Geopolítica e o retorno do dragão chinês

Geopolítica e o retorno do dragão chinês

Luís Tavares Bravo | Publicado no Dinheiro Vivo

Os mercados financeiros internacionais de acções têm se mantido a transaccionar em terreno positivo, continuando praticamente imunes aos factores de risco geopolíticos que apontam para um maior proteccionismo económico a nível global. É certo, a isto não serão alheios alguns factores de caracter fundamental, onde marca o tom uma aceleração do crescimento económico global, em conjunto com a recuperação dos preços ao consumo. Um dos principais destaques está relacionado com o equilíbrio que parece ter retornado em termos de equilíbrio de blocos desenvolvido e emergente, que deverão este ano voltar a crescer, e de acordo com as mais recentes leituras para actividade industrial, até tem vindo a crescer acima das expectativas dos analistas – facto que também tem ajudado a suportar o rallie dos principais índices accionistas. Aqui merece destacar o regresso do dragão económico chinês. De facto os dados provenientes da China parecem apontar para uma forte recuperação para este ano, que foram alicerçados pelos estímulos fiscais implementados nos últimos anos, e pelos mínimos históricos dos preços do petróleo nos mercados internacionais.

Poderá esta sincronização de crescimento e inflação manter as expectativas dos investidores em alta durante muito mais tempo? Depende muito das condicionantes geopolíticas na Europa e nos Estados Unidos. Ignorando o lado obscuro do proteccionismo anunciado pela nova administração norte americana, o sucesso de implementação das medidas chave anunciadas ainda esta semana (ainda que pouco quantificadas) pode indicar o caminho para o resto do ano. Mais tarifas aduaneiras e benefícios fiscais para as empresas (que podem representar um aumento dos lucros por acção para as cotadas em cerca de 10%), menor regulação sectorial, um plano de construção de infraestruturas , e ainda um aumento enorme da dotação para a defesa estão entre as medidas que mais expectativas estão a criar. Mas as margens operacionais estão já esticadas quase ao máximo, e os custos de financiamento deverão subir, à medida que a Fed for normalizando as taxas de juro. Terá portanto que ser “grandioso”, para citar o presidente Trump.

Na Europa, os riscos são os mesmos de sempre. A agenda eleitoral nos países centrais do euro, onde o euro cepticismo tem vindo a crescer nos últimos anos. França e Alemanha lideram a agenda política, mas outros problemas na periferia podem estar à espreita. A Grécia poderá representar novo impasse, no que diz respeito ao fecho da 2ª avaliação do actual programa de resgate, e consecutiva libertação de uma nova tranche de apoio de cerca de 6,5 mil milhões de euros. A que acresce um provável debate relativamente a nova reestruturação de dívida, onde encontra forte oposição dos parceiros e credores europeus que exigem um forte ímpeto reformista por parte do executivo helénico. Isto trará obvias discussões acerca da sustentabilidade económico financeira dos países da periferia num momento em que a europa parece também preparada para largar as medidas que seguram os custos de financiamento extraordinariamente baixos. As reformas estruturais nestes países serão fundamentais para reconquistar os níveis de competitividade e repor os equilíbrio necessários numa fase de subida de taxas. Mais crescimento e inflação na zona euro pode fazer regressar a euforia nos mercados europeus, mas também pode trazer problemas inesperados nos países mais fragilizados, ou periféricos.


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