Financiamento de Projetos Científicos com Recursos Públicos: como fazer uma boa submissão.

Pequenos detalhes fazem uma grande diferença para a concessão ou não de um auxílio à pesquisa (seja ela acadêmica ou não) advindo de Agência Pública de Fomento à Pesquisa no país.

Muitos pesquisadores tem me perguntando por que seus estudos, por mais relevantes que sejam, não são financiados por Agências Públicas como CNPq, FINEP ou mesmo a FAPESP no Estado de SP, e minha experiência com gestão de projetos me leva a pensar em duas significativas hipóteses:

Primeira: no contexto atual todo país vivencia uma enorme contenção de gastos nas áreas que popularmente chamaríamos de “não emergenciais” ou que não fazem parte das necessidades básicas de uma população e aí se incluem o desenvolvimento tecnológico, descobertas científicas, inovação... enfim, temos uma lista considerável. Porém, muitos poderiam me questionar o fato de que alguns desses temas emergenciais (ou populares) como segurança, educação e saúde serem objetos de seus estudos e mesmo assim não são contemplados nos Editais ou avalições Ad-hoc. Meu ponto de vista é que nos últimos anos a escolha de propostas se dá mediante o poder de resolução desta para o problema que se propõe a responder no menor tempo possível, ou seja, estamos falando da aplicação concreta do conceito ou hipótese levantados e seu prazo de implementação. A sociedade quer respostas rápidas a problemas urgentes. Em workshop recente no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a saber, dia 9/2/2017 (http://cnpq.br/web/guest/noticiasviews/-/journal_content/56_INSTANCE_a6MO/10157/5630282) representantes do governo federal e das Fundações de Amparo à Pesquisa de todo país instituíram o Plano Nacional de Empreendedorismo Tecnológico e Inovação, em articulação com ações da iniciativa privada, a fim de iniciar uma estratégia de implantação de uma política nacional de empreendedorismo tecnológico. E, para minha grata surpresa, a tônica da discussão consistiu basicamente na proposta de mudanças urgentes na visão sobre ciência no país, reforçando que "a ciência aplicada brasileira não vai bem", porque converte pouco conhecimento em benefícios sociais. Ou seja, projetos pouco audaciosos e que não pretendem apresentar resultados a curto e médio prazo, aplicáveis à vida das pessoas e/ou nos processos de trabalho e produção poderão ficar de fora.

Segunda: uma submissão limpa, organizada e clara faz toda diferença para o parecerista, ou seja, uma boa proposta respeita ao pé da letra as normas de submissão da agência a que está concorrendo e leva em consideração todos os critérios de análise do pedido, ou seja, se a atualização do currículo do solicitante e da equipe de pesquisa é um dos critérios a ser analisado eles deverão estar impecáveis! Não basta atualizar as publicações e esquecer as orientações em andamento ou defendidas; não basta atualizar os projetos e esquecer as citações das bases de dados como Scopus ou Web of Science. Se estivermos lidando com fomento público então falamos de Lattes! Sei que muitos vão torcer o nariz, mas no momento esta é a única base nacional para cadastro da produção de um pesquisador no país e temos que respeitá-la (se quisermos que nossos projetos tenham financiamento público). Além do currículo, critérios como documentação e orçamentos devem ser extremamente claros, objetivos e justificados. Não é excesso criar um índice dos anexos e justificativas que serão inseridos no projeto a na parte de orçamentos, a fim de fundamentar a compra de um equipamento em detrimento de outro. Se eu estivesse analisando um pedido de auxílio, com certeza ficaria mais feliz ao ler uma proposta organizada e que justifica os itens solicitados. Consequentemente, esta teria maiores chances de obter um parecer favorável. Porque estou dando tanta ênfase à organização de uma proposta? Porque este é o meu trabalho. Eu organizo propostas e verifico tudo aquilo que poderia ser motivo para a negação da concessão, com base nos critérios de cada agência de fomento (porque elas se distinguem entre si). Não me refiro à metodologia, porque isto cabe ao pesquisador e equivale a 50% do peso de análise, mas ao planejamento e viabilidade do estudo dentro do cronograma proposto, do orçamento referido e dos documentos solicitados e encaminhados, e estes são os outros 50% do peso de análise. Após tantos anos lendo e relendo pareceres emitidos por assessores Ad-hoc de várias agências de fomento pude constatar que boa parte da negativa se deve à desorganização daquilo que o especialista recebeu para analisar. Talvez porque sou da área de Administração e Gestão em Saúde é que entendo tanto esse meu colega expert! Tenho empatia por sua irritação ao se deparar com propostas tão confusas e pouco elucidativas.

A proposta de pesquisa não deve somente se ater a dados científicos, mas mensurar indicadores qualitativos e quantitativos atualizados sobre a temática, bem como propor a otimização de todos os recursos financeiros solicitados no pedido.

O Gestor de Projetos Científicos deve estar preparado para avaliar estes critérios quando recebe uma proposta e, entre as suas atividades, inclui-se a submissão da mesma nas respectivas plataformas online, rastreamento da submissão (andamento e histórico), gestão dos recursos recebidos e prestação de contas. Trata-se de atividade extremamente relevante para o pesquisador, visto que esse é um grande vácuo na academia. Poucos pesquisadores tem habilidade com as plataformas e muitas vezes as questões normativas e administrativas das Agências de Pesquisa acabam por obstruir/inviabilizar a escolha pelo financiamento. Alguns pesquisadores chegam a desistir da submissão de um projeto nas Agências por considerá-las extremamente burocráticas. Mesmo aqueles que submetem, verbalizam a dificuldade em gerir os recursos outorgados e prestar contas do seu uso durante e ao final do projeto.

Assim, acredito que o diferencial do trabalho de um Gestor de Projetos está em deixar a cargo do pesquisador SOMENTE a pesquisa científica, suprindo o vácuo administrativo da academia e criando um fluxo de informação necessário para a boa gestão de projetos na sua Unidade.

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