Geografia das Coisas
As pessoas querem experiência, mas, acima de tudo, querem conexão. Querem personalização num nível ainda nunca visto. Aristóteles afirmou que a natureza tem horror ao vácuo. Tudo ocupa um lugar no espaço.
Um Estado sem dados públicos confiáveis, acessíveis, interoperáveis e atualizados, por meio de uma infraestrutura de dados espaciais, tende a ser um país desconhecido até pela própria população. A manutenção das liberdades individuais em um ambiente de tecnologia disruptiva, com respeito ao Marco Civil da Internet e à legislação de proteção de dados, precisa estar alinhada ao desenvolvimento do serviço geográfico nacional, de maneira a possibilitar o pleno exercício do direito à geolocalização.
Geoinformação é um direito, e precisamos dessa reflexão para deixar o jogo geopolítico menos assimétrico e atribuir cidadania aos meios urbano, rural, ambiental, marítimo, aéreo e espacial. O mundo sempre foi representado de maneira distorcida. Isso é natural, pois, salvo se formos terraplanistas, representar algo esférico de forma plana sempre causa esse efeito. Como exemplo, a Amazônia legal brasileira, isoladamente, é maior que a União Europeia e seria o sétimo maior país do mundo. Ela é duas vezes e meia maior que a Groenlândia, aquela ilha dinamarquesa no extremo-norte do planeta e que, geralmente, aparece do tamanho de toda a América do Sul no mapa-múndi de Mercator – projeção que aumenta os extremos do planeta e comprime as zonas tropicais.
O Brasil, de maneira oficial, nem está mapeado completamente na escala de 1:100.000, mínima para planejamento, sendo suas principais lacunas exatamente na região amazônica. Se aumentarmos essa escala e quisermos obter suas imagens, ou seja, melhorar sua precisão, esses mapas serão encontrados no Vale do Silício, em Moscou, em Pequim ou na Europa. Pouco há no Brasil. O problema é que o país que não se programa no século 21 será programado por terceiros. A floresta está no Brasil, mas os satélites não são nossos. O país está invertebrado, pois suas vértebras, ou melhor, seus mapas estão expostos para estudo de cientistas fora do país.
Vamos ao Google, ver na opção buscar o que é um algoritmo. Como fazer isso? Primeiro, ligamos o computador, abrimos um browser, nos conectamos à Internet, procuramos o
“Google buscas”, escrevemos a palavra “algoritmo” e pressionamos Enter. Se vier um resultado, guardamos; se não, escrevemos de outra forma e repetimos o processo. Um alerta: em cada uma dessas etapas, há um “SE” que não foi colocado. Se quisermos definir mais precisamente a sequência acima, é possível, a cada etapa, explicitar as alternativas: vou ao computador, SE estiver ligado, vou (“FAÇA”) para o browser, se não, vou ligá-lo, e assim por diante. O “SE” (if) e o “FAÇA” (do) são os elementos-chave em uma sequência de ações.
Ao pararmos para pensar sobre cada passo dado, estamos organizando um conjunto de regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos, que levam à solução de um problema em um número finito de etapas. Tal como uma receita de pizza ou qualquer outra. A descrição das etapas na busca pelo sentido de “algoritmo” é um algoritmo. O que fizemos foi descrever,
Geodireito: Mitos e fatos com detalhes, cada passo que demos para alcançar nosso objetivo: encontrar o significado e guardá-lo. Existem mais definições em outras áreas: lógica, filosofia, linguística etc. Tentando simplificar, o chamado algoritmo é, simplesmente, uma receita, uma sequência de instruções que, ao serem seguidas, levam a um objetivo específico. Consegui o significado ou a pizza ficou pronta.
Em nossa forma rotineira de raciocinar e agir, desenvolvemos “algoritmos mentais” todo o tempo. A descrição da busca no Google é um algoritmo que temos internamente, apreendido,
registrado e usado sem que notemos que é um algoritmo.
O “algoritmo do Google”, ou de qualquer outro sistema da Internet, não controla sua vida. Você o deixa interferir quando lhe fornece dados e permite que um programa pegue esses dados, filtre e descubra seus gostos. Um exemplo pequeno e comum: você entra numa loja de sapatos. O algoritmo do Google registra que entrou na loja de sapatos (seu telefone celular permite identificar onde está). Então, SE você entrou nessa loja, você gosta de sapatos.
E, na base de dados do Google, as pessoas que vão a lojas de sapatos também vão a lojas de bolsas. Assim, você recebe propagandas dessas lojas. Esse tipo de identificação vai crescendo e se tornando um enorme e sofisticado sistema de identificação e ação sobre as pessoas. E quanto à estatística? A estatística pode ser definida como técnicas de coletar e analisar dados. Algoritmos são usados como elementos de organização do caminho para alcançar determinados resultados.
Mapa representa uma verdade formal e deve ser preciso para refletir a sociedade.
Os mapas sempre foram, desde os primórdios da civilização, o guia para os grandes feitos da humanidade. Desde a construção de cidades, para fazer guerras e para orientar as grandes navegações, os mapas tiveram papel crucial para apoiar o planejamento e a concepção de estratégias.
