A GESTÃO DE RISCO NA PANDEMIA DO CORONA VIRUS
Em minha opinião, a estratégia de combate à corona vírus está equivocada! Gestão não é uma arte! Gestão é uma ciência. E a Gestão de Riscos é uma disciplina, também científica. Gestão descamba no processo de tomada de decisão. E, tomada de decisão começa com a coleta de dados; Transformação de dados em Informação, Interpretação da Informação que gera conhecimento. Com o conhecimento estamos aptos a decidir que Ação adotar e então, desencadear as ações pertinentes! Certamente que um dos requisitos de sucesso da ação adotada é a disponibilidade de recursos para empreender a ação.
Sumariamente, se não coletamos dados, se não medimos, não temos informação. Se temos dados e não conseguimos transforma-los em informação, também não temos conhecimento do cenário e, mesmo tendo informações e não soubermos interpreta-las não temos conhecimento. Todos estes elementos contaminam a decisão, contribuem para adoção de ações inócuas, indevidas e mesmo desnecessárias. A consequência é que dispendemos recursos sem conseguir atingir os resultados esperados.
O que queremos gerenciar? O risco de colapso da rede hospitalar ou o Risco de Contaminação da população? Qual o resultado indesejado definido? Em minha opinião: Mortes por Covid 19.
Qual o problema que enfrentamos e que queremos resolver ? Em minha opinião o centro das atenções e o alvo a ser perseguido é diminuir a taxa de transmissão como forma de evitar o colapso da rede hospitalar e diminuir mortes por corona virus. Diminuir a taxa de transmissão resulta em menos pessoas adoecendo e, menos pessoas adoecendo resulta em taxa de ocupação de leitos menor e menos mortes.
Várias ações neste sentido foram adotadas: recomendar e proibir aglomerações; uso de máscara; distanciamento social. As aglomerações institucionais surtem efeito: fechamento de estabelecimentos comerciais e suspensão de aulas presenciais, trabalho remoto, etc. Estes funcionam, mas não são suficientes. Evitar aglomerações por iniciativa da população é um controle frágil pois depende do comportamento de milhões de pessoas. Uso de máscara é uma decisão individual; distanciamento social é uma decisão individual e, todo controle que depende do indivíduo é por definição frágil.
Os números disponíveis sobre a pandemia reforçam esta tese! As medidas adotadas para evitar o aumento da taxa de contaminação não estão surtindo o efeito desejado pela simples razão de serem frágeis. O resultado é mostrado diariamente na mídia: aumento de ocupação e mesmo estrangulamento da rede hospitalar; aumento do número de casos confirmados; aumento de mortes.
Resta uma outra alternativa de ação: A vacina! Como se trata de um recurso escasso, seu uso deveria ser rigorosamente planejado com objetivo de se obter o resultado desejado: DIMINUIR A TAXA DE CONTAMINAÇÃO.
A estratégia adotada foi vacinar primeiramente os profissionais de saúde expostos nas unidades de atendimento o que é correto, embora reativo pois isso pressupõe que eles possam ser contaminados no atendimento a pessoas contaminadas.
O outro critério foi vacinar os idosos, considerados população de risco. De fato, no início esta população apresentou um número maior de óbitos, quando contaminados. Porém, recentemente já se tem estatística de que 25% das mortes ocorreram em pessoas com menos de 60 anos. Adicionalmente, foi esta faixa etária que mais aderiu ao isolamento social e, portanto, contribuiu para diminuir a taxa de contaminação. Porém, esta prioridade não está alinhada com o resultado esperado: DIMUNUIR A TAXA DE CONTAMINAÇÃO. Priorizar a vacinação dos idosos é uma decisão de ação sobre o efeito e não sobre a causa!
A dinâmica da economia não interrompeu seu curso! Produtos e serviços continuam sendo providos. As pessoas precisam se locomover e o transporte público, que é uma fonte de aglomeração, continua ativo.
Neste aspecto, para diminuir a taxa de contaminação a estratégia seria identificar os grupos de maior mobilidade requerida - Coleta de dados e transformação de dados em informação! (aqueles envolvidos na produção de serviços e produtos essenciais) e ai sim imunizar este grupo. Isto resultaria em diminuir o vírus circulante e consequentemente baixar a taxa de contaminação. É bom lembrar que muitos idosos que permaneceram isolados foram contaminados. E por quem? Por pessoas do convívio deles que estavam circulando, na maioria das vezes por necessidades de sobrevivência e de produção de bens e serviços essenciais para a sobrevivência da sociedade. Certamente se estivessem imunes, não teriam contraído e não teriam contaminado aqueles que ficaram em isolamento social, diga-se, os idosos.
