General Osório o 1o populista do Brasil
Manoel Luis de Osório (10 de maio de 1808 a 4 de outubro de 1879) ou simplesmente General Osório, como é popularmente conhecido. Foi um militar e herói brasileiro. Todos já devem ter visto algum lugar que faz menção ao seu nome, seja: praça (em Ipanema, Rio de Janeiro), metrô, rua, avenida, nome de cidade, escola, travessa, etc., quando não leva o seu nome, leva seu último título de nobreza: Marquês de Herval (na Av Rio Branco, centro do Rio de Janeiro, um dos maiores prédios leva esse nome). Mas afinal de contas, quem foi ele? O que ele fez? Por que tantas homenagens?
Osório nasceu no Rio Grande do Sul e pertencia a uma família de classe média baixa. Seu sonho era cursar Direito, porém, conforme seu primeiro biógrafo Fernando Luis Osório (filho do generalíssimo), o mesmo teria chorado dia e noite, quando seus pais lhe informaram que não teriam condições de mandá-lo para a faculdade. Assim, não lhe restaria outra opção que não fosse servir ao exército. Servir ao exército, naqueles tempos, era uma das alternativa para quem não tinham recursos. Muitos não queriam, mas acabavam tendo que servir, para terem alguma coisa para fazer! O Brasil acabava de perder um Advogado (talvez fosse só mais um) e acabava de ganhar um Herói Nacional!
Como não tinha origens nobre, Osório literalmente começou lá debaixo, e foi um dos poucos, que chegou ao topo da hierarquia militar. Por ter essa sua origem humilde, é que vêm o seu carisma e seu respeito à todos aqueles que estavam sob seu comando. Mesmo o mais humilde dos soldados não passava despercebido daquele grande líder (mesmo antes de chegar a patente de General, por todas outras que passo, sempre se preocupou com seus subordinados) tinha preocupação. Inúmeros são os relatos, tanto do lado brasileiro quanto do argentino, com relação a esse lado humano e carismático do Generalíssimo. Há quem diga que durante o conflito no Paraguai (1864-1870), teria pago do "próprio bolso", passagens a soldados, que estavam impossibilitados de lutar e não tinham como voltar a sua terra de origem. Também, há relatos onde afirmam que ele, eventualmente compartilhava sua comida preferida, que era o churrasco, com os soldados e outros subordinados (obviamente esses tinham uma refeição bem inferior à do General). Por essas e outras recebeu o apelido de "General do Povo".
Quem tinha "sangue real", isto é, pertencia a Nobreza. Muita das vezes
já seguiam carreira como oficiais, não começando do mais baixo nível da
hierarquia militar. A ver: Luis Alves de Lima e Silva, o famoso Duque de
Caxias, que não começou como Soldado.
Osório esteve envolvido em muitos conflitos envolvendo o Brasil. Porém, o que muitos não sabem, é que quando estourou a Guerra do Paraguai (1864-1870), o comandante brasileiro não era Caxias como todos aprendemos. Mas sim Osório. Caxias ocupava o cargo de Ministro da Guerra (cargo hoje equivalente à Ministro da Defesa) no início do conflito, posteriormente, após longos anos de batalha e pouco avanço, que Caxias foi encarregado de ir ao Paraguai como comandante. O que acontece é que: como grande parte da guerra foi em território paraguaio, que estavam sob o comando dos exércitos da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) era o argentino Bartolomeu Mitre, pois o Tratado de 1o de Maio era bem claro quanto, no que diz respeito a quem iria liderar as tropas e onde.
Tratado de 1o de Maio ou Tratado da Tríplice Aliança. Foi um tratado firmado
inicialmente entre: Argentina e Brasil, posteriormente, o Uruguai foi
incorporado. O tratado entre outras coisas previa:
1) Guerra na Argentina ou Paraguai: o comando dos exército ficariam à cargo
do argentino Bartolomeu Mitre;
2) Guerra no Brasil: comando das tropas seria de Osório;
3) Guerra no Uruguai: comanda das tropas seria de Venâncio Flores.
O exército brasileiro foi comandado por um argentino? Pelo tratado isso
deveria acontecer, mas na prática, Mitre não conseguiu. Os comandantes
brasileiros não aceitaram e, a todo instante, precisavam agir em conjunto.