Falar em mapas nos remete ao espaço. O espaço molda nossa visão de mundo, nossas atitudes frente aos outros, nossa política. Modula a maneira como entendemos a sociedade, como nos desenvolvemos e construímos nosso lugar.
A cientista social e geógrafa Doreen Massey nos ensina que o espaço é produto das inter-relações do global com o lugar. O espaço é múltiplo, onde distintas trajetórias coexistem. O espaço está sempre em construção e é “uma simultaneidade de estórias-até-agora”.
O espaço está sempre aberto ao futuro; e para um futuro aberto o espaço também deve sê-lo. O espaço é vivo.
Assim, os mapas decorrem da necessidade humana de dominar o espaço. Da necessidade política de usar o espaço a seu favor e para implementar suas estratégias de conquista.
Os mapas são tentativas de se compreender o espaço e a história, ter uma “visão do todo”, fazer conexões, ainda que estáticas, dominar a complexidade, dominar o espaço. Nos mapas, não existem os desconhecidos. Somente vivendo o lugar nos encontramos com o desconhecido.
No mapa, o espaço é um produto acabado, fechado, coerente, linear e estático. O espaço torna-se sujeito. Mas são os mapas que unem história e geografia, ou seja, espaço e tempo.
Assim, é um mito que mapas representam verdades reais. Os mapas representam uma verdade formal. Sua precisão é que permitirá a continuidade dos grandes feitos da humanidade. Como um guia.
Os mapas são representações, mas sempre haverá, fora deles, terras e mares a desbravar, pessoas e estruturas a conhecer e sonhos a sonhar.
O território é atualmente a plataforma na qual se inserem todas as dinâmicas que devem ser observadas ou geridas diretamente pelo gestor público. É através de uma visão holística do território, ou do espaço geográfico, que todas as idiossincrasias e relacionamentos entre os principais indicadores de gestão se estabelecem. É através da perspectiva territorial que o binômio “desempenho-risco” consegue ser mais bem percebido por meio da proposição e do
acompanhamento de políticas públicas O uso cotidiano do termo precisão conduz a sua utilização de maneira generalista, pois ele costuma ser confundido com outros termos utilizados nas mensurações, como exatidão e acurácia. A fonte dessa confusão torna-se evidente quando se procura uma definição para precisão nos dicionários, como no Houaiss: “a qualidade de ser preciso; exatidão, acuidade, etc.”. Além disso, ao discutir erros associados aos processos de medição, observa-se que o uso de conceitos estatísticos nos vários campos de aplicação é diferente, e o vocabulário utilizado raramente coincide. Entretanto, as interessantes relações existentes entre os três termos – precisão, exatidão e acurácia – podem ser causa adicional de confusão.
Para facilitar a compreensão dos termos, eles serão definidos a seguir, de acordo com Nadal e Silva. A precisão consiste em um conjunto de observações para um mesmo evento e indica o afastamento da medição de cada observação em relação à média das observações. A precisão será maior quanto menor for sua variabilidade em torno da média. A precisão de um conjunto de observações, usualmente, é quantificada como o desvio-padrão de uma série de medidas.
O tempo é o estado atual da atmosfera, ou seja, chuva, frio, geada, nevoeiro. Ele varia de região para região do planeta. Além disso, é necessário entender o clima (média das condições do tempo ao longo de décadas), pois as variáveis analisadas e estudadas atenderão às demandas correspondentes, como agricultura, pecuária, abastecimento de água, navegação aérea e marítima, defesa civil e lazer.
Mas como é realizada a previsão do tempo? É com base nos dados de estações meteorológicas de superfícies e altitude, boias oceânicas e imagens de satélite, que fornecerão dados de temperatura do ar, umidade, precipitação, direção e velocidade do vento, radiação solar, pressão atmosférica, instabilidade/estabilidade atmosférica, temperatura da superfície do mar e tipos de nuvens.
A tecnologia, aliada aos dados, alimenta os modelos de previsão numérica. As simulações dos modelos devem ser analisadas por um especialista, no caso, o meteorologista, que conheça a região geográfica estudada (topografia, vegetação, proximidade do mar, rios).
A evolução da tecnologia voa muito acima da altitude de cruzeiro e na velocidade da luz.
Ao pensar que há pouco mais de 10 anos vivíamos sem o WhatsApp® ou a Internet de alta velocidade, o que esperar daqui a 10 anos? Como tudo na vida, e como todo início de tecnologia, temos os prós e contras, e é nessa linha que os drones são vistos hoje em dia.
Essa informação sobre o território pode promover cidadania, pois permite ao cidadão conhecer, usufruir e articular mudanças às deficiências e às potencialidades do espaço vivido, assim como potencializar uma cidadania promovida pelas políticas públicas, uma vez que os governantes conhecem melhor a população e o território governado.
As cidades inteligentes viabilizam-se pelo conjunto ordenado e equilibrado de inovação, tecnologia e regulamentação, para possibilitar um ambiente seguro para o desenvolvimento do setor.
