Fluência em Dados (Data Literacy)
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Fluência em Dados (Data Literacy)

Com a explosão e universalização e dados muitas companhias estão progredindo e crescendo enquanto outras estão estagnadas e encerrando suas operações. Não é que as empresas não têm investido em tecnologia para lidar com esse extraordinário volume, mas o fato é que mesmo depois de inúmeras tentativas e um grande dispêndio financeiro, a maior parte das Organizações ainda não utilizam os dados no seu cotidiano para inovar, aperfeiçoar e otimizar suas operações.

Raramente se consegue tornar o modelo de negócio totalmente baseado em dados e as decisões continuam sendo tomadas por sentimento e experiências empíricas. Quando muito, por relatórios estáticos gerados sob demanda e as pressas. Não por acaso o Microsoft© Excel® é uma das ferramentas de “relatórios” mais utilizadas mundo afora. Triste, mesmo sendo este que vos escreve um grande fã do Excel.

Estudos da universidade de Harvard apontam que o maior obstáculo para tornar uma companhia orientada a dados não é causada somente por falta de tecnologia ou por carência de time especializado na disciplina (estudo) de Business Intelligence. O problema é também, cultural. Existe um desafio muito além das questões tecnológicas na companhia. Existe o hábito dos profissionais. O histórico de como as coisas foram feitas, são feitas e devem continuar sendo feitas. Alterar a mentalidade das pessoas e por consequência a da própria empresa é mais complexo do que os aspectos processuais e tecnológicos, embora estes também façam parte.

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O aculturamento de uma Organização (pública, privada, capital ou social) para uso de dados deve ser pautada em educação. Sim! Educação no uso de dados. Conhecimento! Forma! Ferramentas! Atualmente lidar com dados e informações é tão importante quanto saber ler e escrever, porque são os dados transformados em análises que permitem tomadas de decisões e insights. Em última instância, é a educação para lidar com dados que deveria nortear a companhia em suas decisões e propósitos.

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Claro que ninguém precisa ser um especialista em ciência de dados. Mas todos precisam saber lidar com informações no seu trabalho cotidiano em todos os níveis. Parece exagero, mas não. Grandes empresas mundialmente reconhecidas e com clientes cativos praticamente sem concorrentes simplesmente desapareceram do mercado ou foram reduzidas a trapos. Antes da popularização dos filmes digitais e streaming de dados, a Blockbuster reinava solitária no mundo do entretenimento audiovisual. A Blockbuster® era uma companhia gigante e com uma grande clientela fiel. E mesmo assim, morreu em pouquíssimos anos, quase de maneira surreal. Talvez se tivesse amparo de uma cultura de uso de dados teria alterado a própria história, já que a própria Blockbuster® teve a chance adquirir a NetFlix® no ano 2000 e não o fez.

E a sua companhia? Baseia as decisões em dados confiáveis em todos os níveis? Do time operacional ao executivo?

Pesquisa realizada pelo professor Erik Brynjolfsson do MIT (Massachusetts Institute of Technology (MIT)) constatou que companhias que incorporaram a cultura de decisões baseadas em dados possuem uma produtividade final entre 5% e 6% acima do conseguiriam se tivessem investido em outras áreas da companhia. Esta pesquisa aponta ainda que essa cultura melhora a utilização dos acervos de dados e o próprio valor da empresa. Estas melhorias não são casuais, são fruto de integração de dados, cultura de decisão em evidências e tecnologia em favor do negócio

O analista sênior da Forrester©, Richard Joyce, realizou uma pesquisa sobre a lista de empresas da Forrester© 1.000 e estima que um aumento de 10% no acesso aos dados resultará em mais de $65 milhões de dólares em receita líquida adicional neste grupo de empresas. A própria Forrester© estima que negócios baseados em dados vão crescer em média de 30% ao ano a partir de 2020 (a exceção da pandemia que afetou o mundo inteiro).

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Mesmo assim, apenas 28% das companhias acreditam que todos os perfis profissionais possuem as habilidades necessárias, os dados e as ferramentas para lidar com decisões em suas tarefas diárias. E isso reflete no grande interesse dos gestores em dedicar mais tempo ao tema. Cerca de 78% dos pesquisados pela Wharton School Academics reportaram que estão dispostos a dedicar mais tempo e energia para melhorar suas habilidades de análise de dados.

Embora o assunto seja extenso, há uma constante negligência de tratar o tema de dados de maneira muito superficial, até mesmo amadora. Não são poucas as companhias que investiram pesado em ferramentas de autosserviço de dados (self-service BI) e não viram a tão esperada mudança de chave na companhia. As mais bem sucedidas companhias que utilizam dados para progredir no negócio o fazem em pilares que envolvem:

  • Cultura (ou educação) no uso de dados (fluência).
  • Democratização de acesso aos dados.
  • Tecnologia de autosserviço (self-service BI).

Apesar dos muitos benefícios que a cultura de decisões baseadas em dados trás, a sua implementação não tem sido exatamente fácil. Uma publicação da NewVantage Partners demonstrou em um estudo que as empresas estão falhando na adoção de dados para tomada de decisão. Na pesquisa, 72% dos participantes (destes, 97% de nível C-Suite) declararam que suas companhias ainda não haviam conseguido firmar a cultura de decisões baseadas em evidências (dados). E pior, a pesquisa ao longo do tempo mostrou que o número de companhias que alcançaram a cultura de dados tem diminuído. Ao invés de melhorar, tem piorado. Desde 2001, a NewVantage Partners ajuda uma lista de empresas líderes da Fortune 1.000 e líderes do setor a alavancar dados e análises para impulsionar a inovação e a transformação dos negócios. E um destes estudos mostra a dificuldade de alcançar a cultura de decisões baseadas em evidências. Ou seja, dificuldade de ter os profissionais fluentes em dados.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Censuswide para a fabricante de softwares analíticos Qlik®, 92% dos tomadores de decisão (alta direção e gestores) acreditam que é fundamental que seus colaboradores possuam educação voltada a dados, mas ao mesmo tempo somente 17% destes acreditam que suas companhias efetivamente encorajam seus profissionais a se tornarem competentes (habilidosos) no uso de dados.

