Futurismo e Megatrends: O que você acha que terá mais impacto no futuro do Brasil?
ANÁLISE DE IMPACTOS E CONSEQUÊNCIAS
Recorte metodológico: Em que pese o estudo ter passado três megatrends (polarização, Sociedade da Conhecimento e sustentabilidade) acrescidas da presente sugestão de uma jurista de acrescentar "Regulação" como outra megatrend, para que um conteúdo fosse elaborado, segundo uma lógica introdutória e uma análise prévia acerca do cenário futurista do Brasil em 2035, foi necessário focar em apenas uma.
O trabalho apresentado de maneira ampla girou em torno da Sociedade do Conhecimento, apesar das análises acerca das outras três megatrends, posto que essa era a mais ampla e reflete o tipo social a ser vivido. A escolha para tanto foi simples, uma megatrend considerada clara e mais ampla que estava presente, de maneira significativa, no discursos de todos os integrantes do grupo.
Contudo, como o presente recorte é um dos norteadores da apresentação realizada, trata-se de um direcionamento específico desta jurista focada na megatrend por ela proposta e sugerida, qual seja regulação. Importante destacar, que a referida megatrend é uma sugestão e não consta da relação original proposta por Peter Kronstrom e a Copenhagen Institute for Future Studies.
1. MEGATREND ESCOLHIDA: BASE DO FUNIL: Regulação
a) Motivações:
Megatrend desenvolvida pelo grupo, em atenção ao atual panorama e movimento legislativo mundial, em que existe uma busca por um positivismo que posso regular tudo o que ocorre, inclusive o futuro, com o intuito de esclarecer todas as questões, dúvidas e potenciais problemas que possam surgir.
Trata-se de uma demanda global de busca de um ente maior que regule e diga o que é certo ou não. Como paralelo e um dos fundamentos para relativa inclusão, é possível explorar os debates trazidos pelo filosofo Norberto Bobbio, com destaque à sua obra, “O terceiro ausente”, em que o autor comenta os problemas dos conflitos mundiais e a incessante busca por um terceiro para solucionar e apaziguar qualquer “questão”. Tal problema se reproduz no micro e no macro, inclusive com países. Inexistindo na atualidade alguém que atue como tal no macro, sendo necessário, para tanto, repensar a sociedade.
Diante deste cenário pensado e considerando a atualidade, mais de 30 anos após tais previsões, é possível constatar que a busca se repete em alguns países através de legislações que regulem “cada segundo da vida” e cada avanço tecnológico.
No paralelo, em países que enfrentam uma crise, referida busca é aumentada não apenas por uma legislação, mas também pela busca de governos (Poder Executivo) mais autoritários, repetindo, assim os movimentos da história(era) contemporânea, conforme é possível depreender de inúmeros recortes realizados por cientistas políticos.
2. AMBIENTE CONTEXTUAL:
a) Político:
Cada vez mais polarizado, com os “detentores do conhecimento” governando acerca dos demais, em razão do seu amplo conhecimento das ciências que serão consideradas relevantes. Para tanto, existirá uma onda de desqualificação daqueles que não tem acesso ao conhecimento tido como de qualidade ou importante.
A ampliação do conhecimento e do acesso à informação trará um ambiente cada vez maior de instabilidade, com uma visão “data driven” elevada exponencialmente, sem a devida análise de fatores humanos e outros pontos que são cruciais para a construção de um equilíbrio político, visto que cada lado trará dados concretos e que parecem reais fundamentando o seu entendimento, sem, contudo, ser possível um consenso.
Neste sentido, prosseguirá e se expandirá a busca do discurso do que é “legal” e certo, utilizando como base cada vez mais precedentes, textos legais, dados e informações, que fomentarão mais ainda a polaridade, o processo de positivação e a falta de harmonia.
Para concluir, cada vez mais estarão claros os problemas do capitalismo e da democracia, ainda que não existam soluções para tanto, Sendo aceito referidos regimes, visto que existe a ilusão de bem estar social, através da ficta ampla garantia de direitos básicos, igualdade social e disponibilidade de bens para todos.
b) Econômico:
Aumento da desigualdade e das classes sociais, com o empobrecimento da classe média e das mais baixas, porém, com a diminuição da miserabilidade.
Em uma sociedade do conhecimento, focada em regulamentos, miseráveis não são algo aceitável ou mesmo que possam ser vistos com bons olhos, visto que não são controláveis, de difícil aplicação legal e “poder/consciência votante”.