Todas as cidades já detêm um nível de inteligência. Dizer que uma cidade se tornará “inteligente” é algo que deve ser visto com critérios fundamentados e entendendo o contexto de cada caso. O conceito mais moderno sobre smart city foca a qualidade de vida do cidadão, o fluxo de informações para o planejamento e a gestão dos governantes, além do engajamento e da transparência para toda a sociedade.
Estabelecer a proporção dos investimentos para serem cada vez mais saudáveis, resilientes, sustentáveis, humanos, inovadores e, claro, mais inteligentes!
Busquem a inclusão social e urbana por meio da convergência entre a cidade digital e o potencial humano, o equilíbrio entre o humanismo e a inteligência artificial. As smart cities, ou cidades inteligentes, são aquelas projetadas de forma a utilizar diferentes tecnologias com o objetivo de transformar o ambiente, melhorando o cotidiano e a qualidade de vida da população. Para que, no futuro, as cidades sejam inteligentes, serão necessárias políticas públicas adequadas visando a um desenvolvimento urbano sustentável com o envolvimento de todas as camadas da população e o real entendimento de suas necessidades.
Diferentemente do que se pensa no senso comum, as smarts cities têm como foco principal as pessoas. Nelas, os cidadãos deverão ser capacitados para o entendimento das inovações, o desempenho de novas oportunidades de trabalho, a conectividade com serviços essenciais de maneira a efetivamente se obter sustentabilidade econômica, social e ambiental e, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida para todos. Na ideia de cidades inteligentes não se concebe o afastamento das pessoas; ao contrário, elas são idealizadas para melhorar a vida da população, facilitando seu dia a dia, poupando esforços, aproximando, integrando, reduzindo e implantando, por exemplo, sinais de trânsito inteligentes com a reprogramação automática dos semáforos, telemedicina para redução de doenças, sistemas mais eficazes de reaproveitamento da água, sensores de economia de energia, encurtamento de distâncias ou tecnologias colaborativas para auxiliar a acessibilidade de pessoas com deficiências.
O avanço da tecnologia é irreversível e benéfico. Por si só, não é ela que segrega ou fragiliza pessoas, mas, sim, as próprias pessoas. É preciso preparar a humanidade para o futuro, capacitar a população com um olhar diferenciado para as camadas mais pobres da sociedade, possibilitando que todos tenham acesso a uma educação mais agregadora. Que os direitos essenciais para proteger a dignidade humana não sejam letra morta da lei. Que o cidadão também possa ser protagonista da gestão de sua cidade. A Geografia das Coisas precisa ser estruturada para que os munícipes saibam o “onde” do cidadão.
A inteligência geográfica – integração entre a ciência geográfica e as tecnologias (como
geoprocessamento, sensoriamento remoto, sistemas de localização, SIGs), em seu estado da arte, permite-nos o desvelar não somente do território, mas o entendimento do lugar, com o uso de dados geográficos advindos de diversas fontes, incluindo as colaborativas, estruturadas nas melhores práticas socioambientais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU).
Com esse pensar espacial integrado, desde os levantamentos de dados iniciais, além dos
trabalhos de campo, produtos cartográficos e de sensores remotos, bases preexistentes etc.,
visando a propostas de intervenção no mundo real, conseguimos vislumbrar o alcance da inteligência geográfica e cunhar o termo “Geografia das Coisas” (ou GIS of Things). Não somente uma rede de sensores e dispositivos interligados, mas o surgimento de novas maneiras de integrar e transformar a sociedade, em que dispositivos, vivência, sociedade e sistemas de informação, por meio de redes de informações, interagem e constroem novas relações não humano-máquina, mas cidadão-sociedade-tecnologia, tornando acessível e disponível o que foi prenunciado pelo pai dos sistemas de informações geográficas, o geógrafo Roger Tomlinson, em 1962: “Quando você descobre a Geografia, você ganha um novo par de olhos”.
Cidades humanas e inteligentes compreendem a abordagem de sete campos de análise: habitação, pessoas, governança, mobilidade, meio ambiente, economia e inclusão social inteligentes. Para garantia do bem-estar dos habitantes (art. 182, Constituição), todos esses campos exigem que a política de desenvolvimento urbano proporcione espaços não suscetíveis ao risco de desastres, sendo as cartas geotécnicas municipais instrumentos essenciais para o planejamento e a adequação da ocupação urbana.
Em 1972, a Declaração de Estocolmo (Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente) consagrou o direito fundamental de preservação do meio ambiente, cujo conteúdo encontra-se inscrito em seu princípio primordial: “O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.”
A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o ‘apartheid’, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras fontes de opressão e de dominação estrangeira permanecem condenadas e devem ser eliminadas”. Antigamente, era apenas o mapa que se estendia sobre a mesa como uma toalha para expressar o conhecimento humano sobre os fatos que ocorriam na vizinhança (cidades) ou nas longínquas terras conquistadas (novos continentes). Atualmente, a expressão geoinformação ganha notoriedade graças ao volume de dados e diversos aspectos dessa área. Robusta como uma infraestrutura, ágil como uma commodity e única como um dado, agrupar desde o controle do território até a mobilidade.