"Gestores e a comunicação que transforma"​

"Gestores e a comunicação que transforma"

"Sua comunicação pode transformar a vida corporativa

             Eu venho de uma família fantástica de grandes contadores de histórias, filho de Tonho de Oscar e Marieta e eu não escrevi errado não, é isso mesmo história com “h” que, por mais fabulosas e cheias de adereços que essas possam apresentar, elas são reais, os personagens são reais, os lugares são reais e as situações também são reais. O que pode ocorrer, para preservar a integridade do que quer seja, são as mudanças de nomes, situações, cenário e etc., mas a essência é mantida, é verdadeira, pois aquilo que está sendo contado de fato se deu.

              Tonho, meu pai, tem esse dom de prender a atenção das pessoas quando conta suas histórias de visagens, assombramentos e essas coisas todas que criança quando ouve quer mais é sumir dali de tanto medo, mas não consegue fazer até ouvi-lo contar tudo até o final. Olha, ele bem que poderia ser um auxiliar de oftalmologistas pois, os olhos das crianças saltam e só faltam sair das órbitas, e você pensa que terminou? Que nada e a coisa ainda se prolonga pois, depois de findada a história é aberta voluntariamente a sessão de perguntas, por elas (crianças) que não cessam e pasmem, ele tem resposta para todas. Esse é Tonho, meu pai, o homem que acredita em “lobisomem” e você também acreditaria se a história saísse da boca dele, mas deixemos o meu queridão quieto e vamos dar norte ao que quero falar contigo.

              Você já deve ter ouvido um jogo de futebol sendo narrado por um radialista e em determinados momentos tem-se a impressão de que ele está quase se rasgando tamanha a dinâmica com que esse profissional do rádio conta a partida.

              Imagine então, seu time na final, você que é um torcedor fanático deixa a sala preparadíssima com a aquela tela de LCDEFGHIJK colada na parede com “trocentas” polegadas, com sinal “megamasterpolidigital very plus”, cerveja de absinto, pipoca da NASA (daquelas que você joga para o ar e ela levita para a sua boca), salgadinhos de trufas (o tubérculo), paramentado com o seu manto sagrado (a última versão da camisa de seu time querido), amigos e sócios torcedores de carteirinha e é só alegria e a certeza de que aquele título não vai escapar. Todos sentados, som no último volume, o juiz apita o início da partida e os primeiros palavrões são ouvidos e ganham dimensões assustadoras quando a grande tela pisca e se apaga de vez. O desespero toma conta do grupo quando se certificam que faltou energia elétrica no bairro inteiro e então, uma mente brilhante resolve ligar o celular e encontra uma rádio que está cobrindo o jogo e por alguns segundos não sabe quem é quem de tão rápido que o infeliz do narrador falava, até se darem conta que o time (deles) estava sofrendo um ataque avassalador, com cruzamentos na área, defesas, chutes do meio da rua, bola na trave e você, o dono da casa, suando mais que sovaco de pedreiro em dia de enchimento de laje e sensivelmente, pelo sufoco do momento, já estava sentindo as contrações para parir um ouriço adulto quando de repente a energia elétrica é restabelecida e todos olham para o telão imediatamente e o jogo... está parado, mas o radialista prossegue em sua frenética narração.

              Um coro uníssono soou então naquela sala:

_ “Vaitománu”...

              Bem, apesar da sentença contraída, vocês devem imaginar o monossílabo que se enquadra perfeitamente naquele, digamos assim quase “mantra”.

              Pois bem, é assim que a maioria dos narradores ou locutores de rádio, como queiram, transformam muitas vezes um espetáculo medíocre em algo interessante e grandioso. Ou seja, desde que você não tenha a opção de ver o que ele narra, você realmente acaba entrando no clima imaginário que ele propõe. Não que seja realmente tudo aquilo, mas ele faz com que você acredite que é.

              Vamos deixar o auditivo de lado e partamos agora para o visual.

              Existem situações, no meu ponto de vista, em que uma obra de arte dá a nítida impressão de estar me convidando a participar de uma sessão de cromoterapia, literalmente falando, dada a quantidade de cores que invadem as retinas e contagia com uma alegria e beleza única. Pensem então em uma obra de arte colorida e depois imaginem essa mesma peça em preto e branco. Vou ajudar nisso, mas de trás para a frente. Então pensem em “Morro da favela (1924)

” de Tarsila do Amaral em preto e branco e posteriormente pensem na mesma obra nas cores originais. Notem que a obra em preto e branco não deixa de ser maravilhosa, mas essa mesma obra colorida é maravilhosa e alegre.


              Penso eu que a essa altura do campeonato você deve estar se perguntando o que o Averlan quer passar falando sobre Tonho, o contador de histórias (seu pai), o radialista e essa obra de Tarsila do Amaral?

              Eu respondo e eu gostaria que você refletisse um pouquinho sobre isso, e isso independe da posição que você ocupe na empresa onde atua.

              As três situações guardam relações importantíssimas entre si, pois todas de alguma forma mexem com o “ser humano”, e mais especificamente com o emocional.