Dessa forma, ainda que com o desenvolvimento tecnológico muitos bens estejam disponíveis para todos, criando uma ilusão de igualdade econômica e de acessibilidade, trata-se de uma ficção, visto que essa é somente do mínimo em razão da ampla polarização em que a sociedade de instaurou.
Outrossim, o mercado de trabalho e determinadas áreas serão cada vez mais desvalorizadas, em especial as ligadas as humanidades, visto que com a disponibilidade fácil de determinados conteúdos e bens em razão do avanço tecnológico haverá a ilusão de que a criação intelectual pode ser realizada por máquinas, barateando assim, a distribuição de conhecimento e informação.
Conjuntamente, a educação será cada vez mais barata e acessível, ainda que não a de qualidade, em razão dos mesmos avanços tecnológicos e legislativos que garantem “tudo, ou o mínimo, a todos”.
Diante deste recorte, é possível afirmar que passaremos a comoditização de serviços também, não apenas de bens físicos e finitos, mas também de serviços e bens imateriais.
c) Social:
Fruto de uma sociedade dependente da informação, pressupondo que os Poderes sabem mais do que os cidadãos e deriva da expansão da polarização. Acredito que teremos uma sociedade dependente da opinião da ciência e que a produz de maneira mais ampla, mas apenas com a finalidade de provar as suas próprias crenças e reafirmar o seu próprio individualismo como forma de se destacar na ampliação do discurso “você não é ninguém”, considerando que a lei, a ciência e os Poderes tudo sabem.
Ademais, existirá o movimento também da banalização de determinadas ciências, que serão consideradas menores, como já ocorre neste momento. Teremos assim a supervalorização de determinados conhecimentos, em detrimento de outros, com a ampliação da educação a muitas pessoas e a concessão de títulos a tantas outras, ainda que sem qualidade ou mesmo finalidade.
O que para a educação e a classe acadêmica será problemático.
Em resumo, é possível acreditar que para muitos estaremos cada vez mais próximos do sonho do welfare state, ainda que este tenha se alterado por tanto tempo e ao longo das correntes econômicas. Estaremos diante de uma tentativa de maior garantia de direitos e efetiva igualdade social, ainda que ilusória e presa aos problemas do capitalismo e da democracia.
d) Tecnológico:
Com o avanço tecnológico, cada vez mais determinadas áreas do conhecimento serão substituídas por máquinas, com o intuito de garantir maior eficiência, menor custo e maior agilidade. Para tanto, é importante repassar todos os pontos informados no tópico econômico, visto que ele está intrinsecamente ligado ao avanço tecnológico e o efetivo atingimento da sociedade do conhecimento como um avanço da atual sociedade da informação.
A fim de explanar melhor essas questões, é importante o conhecimento de que as tecnologias e os bens em geral se tornarão mais acessíveis. A título de exemplo, temos: (i) bens culturais, especialmente aqueles desenvolvidos por meio de inteligências artificiais; (ii) ampliação da disponibilidade de peças de reposição e maquinário padrão das indústrias de base, sendo certo que isso já acontece atualmente, em especial em razão da expansão do mercado chinês, o que é previsto é sua expansão descomunal; (iii) bens de consumo, artigos supérfluos e “bugigangas tecnológicas”, aqui entendidos como os bens que permeiam o nosso dia a dia e são consideradas essenciais ou não, mas que fazem parte do considerado padrão de qualquer cidadão, além daqueles necessários a sobrevivência.
Efetivos avanços tecnológicos, como carros autônomos, aviões cada vez mais rápidos, viagens dentro do sistema solar e submarinas, tratamentos de saúde e estética revolucionários, que enganam aos olhos, serão para poucos e inacessíveis para maior parte da população, ainda que existentes.
e) Ambiental:
Com o desenvolvimento da sociedade do conhecimento, uma visão data driven exponencial e uma regulação coroando essa questão, teremos de fato uma proteção ambiental ampla, forte e eficaz. Tal constatação é possível se entendermos que grande parte da ciência derivará do amplo estudo dos recursos naturais, com o uso dos conhecimentos tradicionais aliado a medicina e a indústria alimentícia.
