A gente sabe mesmo o que deveria desejar para um ano que se inicia?
Todos os anos paro para escrever aqui um balanço no final de ano e algumas expectativas ou desejos para o ano que se inicia.
É bem verdade que não tenho dedicado tanto tempo a esta plataforma quanto gostaria, acabei ao longo do ano escrevendo mais no Medium a respeito dos desafios de lidar com familiar com doença renal crônica do que nos artigos por aqui, sobre os temas que também me interessam relacionados a carreira, vida e propósito.
Como meus novos textos entraram mais na seara da saúde e de questões pessoais, mesmo que sempre interligados aos meus movimentos e momentos profissionais, á maternidade e ao famoso worklife balance, achei mais adequado mudar de plataforma. Da mesma forma, os textos por lá (ainda) não são públicos porque hoje são (ainda) uma forma de (i) eu me organizar mentalmente (então são uma grande exposição da alma); (ii) eu escrever e compartilhar, com ganhos de escala, os updates com familiares e amigos mais próximos; (iii) eu deixar um registro futuro para o meu filho de tudo o que passamos, tudo o que ponderamos ao longo desse processo; (iv) eu ajudar futuramente outros pais com desafios similares – é um grande caminho de aprendizado que percorremos em pouco tempo, se isso um dia for útil para alguém, acharia ótimo!
Mas na lista das coisas que ainda não fiz, além de escrever mais artigos por aqui, está também publicar aqui no LinkedIn minha fala do dia da minha posse na Aneel. Como não foi bem um discurso, teria que ajustar um pouco o texto que escrevi para organizar meus pensamentos para ficar mais parecido com o que eu falei. Ainda não consegui parar para fazê-lo.
Não obstante, o que eu queria mesmo registar de curioso sobre essa fala é que, por mais que eu tenha chegado à conclusão sobre o que de fato eu gostaria de falar apenas alguns dias antes do evento (sabendo que eu não queria repetir todos aqueles números, dados e desafios do setor elétrico que não cansamos de escutar por aí), muito antes eu já tinha identificado o framework de narrativa que eu gostaria de testar nesta ocasião.
Como contei aqui diversas vezes, desde a pandemia venho estudando bastante sobre narrativas, storytelling, the hero’s journey.... todas essas formas ou lógicas de se contar um história de forma que seja eficiente e condizente com o seu objetivo. E, ainda em 2020, descobri um curso super interessante chamado “Public Narrative”, desenvolvido pelo professor Marshall Ganz, da Harvard Kennedy School of Government. Ainda naquele ano, tentei me candidatar a uma vaga em seu curso à distância, sem sucesso. À época, depois da minha insistência, o seu assistente me indicou onde achar material de referência e público sobre o conteúdo do curso . Li, anotei e super curti. Fiquei muito feliz quando me lembrei disso e encontrei uma ocasião à altura para aplicar o que tinha aprendido.
Basicamente o framework parte do pressuposto de que é importante que saibamos falar sobre algo, em especial, uma ação, em que podemos envolver o público (porque senão, o que lhes levaria a se interessar por que estamos falando?), partindo de um lugar em que a gente se expõe e mostra porque temos algum tipo de autoridade sobre / relação com o tema, e porque identificamos, a partir dos nossos pontos de conexão com o público, que ele também é relevante, necessário, para concretizar essa ação, para tratar dessa questão. O desenho esquemático desse framework eu compartilhei no meu Instagram, mas é este daqui.
Assim, ao invés de falar dos números, dados e desafios do setor elétrico, resolvi falar sobre CONFIANÇA, algo que me é muito caro. Além disso, possuo convicção que todos nós temos um papel a desempenhar para consertar essa crise de confiança generalizada que assola o mundo, o país e o setor. Estamos todos cansados de tanta polarização, desconfiança e fake news, não é mesmo? Então, embora eu ainda não tenha ajustado o texto para compartilhá-lo por aqui, até para vocês poderem verificar e opinar se realmente fiz um bom uso do framework da Public Narrative, o vídeo da minha fala está disponível no YouTube para quem tiver curiosidade.
