Futebol Brasileiro: vivendo e não aprendendo

Por incrível que pareça, a delegação brasileira que esteve no Catar, durante esta Copa do Mundo de Futebol, não estava preparada para perder. Incrível isso! Num esporte onde contam os pormenores, as diferenças de centímetros da bola que explode na trave e teima em não entrar, comissão técnica e jogadores não se aperceberam do óbvio: o futebol é e permanecerá sendo sempre uma caixinha de surpresas.

Não pretendo aqui pertencer ao coro dos descontentes, dos simples torcedores que vociferam as suas insatisfações desiludidos e desamparados com “a Pátria de chuteiras”. Discorrerei aqui acerca de um acontecimento empírico que presenciei durante o Footecon, em 2013, um ano antes da Copa do Mundo aqui no Brasil. Nas palestras dos técnicos brasileiros Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari, somado ao auditório “pachecão”, percebi um clima de “já ganhamos”. À época, perguntei ao professor Parreira sobre alguns dos nossos jogadores que não estavam em uma boa fase, casos do goleiro Júlio César (que teve que arrumar um time no Canadá para manter a forma), David Luiz, Marcelo, Maicon e outros. Ele se irritou um pouco, mas como sempre educado, respondeu e parece ter me considerado um antibrasileiro, pois completou: “Do jeito que você fala, o melhor seria o Brasil não ir ao Mundial”. Pensei, mas não respondi, que isso não seria ideal, afinal, o Brasil era o país sede da Copa, de forma que ele nem precisava ir, pois estava aqui. Não preciso nem dizer do resultado desta Copa, não é mesmo? Adendo: assisti a uma palestra de Tite discorrendo sobre cabeças de área.

Nesta Copa, antes de enfrentarmos a cerebral e fria Croácia, a despeito da apenas uma vitória no certame, sabia de antemão que a partida seria escamada. Minha primeira lição no futebol se deu em 1982, quando a claudicante Itália eliminou aquele timaço dos sonhos de Telê Santana. Então, como menosprezar a atuação vice-campeã mundial, num selecionado que tem Modric como o regente de uma boa orquestra?

Embora tenha conhecimento do comprometimento e seriedade de toda a comissão técnica, especialmente Tite, faltou um trabalho sério de motivador para o grupo com técnicas sérias, quem sabe seguindo as diretrizes do filósofo português Manuel Sérgio Vieira e Cunha que é um dos mentores do multicampeão José Mourinho. Esse método inovador de se ter um filósofo na comissão técnica de uma equipe é ousado e diferencial. Sugiro um trabalho nos bastidores, este profissional não necessita aparecer nem nos créditos da comissão técnica, mas que é fundamental, isso é.

Aprendendo com a vida, com as vitórias e fracassos, nos tornamos mais fortes, saindo do otimismo tolo para uma percepção de que é possível uma performance baseada em disciplina, controle mental, frieza e inteligência de jogo, objetivando resultados críveis e possíveis. Que tal começarmos pelos nossos clubes?