GAVIÕES DA FIEL

Não deu. Ou, na linguagem popular, não rolou.

Cravamos um temível décimo lugar e com riscos seríssimos, quase até o final da apuração, de rebaixamento.

Estava há pouco lendo e relendo as críticas, os comentários “saudáveis” dos amigos dizendo que eu e meu parceiro, Sérgio Narjarian, somos pé-frio. Divirto-me, pois.

Pudesse usar um termo da Teoria da Comunicação, diria que houve uma certa dissonância cognitiva em não levar nada. Uma forma tosca, tautologia pura, para justificar o injustificável.

Não deu porque não era para dar. Mas e daí? Tem importância? Claro que não. A experiência de ter desfilado, muito distinta da cobertura jornalística in loco que fiz várias vezes, é uma outra viagem. Catarse pura.

Como em minhas veias corre o sangue carioca dos Dias, do deboche, da arte popular, da ironia fina e do povo mais humilde, digo que Carnaval tem outra dimensão em minha vida. Como a vivida há pouco, no bloco “Pirikitas em Chamas” e “Pagu”, no centro de Sampa. Ver embevecido o Carnaval de rua da Paulicéia renascer. Isto sim dá um gosto bom danado.

No dia do desfile, confesso, me emocionei. Não com as moças passistas da Globo, as "patricinhas" em close gourmetizadas pela mídia. Mas pela singeleza da ala das baianas.

Tem coisa mais bonita, elegante, charmosa, do que uma baiana rodar na avenida? Da comunidade, que paga aquela fantasia a prestação, suadamente, para brilhar pouco menos de meia hora.

Ou a moça de ontem no sambódromo, uma negra exuberante que me confidenciou ser seu sonho um dia sair de passista. E que lutava por isto.

Melhor ainda, sair no carro do Paulo de Barros, o carnavalesco, e, debaixo de um frio de lascar, ver a arquibancada te aplaudir.

Como se fosse só para você.

E não existisse mais nada ali, naquele momento de comunhão soberana, onde o ritmo da bateria dita o compasso do seu coração.

Obrigado, grande Sérgio, pela oportunidade!

O resto é resto.

Adorei o décimo lugar.