Agora, voltando para as reflexões de final / começo de ano, depois da minha posse a vida ficou um tanto corrida, com o aprender a trabalhar de outra forma, em outro ambiente, e em conjunto com o já trabalhar, passando por três reuniões públicas ordinárias (RPOs) ainda no mês de dezembro, em que tivemos que decidir sobre processos não necessariamente fáceis. Preciso admitir que estou adorando o novo trabalho! As RPOs me lembram as reuniões de conselhos, um dia muito intenso em que você precisa manter elevada concentração por horas a fio. E a semana se organiza um pouco em torno dessas reuniões, com sorteio de processos, escolha de processos para pautar, redação dos votos e reunião com os agentes sobre seus processos... realmente uma forma diferente de trabalhar da minha anterior, que possui essas reuniões semanais como um centro gravitacional.
E como eu não tirei férias nem recesso no final do ano, minhas atividades com as reuniões públicas acabaram mesmo no dia 29 de dezembro. E com isso, quase imperdoavelmente, acabei não enviando mensagem de “Feliz Natal” do meu gabinete para os servidores e colaboradores da Agência. Mas, no dia 30, consegui parar para escrever algo, e assim lhes transmitir meus votos para 2023.
Foi engraçado porque me sentei para escrever sem saber muito bem por onde começar, porque não sou uma pessoa formal, então é difícil até ajustar o tom de uma mensagem como essa, quando essa é enviada a “Todos”, com mais de 1.000 destinatários. Mas acabei me levando por uma reflexão que eu vinha construindo ao longo da semana em função de um livro que estou escutando no Audible, muito oportuna para esse momento de buscarmos o que queremos quando olhamos para frente.
E daí concluí que é esta a mensagem que eu gostaria de compartilhar não só com meus novos colegas de trabalho, mas com todos vocês que se interessam por esse tipo de reflexão, então transcrevo aqui o texto do meu e-mail de final de ano aos servidores e colaboradores da ANEEL, torcendo para que faça sentido para vocês também:
Caros colaboradores e colegas,
Ontem encerramos oficialmente as agendas de trabalho deste ano de 2022 aqui na ANEEL com a realização da 5ª RPE de 2022. Assim, consegui parar um pouquinho para lhes escrever, gostaria de ter feito isso antes do Natal, mas a correria estava demais!
No dia da minha posse ganhei de um querido amigo um livro que estou amando, chama-se “12 Regras para a Vida: um antídoto para o caos” ( https://amz.onl/d1YIBOJ ). Eu leio, quer dizer, escuto (no Audible ou na Alexa, #ficaadica) a conta gotas, geralmente enquanto dirijo de um lugar para o outro. E, por coincidência, ou sincronicidade junguiana, nesta última semana do ano eu estava escutando o capítulo 4, “REGRA 4: Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje”.
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E uma mensagem muito importante desse capítulo é que a gente mira naquilo que vê, e que a gente realmente enxerga o que quer, com nossa capacidade de focar (inclusive a visão). Assim, é muito importante que pensemos naquilo que realmente amamos, que queremos para a nossa vida, que nos traz alegrias e bem-estar. Devemos nos libertar daquilo que nos faz mal. O passado não pode ser mudado, mas o futuro pode ser melhor.
Neste sentido, desejo a todos vocês que realizem o que realmente desejam em 2023, que direcionem seus olhares e suas intenções para isso, para que suas mentes lhes apresentem novas informações e soluções contribuindo para que consigam aquilo que almejam.
Mas, voltando ao título do capítulo, acho que é relevante reiterar que importante mesmo é focarmos naquilo que nos traz alegrias e bem-estar, do que naquilo que o outro tem, que o outro conseguiu e que é fácil acharmos que também nos satisfaria. Porque esse é um caminho fadado a nos causar frustrações, inveja e ressentimentos.
Por fim, gostaria de compartilhar que no início do ano minha família e eu passaremos por um período desafiador de tratamento de saúde. Espero que seja um período curto e que eu me ausente o mínimo possível, mas desde já espero poder contar com a compreensão e colaboração de todos, e, se possível, com suas boas energias.
Um grande abraço a todos e, para aqueles que estiverem aqui na segunda-feira que vem, nos vemos no dia 02/01/2023!
Agnes
Concluo esta reflexão adicionando que, como faço muitas vezes, leio meus textos para os meus filhos, para ver se o que me move ressoa neles também. Então cheguei em casa, li o e-mail para o meu filho, e a gente o foi comentando com base nos exemplos da vida dele, das comparações que ele ou nós, pais, fazemos entre ele e seus amigos, assim por diante. Mas, ao final, não tivemos como não olhar para o nosso ano que passou, até na linha do passado que não pode ser mudado. Em especial porque foi em 2022 que descobrimos que ele vai passar a vida com uma doença crônica, e ele só tem 11 anos.