Vou pegar o exemplo dos asilos: nestas instituições, embora tenhamos idosos que se contaminados poderiam não resistir, era esperado que se o foco fosse em diminuir a taxa de transmissão, que se imunizasse primeiro as pessoas que lidam diretamente com eles. Isto evitaria a contaminação deles naturalmente pois, estão fisicamente em isolamento contínuo e controlado. Estas pessoas, digo os habitantes dos asilos, poderiam ser imunizadas numa outra fase, quando houvesse mais disponibilidade de vacinas, sem comprometer os resultados esperados e sem comprometer a saúde dessas pessoas.
Como mencionei no início, as decisões precisam ser alinhadas com o resultado esperado e dependem de dados, informações, conhecimento e naturalmente de recursos.
Não é este o cenário que percebo. Não há um alinhamento estratégico de enfrentamento da pandemia. No processo de tomada de decisão, a qualidade da decisão depende dos dados. E, neste aspecto nem isso acontece. O órgão articulador a nível nacional, o Ministério da Saúde, que deveria orientar e definir diretrizes gerais para o enfrentamento da pandemia nem foi competente para concentrar esta coleta de dados de forma sistêmica, ordenada, criteriosa e ágil. E quando tentou fazer isso não conseguia transforma os dados em informação para gerar conhecimento e nem teve agilidade na divulgação dos mesmos. Para se ter conhecimento do cenário da pandemia, foi necessária a iniciativa dos órgãos de imprensa que cumprem este papel, além do papel informativo à população. O fato é que a questão Corona Vírus é um problema nacional, mas que está sendo gerido de forma individual por cada Estado e cada Município, cujo foco no resultado não está alinhado com a dimensão e amplitude do problema e nem alinhado a um resultado esperado.
Adicionalmente, se olharmos os indicadores utilizados pelas Estados e Municípios, percebo que eles estão focados em Taxa de ocupação de leitos, número de contaminados, número de mortos. Todos esses resultados são na realidade consequência da Taxa de Contaminação. Ou seja, taxa de ocupação de leitos, mortes e contaminados são indicadores dos efeitos e não da causa. Taxa de Contaminação sim, este sim deveria ser o indicador principal a ser gerenciado nesta pandemia. Esta distorção ao olhar para o problema tem contribuído para ofuscar o problema principal e consequentemente as decisões e ações de mitigação. Em outras palavras, falta Gestão na sua essência como ciência e na adoção de seus fundamentos!
Adicionalmente, comparar o numero de mortes e o número de contaminados simplesmente não tem significado algum considerando que as populações de estados e municípios são diferentes. O melhor indicado, nestes casos seria por exemplo: contaminados por 100.000 habitantes; mortos por 100.000 habitantes; mortos por 100.000 contaminados que é uma referência mundial quando se produz números estatísticos a nível global, especialmente em indicadores da saúde.
E, deste modo, disperdiçamos recursos e deixamos de salvar vidas por carência do uso e aplicação dos fundamentos da gestao de riscos neste cenário de epidemia nacional. Além disso, os efeitos de açoes desencontradas, equivocadas desebocam em perda de vida, perda da qualidade de vida, reflexos na economia e na geração de renda do país além de comprometer as finanças do Estado.
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3 aBem relevante sua análise, muito esforço, no entanto, o impacto desse gerenciamento atual está, literalmente, negativo. O país tem ótimas instituicoes/profissionais na área de gerenciamento de riscos, podem suportar/apoiar, com excelência, o governo num gerenciamento mais assertivo da pandemia. Seria muito difícil um trabalho conjunto entre a Federação e a Ciência? Penso, eu, que não! Reconhecendo a sabedoria da Ciência, respeitando a soberania do Estado, garantindo a Democracia e Ética, tem tudo para dar certo.
Engenheira de Segurança do Trabalho SR | Albras
3 aExcelente texto! É isso, que falta faz uma gestão eficaz nesse momento. Termos informações não é o suficiente, elas se dispersam quando não são transformadas em dados assertivos, implicando em decisões equivocadas. E os resultados nada promissores...
CONSULTOR HSEC (ESG) Perito Judicial
3 aExcelente Reginaldo! Infelizmente análise de problemas passa longe na gestão da Pandemia. Entendo que a socialização da distribuição das vacinas pelo número de habitantes dos Estados e municípios não é a melhor alternativa. Acho que a vacinação em massa do Norte do país, Amazonas, Amapa, Acre e Rondônia, por exemplo, deveriam ser priorizados, pelo simples fato de que os recursos de saúde e logística no Norte sao precarios. Lá as taxas de mortalidade são mais altas. O critério de distribuição das vacinas acaba sendo político e não técnico.