Futuro do Trabalho: Construção do presente com as lições do passado.

              Todos nós estamos atravessando uma era de incertezas extremas, onde a transformação só é possível através de elaborações de ações concretas e colocadas em prática. Durante a construção do futuro é essencial buscar aprendizados no passado, conectando experiências e filosofias de diferentes épocas. Por isso, devemos olhar as lições do passado com mais atenção.

Ao voltar aos tempos bem antigos, filósofos como Aristóteles já refletiam sobre a natureza do trabalho e a organização social. Em “A Política”, já se imaginava um mundo no qual os instrumentos pudessem executar tarefas sozinhos eliminando a necessidade de operários e serviçais. Essa visão, para a época, utópica, hoje é totalmente possível e nos remete ao mundo da automação e a revolução tecnológica que vivemos hoje, então, podemos afirmar que o que estamos vivendo hoje, já foi pensado antes. Karl Marx, no século XIX analisou as questões do trabalho e da alienação ou subordinação as novas tecnologias que iriam surgir, as quais poderiam  tanto libertar como oprimir trabalhadores. Suas ideias continuam a influenciar debates sobre o futuro do trabalho e a necessidade de uma transformação social que inclua todos.

              Neste momento que estamos construindo o presente e enfrentamos inúmeros desafios, precisamos de um pensamento aberto e inovador, pois a revolução digital dos últimos 50 ou 60 anos, no máximo, e sua aplicação na indústria 4.0 estão mudando radicalmente o mundo. Durante a escrita deste artigo, por exemplo, há quatro cidadãos civis, passeando na orbita de nosso planeta há exatamente 700 km já no espaço livre e criando oportunidades de trabalho para a humanidade e, quem sabe, já estamos começando a eliminar outras formas de trabalho. Neste sentido, alguns autores como André Gorz propõem uma nova forma de enxergar o trabalho e que este não seja mais um elemento estruturante da sociedade. Outro autor Ricardo Antunes sugere a importância de repensar o sentido do trabalho em um mundo onde a automação e a inteligência artificial estão tomando o seu espaço, em seu argumento a sociedade deve trazer o trabalho como uma fonte de realização pessoal e coletiva e não como apenas uma obrigação econômica.

             Além disso, vivemos um encontro geracional cujo tema é crucial para a construção de um futuro inclusivo e próspero. As gerações mais jovens trazem consigo uma mentalidade aberta às inovações e uma disposição para questionar o status quo. Ao mesmo tempo, as gerações mais velhas possuem a sabedoria e a experiência acumuladas ao longo dos anos. Yuval Noah Harari discute que devemos enfrentar os desafios de construir o futuro com um diálogo intergeracional e que precisamos ainda combinar a inovação tecnológica com a sabedoria histórica e milenar, assim teremos uma sociedade de valorização do progresso e da tradição.

             Esta transformação só é possível através de ações inclusivas, ou seja, fazendo na prática, instruindo, formando e integrando pessoas na busca de um ideal comum, onde cada indivíduo tenha a oportunidade de contribuir para a construção de um futuro melhor, para isso é crucial que todos os que atuam na liderança de empresas e estados tenham um mindset aberto às inovações e para as pessoas, agindo com forte compromisso para a inclusão e a justiça social, pois como destaca o filósofo contemporâneo Zygmunt Bauman vivemos em uma “modernidade líquida” onde está tudo em constante mudança e que para navegar por este período de incertezas é essencial reconhecer que as ações tem consequências e que estamos todos interconectados.

            Por fim, penso que o futuro que desejamos para a humanidade começa agora, dando-se os primeiros passos conectando as experiências e filosofias de diferentes épocas, criando-se uma sociedade mais justa, inclusiva e feliz, em que todos tenham a oportunidade de prosperar.

Eduardo Fajardo, 12, setembro de 2024