A gente confia em quem a gente conhece
Outro dia estava lembrando de uma ficha que me caiu há uns anos, depois de uma atividade de team building em uma multinacional que eu trabalhei. Eu tinha um grande espaço na agenda da reunião gerencial "para fazer coisas de RH". Naquela época a equipe precisava se sentir mais alinhada e animada, muitas mudanças tinham acontecido e a turma tava meio fragmentada. Quebrei um pouco a cabeça para pensar em uma atividade que tivesse um impacto positivo, mas que não fosse muito abraça-árvore, o grupo era formado basicamente por homens, engenheiros, conservadores, super competentes, não se deixariam encantar por qualquer truque. No final concluí que o que faltava naquele momento era baixar um pouco a guarda e começar a confiar mais um no outro. A turma era forte, mas faltava um elemento unificador. Foi quando me lembrei dessa frase que eu tinha aprendido uns anos antes com uma ex-chefe americana: "A gente confia em quem a gente conhece".
Fizemos então uma atividade em que cada um contou quais foram os momentos mais marcantes em cada fase da sua vida. Foi inspirado no Septênio: a gente divide a vida em segmentos de 7 em 7 anos, e dentro de cada segmento relaciona os fatos mais importantes que aconteceram naquele período, depois todo mundo apresenta o que escreveu. O exercício durou a tarde inteira, desde a solitária reflexão individual, até cada um apresentar seu cartaz. Nem eu sabia o quanto aquela dinâmica seria impactante para o grupo. Me lembro que um executivo contou que quando era jovem seu pai faliu e ele subitamente teve que sustentar a casa. Ele se emocionou e chorou, todos nos emocionamos. Era um cara bem nascido e bem criado, inteligentíssimo e boa praça, e ninguém sabia dessa história. Outro executivo contou que aos 14 ganhou a primeira calculadora científica. (Confesso, na hora me chamou a atenção ele ter listado isso como um fato marcante... Sou de humanas afinal....). Sendo um oriental de finanças, conseguimos todos entender que desde sempre essa foi sua paixão e tudo fez sentido. E assim se seguiu a tarde naquela sala de treinamento em algum hotel em alguma cidade do interior. Ao final, todo mundo ali se conhecia melhor, demos muitas risadas, algumas lágrimas escaparam, nos abraçamos e fomos jantar, leves.
Na saída o chefão parou do meu lado e disse "bom trabalho!". Me senti bem. Era uma proposta arriscada mas todos toparam e isso foi importante.
Nos dias e semanas que se seguiram a equipe foi gradualmente trabalhando melhor junta, se aproximava mais, pedia mais ajuda, compartilhava mais dúvidas e idéias. As pessoas se entreolhavam com um elemento de cumplicidade que não existia antes, e isso foi muito bacana de perceber.
Agradeci mentalmente minha sábia amiga americana e seu conselho: "a gente confia em quem a gente conhece". Quando esse grupo de pessoas passou a se conhecer mais, rapidamente passou a confiar mais nos colegas e o trabalho passou a fluir melhor. Cada um se expôs um pouco, e o resultado foi fantástico! Então resolvi dividir aqui com vocês essa história e essa conclusão.
Em qualquer situação, principalmente para quem está ou quer estar em uma posição de liderança, lembre-se: Você pode ser respeitado, temido, obedecido, mas se as pessoas não te conhecem, não vão confiar em você, e vai ficar bem difícil ser um líder.
Conte a sua história, deixe que saibam seus valores morais e éticos, não se esconda. Se você quer que as pessoas confiem em você, se esse é um ponto importante pra você (e deve ser se você quiser ser um bom líder, por exemplo), precisa se expor e se fazer conhecer para que as pessoas te ouçam, te sigam e te defendam.
Ainda tenho contato com alguns daqueles executivos, alguns viraram bons amigos. Agora que os conheço melhor, acho que vou mandar uma mensagem para perguntar como vão o baseball, os netos, a casa pintada com tinta de barro, a calculadora científica e o Internacional de Porto Alegre. :o)
Docente FGV
7 aAdoro seus posts! Parabéns, Adriana Albuquerque
Diretor de arte sênior / head de criação_FCKTL
7 aÓtimo artigo
Analista PMO Sênior na Logicalis
7 aDri, que alegria receber esse compartilhamento. Excelente reflexão. As pessoas geralmente tem dificuldade de falarem de si mesmo. Foi um inteligente exercício que fez com a equipe, certamente sendo bom tanto para quem falou como para quem ouviu, saindo de lá mais leves e com maior grau de empatia. Quando o ambiente em que estamos é agradável, os bons resultados fluem naturalmente. bjs sds
Consultora Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas. Membro Externo Comitê de Pessoas.
7 aMuito bom, Adriana! Obrigada por compartilhar!
Desenvolvimento Humano | CHO | Bem-estar | Comunicação | Mindfulness | Wellbeing
7 aAdorei!!!! 👏👏