Osório era desses tipos de pessoa, que não se importava e ir para a frente de batalha, como se fosse um soldado comum. E, o exército sempre ficava louco, quando seu líder "aprontava dessas aventuras" pois se o líder caísse, quem assumiria a tropa? Um argentino? Talvez alguns preferiam a morte, mesmo que protegendo o Generalíssimo, à ser comandado por um general estrangeiro. Inúmeras vezes ele fez isso. Sua moral era tanta, que agradou até os vizinhos argentinos.
Osório era tão popular, que tal popularidade conquistou até os argentinos.
Ao término do conflito, foi agraciado com a cidadania argentina. Porém,
não pode agradecer com palavras, já que na Batalha do Avaí (1869), levou tiro
no queixo, o que lhe valeu longos anos, sem poder comunicar com voz. Além,
de ter deixado o mesmo impossibilitado pelo resto da vida sem poder comer
churrasco.
A Guerra do Paraguai conseguiu a proeza de unir, e por muitas vezes, quase desunir argentinos e brasileiros. Um não confiava no outro. Ambos se estranharam do começo ao fim do conflito. Contudo, ambos tinham interesse em comum. Já os uruguaios se envolveram no conflito, somente porque os brasileiros colocaram o General Venâncio Flores no poder, após a Batalha de Paissandu, ocorrida em 1865.
No dia 16 de Abril de 1866, após longas discussões, de quem deveria ser o primeiro a entrar em território paraguaio, quase que por unanimidade escolheram Osório a realizar tal cerimônia. Contudo, o mesmo desejava entrar sozinho, isto é, sem tropas. O que causou preocupação. E, quando o mesmo realizou "tal desejo", foi cercado por inimigos paraguaios. Coube ao chefe do 2o Batalhão de Voluntários da Pátria, numa valente e rápida manobra militar, conseguir salvar a vida do Generalíssimo. Ao ouvido daquele Capitão pronunciou: "Gracias tchê! Tu e teus homens são gente monarca e de muita bizarrice". Osório jamais esqueceria daquele daquele jovem capitão alagoense e do ato heroico que salvou a sua vida.
Em 1871 o exército resolveu homenagear Osório com uma espada de ouro. E, na cerimônia, estava presente o Imperador D. Pedro II. Quando o General chegou, o Imperador teria exclamado "oh bravo dos bravos", o militar teria respondido ao monarca: "Não Senhor, Vossa Majestade. O bravo dos bravos, é um só" e apontou para o homens responsável por salvar a sua vida. Esse homem era o encarregado por fazer o discurso de entrega da espada ao Generalíssimo. E, anos mais tarde, aquele homem seria conhecido por outro fato histórico na História do Brasil, a Proclamação da República. Seu nome: Manuel Deodoro da Fonseca.
Osório nessas suas aventuras de ir para o "front" de batalha, quase perdeu a vida na Batalha do Avaí, ocorrida no que ficou conhecida como Dezembrada. O mesmo levou um tiro no maxilar. E, mesmo ferido, tinha consciência que não poderia sair do campo de batalha, pois certamente o exército ficaria sensibilizado e poderia culminar com a perda da batalha. Ao término do conflito e com a vitória dos aliados, finalmente, pode ser tratado, onde teve 5 dentes extraídos, o que para o resto da vida o impossibilitaria de comer sua comida preferida: churrasco. Apesar dos ferimentos e da dor insuportável, Osório ficaria cerca de 1 mês mais no Paraguai, até não aguentar mais e pedir baixa para poder se tratar.
Mais uma prova de como Osório era valente: mesmo com dores insuportáveis
resistiu o quanto pode, para não jogar pra baixo a moral do exército com
a sua ausência.
Ele ainda voltaria ao Paraguai, mesmo não comandando mais as tropas, porém, numa carruagem blindada que ficava bem no meio do campo de batalha, participando como observador dos conflitos. Uma loucura, podemos dizer! Mas, esse "marketing" ousado fez levantar e muito o moral das tropas, que estavam de mal a pior, desde sua saída do exército. Todos queriam protegê-lo a quaisquer custo. Aquela altura, para o Paraguai reverter a derrota praticamente eminente, bastaria capturar Osório para o Brasil declarar a paz ao Paraguai, muito embora, o Tratado da Tríplice Aliança não permitisse nenhum dos países a declarar paz em isolado ao inimigo.
