo ao redor.
É comum que a palavra "mito" seja utilizada como sinônimo de lenda, embora um mito seja uma forma de referir acontecimentos repletos de simbolismo e importância para determinado grupo de pessoas, enquanto a lenda é criada na cultura popular para citar personagens ou fatos hipotéticos.
Exemplos de mitos
Os mitos mais famosos surgiram na Antiguidade Grega quando os deuses eram utilizados para vivificar diversos aspectos da vida e do planeta, como se pode antever nos mais conhecidos:
A Caixa de Pandora
Pandora abre uma caixa e liberta todos os males sobre a Terra
Na história, a personagem Pandora tinha ganho do pai dos deuses, uma caixa que não poderia ser aberta, mas movida pela sua curiosidade, Pandora abre a caixa e liberta no mundo, todos os males que ela continha: doenças, guerras, velhice, ódio, e crime, entre outros. Arrependida, Pandora fecha a caixa, mas tarde demais, deixando no fundo algo que não saíra por ser pequeno: a esperança.
Era em princípio uma explicação e a moral da história é que, apesar de todos os males, a esperança por menor que seja sempre fica no coração, como sinal de que tudo pode sempre mudar. Algo pode ser feito para ajudar aqueles corrompidos pelos revezes saídos da caixa.
Os 12 trabalhos de Hércules
Hércules luta contra o Leão de Neméia
O filho de Zeus com uma mortal, desencadeou um ciúme doentio em Hera, a esposa do deus dos deuses e ela, deusa dos casamentos, da maternidade e das esposas, passou a perseguir o semideus de forma ferrenha.
Em um dos episódios em que Hércules perde a cabeça por causa de Hera, o herói acaba por matar a própria esposa e os filhos. Para se redimir deste feito terrível, Hércules é forçado a realizar 12 trabalhos.
· Matar o maior leão do mundo, o Leão de Nemeia;
· Matar a monstruosa Hidra de Lerna;
· Capturar a Corça de Cerineia;
· Capturar o Javali de Erimanto vivo;
· Limpar em um dia os currais do Rei Aúgias;
· Matar e expulsar monstros do Lago Estínfalo;
· Levar o Touro de Creta vivo ao Rei Euristeu;
· Castigar Diómedes, o Rei da Trácia;
· Vencer as amazonas e vestir o cinto da Rainha Hipólita;
· Matar o monstro gigante Gerião;
· Colher os pomos de ouro do Jardim das Hespérides;
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· Trazer à Terra o guardião do mundo dos mortos, Cérbero.
Aqui a tentativa de explicação, pode ser que, quando se perde a cabeça e se age mal, podem nascer muitas outras preocupações e desgostos que se não vencidos, por sua vez, serão a derrota total e definitiva.
Outro mito grego muito conhecido é a história de Prometeu, que roubou o fogo de Zeus para dar aos humanos.
Esta versão, tipo Robin Hood, tentaria explicar que mesmo bons atos não devem ser baseados em ações imorais. Os Mitos procuravam assim ser educativos, dentro do conhecimento existente, e estes exemplos de mitos antigos são até hoje contados ao redor do mundo. Mas mitos recentes podem surgir, baseados em acontecimentos históricos ou que carreguem simbolismo suficiente para que ganhem a forma de mito, visto que este é um tipo de narrativa simbólica, que tem a intenção de explicar acontecimentos, através de metáforas e simbolismos, transmitindo mensagens educativas.
Sem querer entrar em exageros, gostaria de citar que o famoso Poema de Homero “Odisseia”, já pode ter entrado no campo das lendas para muitas pessoas, devido às muitas citações do seu texto.
“Odisseu é cativo da bela ninfa Calipso, com quem le passou sete dos dez anos em que esteve perdido. Após ser libertado pela intercessão de sua padroeira, a deusa Atena, ele parte. Porém, a sua jangada é destruída por Posídon, furioso por Odisseu ter cegado o seu filho, Polifemo. Quando Odisseu alcança a praia de Esquéria, lar dos feácios, é auxiliado pela jovem Nausícaa, de quem recebe hospitalidade; em troca, satisfaz a curiosidade dos feácios, narrando a eles - e ao leitor - as suas aventuras desde a partida de Troia. Os feácios, hábeis construtores de navios, emprestam-lhe uma embarcação para que ele regresse a Ítaca, onde recebe a ajuda do pastor de porcos Eumeu, se encontra com Telêmaco e reconquista o seu lar, reencontrando a sua esposa, Penélope e matando os seus pretendentes”.