Perguntei para ele se ele achou que o ano dele foi mais feliz ou triste. Ele refletiu e disse que foi mais feliz. Daí eu perguntei se foi um ano fácil ou difícil. E ele disse que foi difícil. E foi mesmo, bastante, tive que concordar.
Enche meus olhos ver o quanto esse menino amadureceu. Porque não é para todo mundo encontrar alegrias na dificuldade.
E foi quando eu me dei conta de uma coisa meio óbvia: que a gente dá muito valor à FELICIDADE, quando o que pinta a nossa vida de beleza, mesmo na dificuldade, são os momentos mais efêmeros, de ALEGRIA.
Talvez isso seja um problema do idioma, que para o sentimento perene ou breve, quando negativo, atribua apenas um nome: a tristeza. Mas para o sentimento positivo, com caráter mais perene, atribua o nome de “felicidade”, e para aquele mais furtivo atribua o nome de “alegria”. E a gente acaba dando mais valor para o perene, talvez porque mais longo...
Fato é que a gente é condicionado a avaliar nossas vidas pelo nosso grau de “felicidade”, quando talvez devêssemos focar mais em criar momentos de alegria. Porque essa felicidade perene acho que nem existe, assim como a tristeza, se a gente não a deixar cobrir tudo como um véu.
Volto assim para a minha fala de posse, porque fiz questão de frisar para meus colegas de Diretoria que tenho certeza de que vamos ralar muito juntos, mas que vamos nos divertir muito também.
A gente tem que fazer caber na vida a diversão dentro da dificuldade e do caos. E vai ver que haja até um fator cultural, que torne essa prática mais natural por aqui, porque as pessoas não cansam de enaltecer o quanto o povo brasileiro é feliz e alegre, apesar de tanta desigualdade, pobreza, precariedade...
Daí, por coincidência, ou de novo, sincronicidade junguiana, achei um novo livro muito interessante dentro de uma newsletter sobre novas publicações que costumo receber de um excepcional editora americana. Parece que alguém já estudou o tema que passou a me mobilizar, então já coloquei o livro na minha wishlist do Audible, mas aproveito para compartilhar com vocês como uma “dica – presente de ano novo”, já que o livro é novíssimo, saiu ONTEM (!): The Fun Habit: How the Pursuit of Joy and Wonder Can Change Your Life .
Assim, além de lhes desejar que reflitam bem sobre aquilo que almejam para o ano, faço votos para que curtam o livro (e me mandem seus reviews!) e o novo ano que se iniciou há poucos dias, com tudo de fácil e de difícil que está por vir.
Coordenador Adjunto de Inovação e Engajamento no Mercado na Secretaria de Inovação e Transição Energética - STE.
2 aEstimada Agnes, parabéns pelo artigo e obrigado pelas reflexões. Muito bonito enxergar em seus textos o equilíbrio (ou a busca por encontrá-lo) entre vida pessoal e profissional. Que 2023 lhe traga mais alegrias que tristezas, ainda que seja duro!
Assessora jurídica da Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República (SAJ/PR))
2 aQue texto maravilhoso, Agnes! Emanando energias positivas daqui para o tratamento do seu filho. Conte com a gente se precisar de algo que possamos ajudar. Grande abraço!
Coordenador Geral de Articulação de Políticas para a Transição Energética - MME, Doutorando em Governança e Transformação Digital (PPGGTD-UFT), Mestre em Engenharia de Produção Elétrica
2 aParabéns, Agnes. Sigo acompanhando seu sucesso e desejando muita saúde para toda sua família.
Engenheiro | Gestor | Jornalista | Especialista em transporte | Especialista em esporte | Especialista em tecnologia | Poliglota
2 aEstimada Agnes M. da Costa, parabéns pela confiança e pela coragem de compartilhar suas relfexões. Que o tratamento seja muito eficiente e que o resultado seja melhor que o esperado. Sucesso sempre.
Assessora Especial SE/SRI/PR
2 aBelíssimo! Como a tal da tecnicidade do servidor de Estado precisa, antes de tudo, da humanidade...