Fortalecendo ecossistemas locais de impacto

Fortalecer o campo de negócios de impacto em conservação da natureza no Brasil é um desafio que demanda esforços conjuntos de empreendedores, do poder público, do setor privado, de instituições de ensino superior, de aceleradoras e incubadoras, de investidores, do terceiro setor e da filantropia. Dentro desta diversidade de atores, é necessário um olhar atento para aquelas instituições que desempenham o papel fundamental de, localmente, impulsionar o ecossistema de empreendedorismo de impacto. Hoje, quero falar especificamente deste importante grupo, também chamado de “instituições dinamizadoras”.

Em 2020, a Fundação Grupo Boticário realizou um mapeamento na Grande Reserva Mata Atlântica para conhecer melhor o cenário de empreendedorismo sustentável na região. Entre diversos dados, percebemos que dos 177 negócios levantados, 71% encontravam-se no chamado “vale da morte”, entre as fases de ideação e organização do negócio, sendo apenas 18% sustentáveis financeiramente (considerando não respondentes). Isso significa que se trata de empreendimentos ainda frágeis, com alta demanda de apoio em seu planejamento estratégico, seu olhar para o impacto positivo e sua validação de modelo de negócio (60% indicaram que gostariam de ser acelerados) e, obviamente, de investimento externo para avançar. 

Neste sentido, desde 2019, a Fundação Grupo Boticário desenvolve o Programa Natureza Empreendedora Grande Reserva Mata Atlântica, com execução técnica do Sebrae-PR. O objetivo é acelerar negócios com impacto ambiental positivo. Em 2021, por meio de uma parceria com Trê e Parsifal 21, trouxemos o programa Territórios Regenerativos para esta região. Esta iniciativa propõe-se a, como um de seus objetivos, desenvolver soluções financeiras para os empreendedores de impacto e prepará-los para receber investimentos.

Estes programas são fundamentais e já trazem resultados interessantes. Porém, sabemos que a criação ou fortalecimento de um ecossistema de negócios de impacto passa não apenas pelo apoio ao empreendedor e pela atração de investidores. Um ecossistema longevo e forte precisa de instituições dinamizadoras locais fortalecidas (instituições de ensino superior, incubadoras e aceleradoras, terceiro setor, empresas e órgãos públicos) e incorporando estratégias coordenadas de apoio ao empreendedorismo de impacto no território. Precisamos somar e coordenar esforços voltados ao apoio aos empreendedores socioambientais!

Por isso, para nós, é tão importante integrar a Coalizão pelo Impacto, uma iniciativa realizada pelo ICE, Instituto Helda Gerdau, Instituto Humanize, e Somos Um, com apoio estratégico da Cosan, Fundação FEAC, Instituto Sabin e Raia Drogasil, além da Fundação Grupo Boticário. Por meio desta iniciativa, apoiaremos o ecossistema de impacto em seis localidades brasileiras pelos próximos cinco anos. Nosso envolvimento mais direto será em Paranaguá (PR), município que integra a Grande Reserva Mata e foi escolhido por sua potencialidade de ser um celeiro de negócios voltados ao desenvolvimento local pautados em conservação da natureza, por meio do fortalecimento das instituições dinamizadoras, que ainda poderão irradiar oportunidades para outras cidades do litoral paranaense.

Empreender de forma associada a impacto socioambiental positivo é uma possibilidade concreta que ainda precisa ser mais bem aproveitada e explorada no Brasil. Parcerias como esta, promovida pela Coalizão indicam que estamos avançando neste sentido, coordenando esforços para a geração de impacto positivo para o presente e o futuro de todos nós. 

Guilherme Zaniolo Karam, Gerente de Economia da Biodiversidade na Fundação Grupo Boticário