Os mitos podem utilizar personagens inventados, entidades sobrenaturais como divindades e semideuses, ou outros elementos fantásticos e os temas costumam ocorrer fora das linhas de tempo convencionais.
Ao longo da história, os mitos foram usados para explicar fenômenos aparentemente inexplicáveis ou certos costumes de uma população, sendo por esta considerados sagrados e reais, muitas vezes reafirmados por líderes e governantes religiosos, tornando comum que antigos mitos tenham sido aceitos como fatos, como no caso de deuses gregos e romanos. Com o tempo porém, a razão e a ciência forçaram a queda dessas narrações, que passaram a ser vistas apenas como histórias míticas.
As mitologias existiram em várias culturas, sendo mais conhecidas a greco-romana, a nórdica, e a chinesa, entre todas.
E o que são lendas?
Em síntese, as lendas são narrativas contadas de geração em geração e possuem a característica de se moldar conforme o tempo, aumentando os detalhes aos quais a cultura e a tradição popular acrescentam descrições mais caprichadas.
Também temos as nossas, com exemplos do folclore brasileiro e figuras fantásticas como o Saci Pererê, o Curupira, o Boitatá, entre muitos outros. E um mito contemporâneo comum, de que os gatos pretos trazem má sorte, o que não tem nenhuma evidência real.
E como surgiram as lendas?
Lenda é uma palavra que vem do latim e significa “o que deve ser lido”. No passado, o termo era relacionado a histórias de santos. Porém, foram adquirindo características específicas até se tornarem o que são hoje, as lendas narram fatos ou acontecimentos moldados pela cultura e a tradição popular.
Cada região do Brasil possui lendas diferentes que contam histórias e aspectos singulares da sabedoria popular. Elas são relatos que incluem fatos históricos mesclados com fantasia, explicam situações que normalmente, não podem ser explicadas cientificamente, e são narrativas que viajam com o tempo e adquirem mais detalhes a cada geração que as repete. Incluem medos, dúvidas e questões incompreendidas, regadas por muita imaginação. São, além disso, classificadas como folclóricas e urbanas.
Lenda x Mito
Em suma, a lenda e o mito são facilmente confundidos, e muita gente pensa neles como sinônimos. Porém, as duas nominações possuem significados diferentes, apesar de ambas explicarem situações que a ciência não pretende abraçar.
Quando falamos sobre a origem dos deuses na história dos homens, por exemplo, estamos nos referindo ao mito. São relatos que utilizam da simbologia, de deuses e heróis para compor as explicações sobre questões incompreendidas. Além disso, o mito utiliza tambémvalores e histórias sacras para compor aparentes realidades.
A lenda é uma narrativa fantasiosa da cultura popular passada de geração em geração, que carrega aspectos baseados em fatos históricos e reais em mistura com fatos produzidos pela imaginação. As lendas são histórias que podem incluir elementos fantásticos ou sobre-humanos, deixando presumir que tenham base em fatos memoráveiss ou pessoas e eventos reais.
Um fato relevante se transforma em lenda quando a verdade é exagerada, dando características especiais às pessoas ou fantasiando os acontecimentos, como citámos no caso de Ulisses. Nelas, as figuras celebradas podem ter qualidades sobre-humanas ou extraordinárias, ou eventos reais podem incorporar elementos falsos, como um sábio ou cartomante avisando um herói sobre eventos futuros.
As lendas com alguma base na verdade, podem ser colocadas em um contexto histórico.
Um exemplo clássico desse tipo de lenda são os relatos sobre Robin Hood. um fora-da-lei conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres que teria vivido na Inglaterra durante o século XII.
Outro exemplo são os episódios do Rei Arthur, baseados num líder britânico cuja existência, no entanto, ainda é tema de debate entre os historiadores.
Evidências sobre mitos são difíceis de encontrar. Como os mitos tendem a incluir elementos sobrenaturais em um passado muito antigo, não há provas objetivas ou confirmações de que o evento tenha acontecido.
Já as lendas são relatos baseados em pessoas ou eventos conhecidos, podendo portanto ser colocadas numa linha do tempo real. Elas podem ser verificadas até certo ponto, mas costumam ter elementos que não facilitam a comprovação.
Recapitulando: Como chegámos à filosofia?
Do mito ao saber filosófico foi um longo caminho. É um ramo de estudo que procura compreender aspectos fundamentais da existência humana, mas por ter uma abordagem racional dos assuntos que debate, é distinta de ramos como a mitologia e a religião, sendo questionada no ambiente científico por não aceitar métodos empíricos. Ou seja, não é derivada de dados concretos de uma experiência, mas de argumentos sensoriais.
