Gestão em Saúde: Analisando mercado próteses
Não há dúvidas de que o setor de saúde é um dos que mais possuem distorções econômicas, de estrutura e organização. Essas distorções se multiplicam a cada dia comprometendo todo o sistema que já sofre com o envelhecimento da população, falência do modelo de remuneração para toda cadeia produtiva e precariedade, beirando à falência, do Sistema Único de Saúde (SUS).
Falando em distorções, muitas merecem destaque, mas a situação das órteses e próteses, beira ao absurdo! O assunto é tema até de CPI no Senado, onde a comissão diz entregar relatório final em agosto deste ano (2016).
Vou tentar demonstrar um pouco das distorções aqui neste post, partindo de um dado divulgado pelo IESS – Instituto de Estudos de Saúde Suplementar publicado recentemente. A íntegra do estudo pode ser acessada clicando aqui.
O que mais impressiona no caso de órteses e próteses é quão longe a prática lesiva chegou e o quão pune o setor de saúde. O gráfico abaixo mostra a composição do preço de uma prótese de joelho.
Notem que a cadeia comercial desde a fabricação até a comercialização da prótese, adiciona nada menos do que 87,11% ao custo de fabricação. Se considerarmos que o preço de fabricação da prótese, segundo o estudo, é de R$2.096,00, estamos falando em nada menos do que R$16.266,00 adicionados entre a fabricação e venda ao plano de saúde.
Chama a atenção o fato de que os 87% adicionados ao produto, não agregam valor algum ao mesmo, salvo o frete, que em última análise é necessário para que a prótese chegue ao mercado.
Fiz uma tabela para entender os 87% adicionados ao preço de fábrica, vamos a ela:
Notem que os maiores agressores do preço final da prótese são as margens de comercialização, onde temos: 19,06% de margem do médico, 12,66% de margem do distribuidor e 21,24% de margem do hospital.
Somando temos 52,96% adicionado à prótese apenas com as margens de comercialização.
É bom ressaltar que parte da margem certamente tem por objetivo custear o hiato entre o uso, a estocagem e o pagamento/recebimento pela prótese. Mas nem de longe isso justifica uma adição de 52,96% ao custo de fabricação.
É fácil entender o estágio precário atual do sistema de saúde brasileiro. Difícil, porém é resolver tantas distorções num mercado em que os interesses estão se afastando cada vez mais da busca por melhores resultados aos pacientes.
A questão das próteses é apenas uma das muitas distorções existentes no mercado de saúde. Sanear o sistema, dependerá de grandes transformações. Neste contexto, solucionar as distorções no mercado de órteses e próteses seria um bom começo.