Manuel Vargas, pai de Getúlio Vargas, se inscreveu como voluntário para lutar no Paraguai. Entrou como soldado, saiu de lá como major. O futuro presidente do Brasil, certamente foi muito influenciado pelo "populismo" de seu conterrâneo Osório. Getúlio escutou muito sobre as campanhas do Paraguai, e, é bem provável que seu pai lhe contou muito sobre Osório. Embora seja sabido que Getúlio era profundo conhecedor da Guerra do Paraguai, não há registros informando que ele tenha sido influenciado pelo seu conterrâneo Osório, no que diz respeito ao populismo. Nem mesmo em suas memórias, há alguma pista de onda possa ter surgido o seu populismo. Difícil haver outra explicação para seu populismo, a não ser a influência do General Osório, que certamente foi contada por seu pai Manuel Vargas por diversas oportunidades.
Getúlio Vargas era um conhecedor profundo da Guerra do Paraguai. Dizem
que sabia a data, hora de início e fim, de todas as batalhas ocorridas.
Manuel Vargas conheceu de perto Osório. E, talvez tenha inclusive almoçado
"churrasco" com o generalíssimo, já que como vimos anteriormente Osório,
por vezes, comia com seus comandados. Mas isso não temos como provar. Manuel
foi companheiro e amigo de Floriano Peixoto. E, quando este assumiu a
Presidência em 1892, promoveu o amigo Manuel Vargas a General,
amizade essa que começou no Paraguai e que se estendeu até a morte do
Marechal de Ferro (assim ficou conhecido Floriano Peixoto) em 1895.
Após o término do conflito Osório acabaria virando político filiando se ao Partido Liberal. Em 1877, dois anos antes de morrer, foi promovido a Marechal. Há época a maior patente da hierarquia militar. Porém, é e será sempre lembrado pela patente hierárquica que possuía durante o Paraguai (de General). Morreu em 1879, num casarão (ainda existente) localizado na Rua do Riachuelo. Em 1894, por ordens do presidente e ditador Marechal Floriano Peixoto, os restos mortais do Generalíssimo foram transladados e enterrados à base de um monumento em sua homenagem na Praça XV (no Rio de Janeiro), monumento esse que foi construídos com canhões capturados do Paraguai e derretido. Coube aos irmãos Bernadelli o projeto. No dia da inauguração contou com uma multidão sem precedentes. E, exatos 99 anos, isto é em 1993, seu corpo foi exumado uma vez mais, agora retornando a sua terra natal Rio Grande do Sul, onde hoje repousa em paz. Hoje, infelizmente o seu monumento na Praça XV, está entregue a própria sorte, vítima de vandalismo.
Marechal: foi uma patente militar, que esteve presente até 1967.
Após esse ano, não se concede mais esse título. Muitos já viram esse
título com: Marechal Deodoro, Marechal Floriano, Marechal Randon, etc.,
O último militar brasileiro que teve essa patente foi: Marechal Waldemar
Levy Cardoso (1900-2009)
Somente em caso de guerra, o general mais graduado em atividade, ou seja,
4 estrelas, receberá a 5a e se tornará Marechal.
Osório foi mais que um general, foi um líder, foi um brasileiro. Se deu de corpo e alma pela nação. Tamanhas homenagens são justas. Porém, infelizmente quase nunca são divulgadas, não sabemos quem ele foi. Só sabemos que foi militar, pois General todos associam ao exército. Quando se fala de líder militar, basicamente só se fala de Duque de Caxias. E, ambos, foram contemporâneos, sendo amigos. Amizade essa que acabou e nunca mais voltou por volta de 1870. Em 1873 os militares voltaram do Paraguai começaram a exigir maior participação na política. E, muitos já cogitavam uma República, ao invés, de Monarquia. Osório foi monarquista até o fim da vida. Certo que se ele tivesse simpatizado com esse ideal enquanto vivo, os militares teriam antecipado a proclamação da República.
Na próxima vez que você ver o nome Osório em algum lugar, pense que esse alguém, que tem homenagem em todos lugares, mas que passa despercebido na história, foi um dos maiores nomes da história de nossa nação. Não a toa, até hoje 2018, é a pessoa com mais homenagem em todo país. Muitos foram herói, mas poucos foram como Osório!
Por mais que tenha morrido há quase 140 anos, Osório é até hoje a pessoa mais
homenageada do país. É a única pessoa que tem homenagem em todos os 26
estados e mais distrito federal. E Vargas? Pois bem, Vargas não têm nenhuma
homenagem no estado de São Paulo, devido a guerra que declarou aos
paulista em 1932.