Fintechs e o contra-ataque dos Bancos
Recentemente fui convidado por um executivo de um Banco de nicho, para uma "conversa" sobre Fintechs e oportunidades de expansão de negócios bancários.
Segundo o banqueiro, como tenho mais de 20 anos de mercado ocupando posições executivas em empresas dentro e fora do mercado financeiro, tendo participado da criação de diferentes tipos de negócios e com cases de sucesso em produtos, marketing e finanças, eu deveria ser o "consultor ideal" para ajuda-lo a entender o que parecia ser um contrassenso a tudo que ele havia vivido como banqueiro.
Se os Bancos Múltiplos tem um universo de produtos e serviços para seus clientes que supera a soma de todos os produtos e serviços oferecidos pelas Fintechs. Como as Fintechs que tem apenas um serviço ou produto, podem estar fazendo frente aos Bancos Múltiplos?
Para responder a esta pergunta é necessário uma visão holística do mercado financeiro brasileiro. O baixo índice de satisfação dos clientes da industria bancária abriu oportunidades para Fintechs, que criaram modelos de negócios baseados na simplificação de processos por meio da tecnologia. As Fintechs proporcionam aos usuários de serviços financeiros uma experiência agradável na contratação e utilização dos produtos e serviços, fazendo contraponto aos serviços burocráticos, com processos complexos e demorados das instituições tradicionais.
Com o impacto causado pelas Fintechs, os Bancos passaram a aderir ao modelo digital, utilizando as novas tecnologias para ampliar, melhorar seu atendimento e não perder clientes. O Banco Digital é mais que o internet banking, a ideia é criar modelos de negócios que apresentem soluções diferentes e inovadoras ao cliente, sempre que esse precise interagir com o Banco. O cliente consegue fazer todas as atividades que precisa, como abrir conta corrente, pagamentos, transferências, aplicações, contratar empréstimos e seguros, sempre utilizando a internet como ferramenta, ou seja, basicamente um Banco Digital é uma instituição online com ou sem agência física.
Então a adaptação dos Bancos Múltiplos tradicionais ao modelo digital e/ou o surgimento de Bancos Digitais são as respostas dos Bancos para conter o crescimento e avanço das Fintechs?
O setor financeiro está no epicentro de um grande processo de transformação. Fintechs oferecendo novas experiências para os consumidores, novos bancos digitais, bitcoin, criptomoedas e meios de pagamento inovadores. O fato é que esta transformação é mais profunda do que muitos imaginam e vai muito além da tecnologia, trata-se de uma mudança comportamental, de valores e da forma como os serviços e produtos são desenvolvidos. Nas Fintechs o propósito do negócio é quem dá a direção a ser seguida e não o lucro, o sistema tradicional de hierarquia dá lugar as redes participativas, o controle da informação é substituído pelo compartilhamento, os longos e intermináveis planejamentos são substituídos pela experimentação e a privacidade dá lugar a transparência. O processo de design thinking garante que os produtos e serviços são desenvolvidos para servir o cliente e não para servir-se dele.
O contra-ataque dos Bancos veio inicialmente pela criação de áreas apartadas dentro das organizações, com objetivo de dar enfase a inovação e ao desenvolvimento de modelos de negócios disruptivos, o que não provocou grandes resultados pois esbarrou na cultura e na antiga forma de pensar produto dos Bancos.
Para acompanhar de perto o mundo das Fintechs, passaram os Bancos a patrocinar grandes centros de empreendedorismo digital e assim ter acesso as novas iniciativas e tecnologias. O objetivo é avaliar Fintechs promissoras e/ou comprar participação nas mesmas, para não ser surpreendido em um futuro próximo. Estratégia amplamente utilizada pelos Bancos nos processos de fusões e aquisições.
Uma terceira via está sendo a abertura de empresas, baseadas em tecnologia e modelos de negócios disruptivos semelhantes as Fintechs, para fazer concorrência aos próprios Bancos. Nessas empresas o Banco é sócio capitalista, mas não participa da gestão da empresa.
Por diversos caminhos os Bancos estão contra-atacando, pois sempre é bom lembrar que "rendimentos passados não são garantia de lucros futuros".
Sou consultor com expertise em marketing, produtos e processos.
Eduardo Germano
Growth Mind Consultoria
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