Forças de caráter

As relações sociais no trabalho devem ser foco dentro das organizações, pois sabe-se que a técnica não é mais o fator primordial para que uma pessoa seja adequada ao cargo que ocupa, ou seja, ter formação acadêmica e conhecimentos técnicos do trabalho que desenvolve dentro do cargo ocupado, não garante mais a seleção para um novo trabalho e nem a promoção tão desejada. Sendo a questão comportamental, o fator que mais causa demissão nas empresas, para cada 10 pessoas admitidas, 9 são desligadas por problemas comportamentais, segundo Page Personnel. Para que um profissional seja considerado um modelo ou um exemplo na sua atuação, vai precisar ir além de sua expertise, é preciso respeitar as regras de convivência e reciprocidade, incluindo ser um promotor de bem-estar e engajamento para seus pares. Essa troca social, requer tempo, habilidades e atitudes para que os relacionamentos se retroalimentem, para alcançar confiança, lealdade e compromisso mútuo e por consequência bem-estar, engajamento e felicidade no trabalho.

Importância dos valores pessoais e princípios da empresa

Em suas triagens e seleções, as organizações raramente fazem um seleção adequada, pois por preferir agilizar o processo ou por optar por uma seleção mais barata, não passam por etapas importantes para uma seleção por competência, análise do perfil comportamental, aplicação de questionários, testes psicológicos e dinâmicas de grupo. Desta forma, perde-se a oportunidade de ajustar os valores do candidato aos princípios da empresa, buscando a satisfação dos dois lados, mitigando a chance de um choque de "culturas".

Quando essa fase é pulada, a consequência é certa, o resultado aparece, quando o funcionário se sentir mais adaptado ao dia-a-dia, seu comportamento inadequado e inconsciente começa a aparecer comprometendo tanto sua atividade propriamente dita, como seu ambiente como um todo. Por falta de sintonia com os princípios da empresa, ela não vai performar bem, vai se desmotivar, se sentir sem propósito e não verá sentido no trabalho. A consequência é uma seleção fracassada e retrabalho, sem falar em despesas duplicadas para uma nova seleção. Caso se mantenha esse funcionário, outras consequências aparecerão a partir de seu comportamento desadaptado, com danos quase irreparáveis às relações de confiança e empatia de uma equipe inteira, comprometendo o bem-estar de todos.

Como transformar comportamentos socioemocionais para proporcionar bem-estar no trabalho?

Entendendo que a equipe está formada, os líderes e os gestores já conhecem o funcionamento da empresa e a troca de profissionais não é uma opção para a empresa, resta intervir para a adequação destes profissionais ao seu ambiente de trabalho. A intervenção deve levar em consideração a indiossincrasia de cada um, seus objetivos profissionais e expectativas, sem esquecer de associar essa tranformação com a missão e valores da organização. Para tanto, já existe um ciência capaz de ajudar as empresas, seus líderes e liderados a superar esses desafios. Com a ajuda do teste VIA (classificação das forças de caráter), a aplicação das *Forças de Caráter (Capacidade positiva de se comportar) de forma consciente no contexto do trabalho, é possível alcançar objetivos como: transformar profissionais desengajados, com comportamentos desadaptados, em profissionais mais produtivos, inspirados e felizes. É possível também transformar o modo como veem o trabalho e a empatia pelos seus pares, tornando-se o melhor de si mesmo. Esta intervenção com estes resultados, já é uma realidade.

*As Forças de Caráter são características/capacidades positivas que são pessoalmente enriquecedoras, não diminuem os outros, são universais e valorizadas em todas as culturas, e alinhadas com diversos resultados positivos para si mesmo e outros (Peterson, & Seligman, 2004).

Alinhando o perfil das Forças de Caráter ao contexto de trabalho

Estudos científicos apontam que para compreender a si mesmo ou fazer qualquer mudança é preciso mudar sua autoconsciência. Conhecer suas forças de caráter, já é o primeiro passo. No contexto do trabalho, os gestores e líderes devem tomar conhecimento de suas forças e de sua equipe. Essas informações vão ajudar a estruturar um processo de melhoria nos relacionamentos, engajamento, bem-estar e produtividade. Podem também criar um programa que possa ajudar a si mesmo e aos seus liderados. A aplicação deliberada das forças de assinatura (as cinco primeiras) de maneira continua, ajuda a selecionar papeis no trabalho que melhor combina com aquele perfil, ou pode também fortalecer /potencializar as forças baixas, por meio de treinamento baseado nas forças de caráter, que são importantes para o desempenho e determinado cargo e para melhorar relacionamentos da equipe. O reconhecimento das forças por parte dos liderados e sua aplicação deliberada traz transformação e identificação com seu propósito e sentido no trabalho, além de bem-estar para todos.

O poder das Forças de Caráter no contexto organizacional

Não tem mais volta, não tem como ser diferente, as forças de caráter muito provavelmente, é a próxima evolução da humanidade. A ciência constatou por meio de um estudo que conectou as forças de caráter com hábitos positivos (McQuaid & Lawn, 2014), dentre outros, obteve os seguintes resultados:

• 60% tornaram-se melhores em traçar metas semanais baseadas em suas forças.
• 41% melhoraram seus sentimentos de ter a oportunidade de fazer o que faziam melhor a cada dia.
• 39% melhoraram a probabilidade de ter uma conversa significativa sobre forças com seu supervisor.
• 32% sentiram que sua organização estava mais comprometida em desenvolver suas forças.
• Benefícios adicionais incluíram: maior florescimento, engajamento, sentimento de valorização, energizado, e o senso de que estavam fazendo a diferença.

A Virtude pode ser adquirida pela prática. Aristóteles (4º AEC/2000) e São Tomás de Aquino (1265-1273/1989).

Hilvanna Campelo, Terapeuta da Psicologia Positiva e Mentora das Forças de Caráter.