Fim do Empreendedorismo Não-Tecnológico
Não sei bem ao certo qual é a sua idade, nasci em 1986. Avião a jato, ligação telefônica internacional e computadores em rede já eram uma realidade. Comparado à hoje, era uma realidade bastante restrita porém não era mais um segredo.
Voltando ao passado, como estudamos na escola, a disputa pela colonização de terras foi intensa. O acirramento era tão grande que os colonizadores dividiram o planeta entre eles. Depois, descobrir novas terras não era mais um segredo, o mudo já havia sido descoberto. O importante passou a ser o trabalho nas colônias.
Dessa forma, o capitalismo foi se estruturando, evoluindo de uma forma extrativista para manufaturada, de manufaturada para industrializada e de industrializada para a informatizada. O modo de produção sempre jogou luzes sobre novos segredos.
Olhando para esse histórico, vemos que o sucesso dos negócios está muito ligado a descoberta de novos segredos. Quem descobre primeiro ganha de bandeja um monopólio. Só perde se não souber aproveitar. Em 1955, Ray Kroc descobriu um segredo: fazer hambúrgueres em linha de montagem. Com isso ele montou o McDonald's e manteve por décadas um monopólio.
Hoje, fazer hambúrgueres “fast food” deixou de ser um segredo, outros participantes entraram no negócio para dividir o “lanche” com o McDonald's. As empresas desse mercado disputam seus clientes em um nível tão acirrado que os sanduíches são praticamente iguais e de mesmo preço. Do contrário, a demanda encontra o produto do concorrente.
Depois do segredo ser revelado ele se torna acessível para o público. O mercado se enche de participantes e eles passam a lutar entre si. Quem entra, fica preso na ciranda da concorrência e perde a oportunidade para descobrir novos segredos.
Diferentemente do senso comum, mercados perfeitamente competitivos não são inovadores, eles andam de lado. A inovação antecede a concorrência e cria novos monopólios.
O próximo negócio de sucesso, certamente não será uma lanchonete “fast food”, esse segredo já foi revelado. Porém é possível que alguém descubra algum segredo que faça a lanchonete se tornar 10x melhor que os outros em algum atributo.
Um sanduíche “fast food” 10x mais saboroso que o BigMac e de mesmo preço, certamente engoliria o McDonald's e toda a concorrência. Porém, é difícil melhorar a qualidade dos produtos num nível tão avançado.
Dado que vivemos em um mundo com 5 mil anos de civilização descobrindo segredos, novos negócios baseados em segredos já revelados estão fadados a entrar na guerra da concorrência e no consequente estreitamento de margens. Porém, o impulso certo da tecnologia pode fazer antigos segredos ganhar aquele 10x que estabelece um novo monopólio.
Lembro do dia em que vi o primeiro anúncio do iFood. Minha primeira reação foi de descredito. Por quê vou usar um aplicativo para pedir sanduíche sendo que posso usar o meu telefone? Esse tipo de produto não se convence pela palavra e sim pela experiência. Fiz meu primeiro pedido pelo iFood. A experiência de compra foi fantástica. É, certamente, 10x melhor que pedir pelo telefone. Pronto, uma plataforma tecnológica foi o segredo revelado. Um novo monopólio se criou e um mercado surgiu.
Nesses anos, pude ver o quanto evoluíram os setores de transporte, telecomunicações e computação. Para quem não está imerso nessas áreas, fica muito distante perceber as oportunidades que seus avanços possibilitam. Para os empreendedores que querem um negócio de sucesso situado no mercado hoje e daqui a 20 anos, não há como não desenvolver uma plataforma tecnológica própria. No longo prazo, a tecnologia é a maneira mais fácil e barata de se alcançar a excelência mágica dos 10x. Qualquer negócio diferente disso, entrará num mercado abarrotado de participantes, viverá de migalhas e da luta diária do fluxo de caixa, cliente por cliente.
No limite, as plataformas tecnológicas se tornarão o driver das empresas, sendo que o produto físico será o detalhe final. Não acredito que no futuro a máquina substitua o homem. Pessoas competem entre si, não contra a máquina, o segredo será dar poder às pessoas através das tecnologias. Vejo um futuro em que todo o trabalho operacional será executado por pessoas capazes de desenvolver rotinas específicas de automação do volume de seu próprio trabalho. De usuários de tecnologias, os trabalhadores do futuro serão responsáveis por criar as suas tecnologias na escala da sua rotina de trabalho.
Sendo assim, arrisco dizer que em 2026 todos os negócios de sucesso serão empresas de tecnologia!