Porém, a filosofia é extremamente importante para o desenvolvimento de métodos utilizados em teorias, projetos educacionais e instituições científicas, porque questiona e analisa racionalmente o conhecimento humano.
Por estar presente em praticamente todas as áreas de conhecimento, e no conhecimento em si, o estudo da filosofia é dividido entre vários segmentos, dos quais se destacam:
A metafísica; A lógica; A ética; A política; A estética; A teoria do conhecimento; A filosofia da mente; A filosofia de ciências naturais e sociais; A fenomenologia; A filosofia da linguagem; A filosofia da física; A filosofia da matemática; A filosofia da religião.
Apesar de não contar necessariamente com uma metodologia empírica, é crucial para o desenvolvimento de teorias e metodologias do conhecimento, pois o reflete de forma racional, unindo valores morais e estéticos, a mente humana, a verdade, a linguagem e o universo como um todo..
Quais as diferenças entre a filosofia e o mito?
1. O mito pretendia narrar as coisas como eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e fabuloso. A filosofia se preocupava em explicar o como e o porquê, no passado, no presente e no futuro possível (na totalidade do tempo, as coisas são como são).
2. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia ao contrário, explica a evolução das coisas por elementos e causas naturais e impessoais.
O mito fala em Urano, Ponto e Gaia; a filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos quatro elementos – água, terra, fogo e ar, ou úmido, seco, quente e frio.
3. O mito não se detinha com contradições, entre o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador que, no fundo, só transmitia o inerente à sua cuktura,.
A filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e incompreensão, e exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filosofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
Condições históricas para o surgimento da Filosofia
Podemos apontar como condições históricas para o surgimento da filosofia na Grécia:
• As viagens marítimas – que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos.
As viagens produziram neles o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;
• A invenção da política – que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia:
1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas.
2. O surgimento de um espaço publico que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito.
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos
As principais características da Filosofia ao Nascer
O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como atrações principais :
• Tendência á racionalidade, ou seja, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, é o critério da explicação de alguma coisa;
• Tendência a oferecer respostas conclusivas, após analise, critica e discussão, nunca sendo aceita a demonstração, como uma verdade, se não for provado racionalmente que está correta;
• Exigência de que o pensamento apresente suas regras de fundamentos. Filosofo é aquele que justifica assuas ideias mostrando que segue regras universais do pensamento. Para os gregos, era uma lei universal do pensamento “que a contradição indica erro ou falsidade”
• Recusa de explicações preestabelecidas e portanto, exigência de que, para cada questão, seja encontrada a solução própria por ele exigida;
• Tendência à generalização, mostrando que uma explicação pode ter validade para coisas aparentemente diferentes porque, sob a variação percebida pelos nossos sentidos, o pensamento descobre semelhanças e identidades.
Por exemplo, para nossos olhos, nosso tato e nosso olfato, o gelo é diferente da neblina, que é diferente do vapor de uma chaleira, que é diferente da chuva, que é diferente da correnteza de um rio. No entanto, o pensamento mostra que se trata sempre de um mesmo elemento (a água), passando por diferentes estados e formas (liquido, sólido, gasoso), por causas naturais diferentes (condensação, liquefação, evaporação). Separando as diferenças, o pensamento realiza, uma análise e dela retira as conclusões inerentes.
Utopia
Uma forma de Utopia é a emancipação social nas suas mais variadas formas, visando a liberdade e a transformação positiva da sociedade.
Segundo Thomas Morus (Thomas More, Thomas Morus ou Tomás Moro foi filósofo, homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de "Lord Chancellor" de Henrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento) o termo utopia foi forjado a partir das palavras Gregas “Ou e Topos” que significa “um bom lugar”. A palavra foi criada a partir da justaposição dos termos gregos antigos "οὐ" (prefixo de negação) e "τόπος" (lugar), significando o "não lugar" ou "lugar que não existe".
É um termo inventado por Thomas More e serviu de título para sua principal obra, escrita em latim por volta de 1516. O livro é um projeto humanista de transformação social e representa aspectos capitais do humanismo renascentista. Segundo a versão de vários historiadores, More se fascinou pelas narrações extraordinárias do navegador português Rafael Hitlodeu, que navegara com Américo Vespúcio nas suas últimas viagens e ficara no litoral da América enquanto Vespúcio regressava à Europa. Aí, conhecera múltiplas regiões e visitara uma ilha cuja situação geográfica Rafael não mencionou. O encontro com Thomas More é mediado por Pedro Gilles e dá-se em Antuérpia, onde More se encontra de passagem.
