Florianópolis: capital nacional das Startups?

Nesta semana, após projeto de lei aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente da República, Florianópolis recebeu o título de Capital Nacional das Startups. Certamente motivo de orgulho para todos e todas que, direta e indiretamente, contribuíram para este reconhecimento após quatro décadas de um esforço conjunto entre governo, empresas, academia e entidades locais. Esta vitória não surgiu do acaso; é resultado de um ambiente cuidadosamente construído para fomentar a inovação e o empreendedorismo. E é só mais um entre tantos outros reconhecimentos que este ambiente foi tendo, sobretudo nas últimas duas décadas. Neste período, inclusive, pude acompanhar este movimento de forma próxima, profissionalmente.

O DNA inovador de Florianópolis

Desde o início dos anos 60, com o surgimento da Universidade Federal de Santa Catarina na capital catarinense, Florianópolis foi construindo os alicerces do que viria a se tornar, nos anos 80, um polo tecnológico. A partir dos anos 2000 há um primeiro ciclo de empresas que ganhou protagonismo nacional, e algumas até internacional, fruto da maturidade que o polo conquistou com alguns atores como as incubadoras Celta, da Fundação CERTI , e MIDITEC, da ACATE - Associação Catarinense de Tecnologia e Sebrae Santa Catarina . Leis municipais de suporte ao setor, além de ambientes apropriados para o florescimento deste ambiente, como o ParqTec Alfa, o Sapiens Parque e outros espaços como Corporate Park, marcaram a primeira década deste século.

Mas foi em 2010 em diante, com o surgimento das primeiras empresas conceituadas como startups – e que nos anos seguintes se tornaram referências nacionais – contribuíram para este ciclo virtuoso. Programas de fomento como o StartupSC, do Sebrae-SC, aceleradoras como a Darwin Startups , verticais de negócios e grupos temáticos da ACATE, entre diversos outros movimentos, sofisticaram ainda mais o ambiente. O venture capital nacional, e até internacional, reforçaram seus portfólios de investidas com dezenas de empresas de tecnologia e muitas destas startups, além de, claro, algumas gestoras genuinamente catarinenses, como Invisto , Terracotta Ventures , ABSeed Ventures , Catarina Capital , entre outras. Uma atração orgânica e harmônica de grandes empresas nacionais e multinacionais para a cidade, com algumas delas adquirindo algumas daquelas primeiras startups, trouxe ainda mais relevância para este ambiente super dinâmico.

Parcerias que fazem a diferença

A colaboração entre as empresas locais e as principais entidades do setor, como a Fundação Certi e ACATE, foi fundamental para criar uma comunidade unida e forte. Projetos como o Link Lab conectam startups a grandes empresas, gerando oportunidades de negócio e inovação aberta. Além disso, eventos como o Startup Summit, do Sebrae Startups e ACATE, consolidaram a cidade como um ponto de encontro para empreendedores e investidores de todo o país.

Empresas que impulsionam a ilha

Florianópolis é hoje lar de centenas de startups que se destacam em diversos setores, desde tecnologia da informação até biotecnologia. Empresas, que nem mais ouso a nominar, dado o volume, começaram suas trajetórias aqui e hoje são referências no mercado nacional e internacional. Estas histórias de sucesso servem de inspiração e mostram o potencial que nossa cidade tem para transformar ideias em negócios prósperos.

Cultura de inovação e qualidade de vida

Um dos grandes diferenciais de Florianópolis é a qualidade de vida. A combinação de belas paisagens com uma forte cultura de inovação atrai talentos que buscam um ambiente de trabalho inspirador e equilibrado. Esse fator, aliado à infraestrutura e ao apoio de instituições locais, faz da cidade um local atraente tanto para viver quanto para empreender. Qualquer ecossistema de referência global é construído pela atração de talentos de todos os lugares. Temos ainda muito espaço para evoluir.

Lideranças que fazem a diferença

O sucesso de Florianópolis como um dos principais ecossistemas de startups no Brasil também se deve à atuação de lideranças com visão e muita dedicação que souberam guiar e inspirar. Figuras chave, desde gestores de empresas até líderes de entidades (muitas delas voluntárias), desempenharam papéis fundamentais na construção de um ambiente colaborativo e inovador. Essas lideranças não apenas fomentaram a criação de políticas e infraestruturas adequadas, mas também promoveram uma cultura de compartilhamento de conhecimento e apoio mútuo, essencial para o crescimento sustentável e a atração de novos talentos e investimentos para a região. Aqui não ouso nem citar nomes, porque certamente seria injusto.

Neste contexto, tenho um orgulho tremendo de acompanhar de perto, como disse, nas últimas duas décadas, empreendendo alguns movimentos sobretudo como profissional de comunicação e marketing ambientado e fruto do ecossistema de Florianópolis e de Santa Catarina. E hoje tendo a oportunidade de construir histórias com clientes de todo o país e algumas multinacionais com atuação no Brasil.

Destes projetos, destaco, claro, duas frentes:

Ponte para a inovação: inspirando novos ecossistemas

Em 2021, lancei em parceria com o Daniel Leipnitz e com dezenas de coautores, o livro Ponte para a Inovação, um guia que detalha as estratégias adotadas em Florianópolis para construir um ecossistema maduro e referência em startups e empresas de tecnologia. Este trabalho se tornou uma referência para outras regiões do Brasil que desejam replicar o sucesso da nossa cidade. O livro destaca como a colaboração entre o setor público, privado e a academia pode criar um ambiente propício para o crescimento de novas empresas. Dele derivamos também o Ponte para o Mundo, sobre ecossistemas de internacionalização; o Bridge to Innovation, versão em inglês da primeira obra; e em 2025 iremos lançar mais uma sequência (mas sem spoilers, ainda).

O papel da Dialetto na construção do ecossistema

Nos últimos 17 anos, a Dialetto, agência que sou confundador, desempenhou um papel crucial em dar visibilidade a este ambiente. Com nosso super dedicado time, que sigo agradecendo desde sempre, atuamos lado a lado com entidades como ACATE, Sebrae SC/StartupSC, Endeavor, entre diversos outros, para promover a imagem de Florianópolis como polo de tecnologia, ecossistema e hub de inovação. Por meio de estratégias de comunicação eficazes, ajudamos a projetar a cidade no cenário nacional e internacional, atraindo investimentos e talentos.

Desafios e perspectivas futuras

Apesar das conquistas, ainda há desafios a serem enfrentados. É preciso manter uma atenção e investimentos em infraestrutura para o surgimento de mais e diversificadas startups, que passa principalmente pela contínua evolução na formação de talentos, além de atração de novos colaboradores não somente para Floripa, mas para toda Santa Catarina. A manutenção de políticas de fomento governamentais podem significar ainda catapultar ainda mais este ambiente, que tem como grande desafio, neste momento, liderado pela intenção do novo presidente da ACATE, Diego Brites Ramos , de tornar Floripa um polo global de inovação.

Tenho convicção que, com a união e esforço contínuo de todos os envolvidos, Florianópolis tem tudo para continuar sendo um exemplo de inovação para o Brasil e, como meta norteadora, para o mundo.

Portanto, o reconhecimento de Florianópolis como a Capital Nacional das Startups, fruto da alcunha proposta por políticos legisladores catarinenses, é um marco a ser comemorado e que reflete anos de trabalho árduo e dedicação. A cidade consolidou-se como um ambiente fértil para a inovação, graças à colaboração entre diversos atores e à capacidade de se reinventar constantemente. Sigo com o sentimento que este é apenas o começo de uma jornada que promete colocar Florianópolis no mapa global da inovação.