Dessa forma, a regulação garantirá a ampla exploração salutar das questões ambientais, visto que este é um dos poucos bens esgotáveis existentes na futura sociedade. Contudo, a titularidade e a forma de exploração não serão benéficas ao Brasil ou mesmo restritas a este, mas sim derivada dos efetivos detentores do conhecimento, da ciência e do capital.
f) Legislativo:
Ainda que possa soar repetitivo, aqui é importante analisar o avanço da positivação dos sistemas, inclusive para países que não são padrões que isso aconteça, como aqueles que vivem no sistema do common law (Direito consuetudinário).
O panorama previsto, ainda que sob o viés legislativo, se estenderá para que pequenas decisões e problemas políticos ocorridos se reflitam em novas mudanças legislativas, as quais permitam ou penalizem quaisquer práticas.
Dessa forma, similar ao que aconteceu após a saída da ex-presidente Dilma do poder, em que o entendimento sobre o que seria um crime de responsabilidade foi alterado, em razão da mudança dos percentuais que poderiam ser utilizados pelo Poder Executivo, em razão da Lei 13.332/2016, que entrou em vigor apenas 2 dias após a saída da ex-presidente.
3. AMBIENTE CONTEXTUAL:
a) Competidores:
i) Novos: Criação de novas indústrias com o fornecimento de novos bens e serviços antes impossíveis de serem produzidos em larga escala e disponíveis a todos de maneira ágil e efetiva. Como exemplo, teremos a produção em larga escala de bens culturais originais. Energias renováveis e limpas mais presentes em nosso dia a dia. Fornecimento de empresas especializadas em dados estatísticos e probabilidade para todas as indústrias, não apenas os existentes ou os que tentam hoje se consolidar no mercado.
(ii) Existentes: Expansão das indústrias farmacêutica, de beleza e medicinal.
b) Fornecedores e cadeia de valor:
i) Novos: Originários das pequenas brechas da lei e inovações ainda não regulamentadas, serão poucos, com crescimento exponencial rápido e possível obsolescência e declínio na mesma rapidez, em razão da tentativa de regulação, controle (inclusive tributário) da atividade, com o intuito de garantir o mesmo patamar social de pretensa ampla acessibilidade e disponibilidade de bens. Além dos destaques realizados nos campos acima, referente aos competidores.
(ii) Existentes: Maiores conteúdos, informações, conhecimentos, pessoas e bens à disposição/sob demanda. Explosão do processo de empacotamento/ agregadores para dar espaço aos pequenos e independentes que não se consolidaram no espaço. Procedimento que já começa a ser pensado e analisando em determinadas indústrias, como a de VOD (vídeo on demand, streaming, similar ao processo existente com a TV a cabo no passado).
Fruto de uma sociedade muito regulamentada, tal qual ocorre hoje, o pequeno espaço de inovação acaba sendo consumido por “brechas” legais, repetições de exemplos do passado ou a criação ligada à pretensas disponibilidades ”open source” ou em “creative commons” que muitas vezes não garantem o amplo conhecimento, crescimento ou uso da criatividade.
c) Mercado de Trabalho:
Repetindo alguns pontos já destacados acima, teremos:
“o mercado de trabalho e determinadas áreas serão cada vez mais desvalorizadas, em especial as ligadas as humanidades, visto que com a disponibilidade fácil de determinados conteúdos e bens em razão do avanço tecnológico haverá a ilusão de que a criação intelectual pode ser realizada por máquinas, barateando assim, a distribuição de conhecimento e informação.”
“Com o avanço tecnológico, cada vez mais determinadas áreas do conhecimento serão substituídas por máquinas, com o intuito de garantir maior eficiência, menor custo e maior agilidade.” Contudo, a educação e nem todas as áreas e pessoas se adequarão a tempo a tais mudanças, acreditando que tratam-se de visões futuristas, por tais motivos, teremos um amplo desemprego e profissionais sem as devidas qualificações técnicas, em níveis mais alarmantes que os atuais.
Por fim, um ponto a se destacar que apesar de repetitivo, haverá uma maior concentração de renda, com o barateando de determinadas mãos de obra, relacionadas aos bens amplamente difundidos e que se tornaram comodities.
Além da supervalorização de determinadas indústrias, gerando uma onda de busca por tais conhecimentos e acessos que infelizmente será ainda elitizada, devido à falta de conhecimento qualificado, em meio a tantos conhecimentos permitidos a todos. A título de exemplo, o desenvolvimento desenfreado da medicina.