Usava-se “utopia” como forma de apresentar algo que por ser tão ideal ou tão acima do possível se tornava inatingível. Mas há que ter em conta que o pensamento utópico pretende apurar uma racionalidade política, por um lado, e por outro, alimenta-se da imaginação, da fantasia, da fuga para um mundo irreal. A utopia é uma espécie de jogo entre um real que se rejeita e um ideal que se espera e deseja.
A busca de um lugar ideal com uma sociedade igualitária, permaneceu por vários séculos.
A partir do final do século XVII, esta palavra adquiriu um sentido depreciativo que se mantém ainda hoje. Segundo o dicionário Michaelis, Utopia é o que, por estar fora da realidade, não foi nem poderá ser realizado. Morus retoma a ideia apresentada na filosofia Grega Clássica de busca do Estado ideal, aprofundada na “República” de Platão e inaugura o ciclo dos textos ficcionais em que se destaca T. Capanella (1602) com a obra “Cidade do sol”.
No decorrer do século XIX, vários autores apresentaram versões obsessivamente técnicas de cidades utópicas, usando o pensamento utópico como denúncia à degradação da sociedade.
Depois da I Guerra mundial o “utopismo” continuou sendo tratado em obras de ficção científica que em nada se aproximavam das publicadas nos dois séculos precedentes.
È possível estabelecer uma razão entre utopia e corrente de pensamento, pois o processo civilizatório é entendido como processo da liberdade e consciência da mesma.
Na “antiutopia” apresenta-se o universo sob múltiplas formas, levando ao entendimento de que a essência humana e as suas realizações sociais são imutáveis, podendo ser completada, fruída, mas não mudada.
Para as “mil-utopias” a razão utópica estava associada à ação, ao questionamento do fato e do dado, onde a compreensão não era suficiente mas era necessária à realização do desejo.
A concretização de certas utopias foi lenta e parcial, pois houve muitas estagnações em seu percurso sendo considerada como uma coisa virtual. A antecipação criativa do conhecimento científico era uma verdadeira utopia, pois também visava à emancipação social. Impondo um novo padrão de tolerância e liberdade, buscando uma democracia representativa de onde se passasse à democracia participativa, obtendo avanços sobre a dominação e os privilégios detidos pela minoria. Foi surgindo um sentimento libertário e novas formas de mobilidade social e fraternal, mostrando que um novo mundo seria possível desde que se continuasse na luta pela sua concretização total.
Apesar de todo o negativismo que passou a acompanhar esta palavra, devemos considerar a utopia como um ideal positivo na tentativa de buscar melhores condições de vida favorecidas pelo topus ou pela sua perfeição. Na literatura a noção de utopia se faz presente em narrativas que sempre conduzem a mudanças na busca de um ideal.
Podemos encontrar um exemplo ideal no Pentateuco. O povo de Israel vivia sob o jugo do rei do Egito e Deus por intermédio de Moisés retirou os cativos e os guiou pelo deserto por 40 anos, até a terra prometida “Canaã”. Outro exemplo de topus ideal são as viagens realizadas durante o expansionismo europeu onde além do interesse econômico havia também o desejo de encontrar o paraíso perdido que eles idealizavam.
Há algum tempo atrás, muitos não acreditavam que um simples toque no teclado de computador poderia abrir um universo de informações.
Mas BUSH (1945) ainda na década de 40, apesar de não usar a palavra descreveu a ideia de hipertexto, explicando que nossa maneira natural de pensar e de considerar um assunto é por associação; captamos conecções entre as coisas e nossos pensamentos tomam a forma de redes; essa é a idéia original que está por trás do www.
No início dos anos 70 a evolução da Informática viabilizou um salto significativo na capacidade de transmitir informações; a rede começou a se tornar complexa, mas o hipertexto era e ainda é um adolescente, o homem no entanto, em sua insaciável busca da utopia criou e continua aperfeiçoando a cada dia as suas criações, pois enquanto existir humanidade existirá utopia, dado que o homem continua à procura de algo ideal, seja intelectual ou no plano espiritual. Muito do que era utopia há 50 anos está hoje realizado e tudo que é utopia hoje poderá, quem sabe, se realizar num futuro próximo.
Pode até ser, que este meu texto seja lido. Um abraço!