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A democratização dos dados e a capacidade de usá-los para tomada de decisão são fatores inerentes a onda de transformação digital. Mas o caminho não está fácil. Há instituições que sequer começaram a analisar seus dados em prol do negócio, seja para melhorar os aspectos financeiros ou a qualidade do serviço prestado. A maior partes das empresas ainda não possui maturidade educacional de uso dos dados e pouco ou nada está à disposição de quem precisa. Mesmo com boas ferramentas de mercado, amigáveis e fáceis de utilizar, as companhias ainda carecem de uso prático das informações. 

Desafios que Cercam a Fluência em Dados (Cultura de Uso dos Dados)

  • Dificuldade de encontrar os dados relevantes. Na avalanche de sistemas, formatos, locais, meios de acessos, arquivos e inúmeras bases de dados com centenas de tabelas, os usuários simplesmente não sabem onde procurar pelo que precisam. Por exemplo, se existe a necessidade de conhecer o perfil dos clientes, onde estes dados estão armazenados? Como ter acesso? A quem solicitar? Em que formato será disponibilizado? Qual a periodicidade?
  • Compreender claramente o significado do dado. Uma vez superado o acesso é hora de compreender o que significa aquilo que está sendo visualizado. Será que todos entendem a mesma informação quando se deparam com dados de faturamentos realizados? O que é um faturamento? O ato de cobrar ou de emitir a nota? O ato de receber o valor ou aguardar o pagamento? Não basta ter acesso, é preciso compreender, dar sentido e unificar o significado. Todos precisam entender da mesma forma.
  • Determinar se os dados estão devidamente atualizados. Se for possível superar os desafios de tornar os dados disponíveis e compreender claramente o que significam, o aspecto de atualização é também um tiro no escuro. Muitas companhias possuem dados duplicados, triplicados, quadriplicados. Cadastros de clientes podem existir em dois, três ou mais sistemas. Saber se os registros utilizados são os mais atuais, os corretos e válidos, é desafiador.
  • Reutilizar trabalhos anteriores. Outro aspecto desafiador na cultura de uso de dados para decisões por meio da democratização do acesso é a capacidade de reuso de trabalhos anteriores. Quantos são os profissionais que conseguem apenas acionar um botão e atualizar o relatório mensal de vendas ao invés de ter que criá-lo novamente? Não são raros os trabalhos manuais para emissão de relatórios recorrentes. Quão mais fácil seria se tudo fosse automatizado e sistematizado.
  • Acessar formatos antigos ou fora dos padrões atuais. Ferramental correto é fundamental, mas nem tudo é padronizado. É comum que companhias possuam diferentes sistemas com repositórios diversos e inacessíveis por soluções tradicionais. No sistema bancário, por exemplo, ainda são utilizados sistemas de grande porte em que a interação com o usuário é realizada por meio telas em fósforo verde e sequer existe a possibilidade de se usar o mouse.
  • Acesso a diferentes estruturas computacionais. Não apenas sistemas são diferentes como a forma que armazenam os dados também. Por isso em muitos casos o usuário precisa de um arsenal de softwares instalados na sua estação de trabalho, cada um com o propósito de acesso a uma parcela dos dados que estão hospedados em estruturas totalmente diferentes. Um dos efeitos mais danosos é a impossibilidade de cruzamento de dados de plataformas distintas ou, quando possível, realizadas de maneira artesanal.
  • Dificuldade de aplicar regras de privacidade em informações sensíveis. Democratizar o acesso não significa total liberdade para qualquer um fazer o que quiser sem controles e sem orquestração de segurança. A lei geral de proteção de dados tende a impor cada vez mais regras de controle, privacidade e descaracterização de dados sensíveis que, quando combinados, devem ser mascarados de alguma forma. Por exemplo, NOME, CPF, RG, ENDEREÇO não devem ser expostos a qualquer um.
  • Determinar a qualidade dos dados. O que dizer então sobre a qualidade das informações acessadas. Será que tudo é verídico, correto, exato, apurado e apropriado para o uso planejado? Neste aspecto entram as regras de negócio que determinam como considerar uma informação válida. Pode um empréstimo ser concedido a alguém que não é participante do sistema bancário? Pode um financiamento ser concedido a alguém que faleceu? Contribuições para previdência podem ser realizados com valor zerado?

Conclusão

Além dos aspectos tecnológicos envolvidos, existe o aspecto cultural e educacional de decisões baseadas em evidências. Neste artigo foi chamado de Fluência em Dados. Não basta investimentos em universalização do acesso, é preciso auxiliar os profissionais a se tornarem independentes, autônomos e servidos de dados para desenvolverem melhor seus trabalhos. Sua companhia é orientada a dados?

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No próximo artigo ...

Os Passos de um Programa de Educação em Dados

Emanuel Suano

Coordenador de Estratégia de Dados | Ciência de Dados | Engenharia de Dados | Governança e Qualidade de Dados | LGPD - Autoglass

3 a

Muito bom Franco. Parabéns pelo excelente artigo.

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