              O mais importante nisso tudo é a “Sua” forma de se comunicar pois ela pode “transformar”.

              Quando Tonho toma a palavra para contar uma história ele se envolve, ele mergulha na situação, no personagem, no cenário e ele está convicto que pode “encantar” aqueles que estão ali para ouvi-lo e então ele o faz com a sapiência de um mestre que a vida formou.

              Um Gestor com “G”, tem esses elementos todos os dias nas mãos, na vida real, onde a situação pode ser um problema, o personagem pode ser um funcionário e o cenário pode ser a empresa. Cabe a ele mergulhar no tema, buscar a riqueza de detalhes e ajudar a desdar um possível nó, pois é dessa forma que se “encanta”, fazendo parte da história e transformando os relacionamentos. Com certeza esse exemplo será mencionado de forma positiva e poderá ajudar muitos profissionais quando relatado. Vi muita gente boa se perder pelo caminho por causa de gestores sem habilidade para lidar com pessoas e sem o devido preparo para se comunicar de forma inteligível. Isso me fez lembrar de um trecho de uma música do Rappa (O salto) que diz ... “E regaram as flores do deserto, e regaram as flores com chuva de insetos”...

              Quando falei do radialista eu quis tratar da emoção, da sensibilidade, de uma forma diferente de “dar motivo” para que as pessoas o ouça. Você já ter ouvido a Regina Bittar narrando um jogo de futebol? Não? E a mulher do Google? Regina Bittar é a profissional que empresta a voz para a mulher do Google. Agora imaginem a narração abaixo onde me utilizo dos jargões do “pai da matéria”, o inesquecível Osmar Santos:

              ...”_ Pisou no tomate, bambeou mas não caiu, continua carregando a bola, ripa na chulipa e pimba na gorduchinha, tirulilula, tiruliluli, iiiiiiiiiiiiiiiiii queeeeee gollllllllllllll e é lá que a menina mora”...

              Agora, copie e cole essa sentença no Google Tradutor. Entre com qualquer idioma, mas a saída deve ser em português. Clique no autofalante e você vai entender perfeitamente o que eu quero dizer. Você vai rir um bocado, mas a narradora não consegue dar vida aquelas palavras, pois Osmar Santos chegou ao absurdo de falar 100 palavras em um minuto, narrando uma partida de futebol, mas de uma forma que você realmente entendia e se emocionava com seu jeito singular e inigualável de se comunicar.

              Um Gestor nem sempre tem um cenário perfeito para atuar em seus planejamentos e nem por isso ele deve fazer foco no que há de ruim para “motivar” o seu time, muito pelo contrário, deve incentivar sempre e de forma altruísta. Não estou querendo aqui bancar o apaixonado ou romancista, mas antes de qualquer julgo, lembre-se dessa frase de Jean Cocteau... “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”...

              Finalizando e talvez o mais delicado e quem sabe o mais importante, seja a missão de dar vida ou brilho nos olhos de quem muitas vezes não acredite mais nisso. Independentemente do estágio profissional onde esse colaborador se encontre é possível resgatá-lo e trazê-lo novamente para o jogo. Muitos talentos morrem ou se arrastam pelos umbrais das empresas até sucumbirem sem a devida ajuda. É importante que fique claro que, em momento algum eu estou me posicionando de uma forma paternalista ou protecionista, mas sim com justiça. Quando apresentei a obra de Tarsila do Amaral em preto e branco é a forma com que muitos profissionais se vêem ou seja, belos ainda, mas sem alegria e é aí que o Gestor deve atuar mostrando as cores originais, que estão ali naquele indivíduo simplesmente esquecidas, só isso.

              Me recordo ter recebido uma mocinha em minha célula que havia sido muito mal avaliada nas últimas duas avaliações de desempenho. Ela me foi apresentada e imediatamente a levei para uma sala para conversar. A princípio, ela meio cabisbaixo, quis se justificar sobre o seu passado e os conceitos negativos que havia recebido e eu a interrompi dizendo:

              _ Sua história comigo começa hoje e daqui para frente. O seu passado não vai agregar em nada na nossa relação. Eu não vou te avaliar pelo o que eu não vivi profissionalmente contigo. Seja bem-vinda, nós precisamos de você e acreditamos no seu talento. Vamos para o jogo.

              Foi a conversa mais curta que tive com uma colaboradora e a devolutiva por parte dela foi simplesmente sensacional. O quadro em preto e branco estava colorido novamente e, no período de um mês, partindo do zero, ela já estava bem ambientada e pouco tempo mais tarde já rendia como os demais membros do grupo.

              Os antigos gestores não entendiam tamanha evolução e eu pude exemplificar de uma forma bem simples. Vocês tinham um Maverick V8, encostada na garagem, com os pneus murchos, totalmente empoeirado e me venderam a preço de banana. Hoje esse mesmo carro não tem preço e, a única coisa que fiz foi dar uma lavada geral e uma lubrificada pois, de resto ele estava muito novo.

              Prezados Gestores, vocês estão onde estão por mérito e competência, mas não se esqueçam que, para fazer a máquina andar é preciso cuidar muito bem da “saúde” (simbólico) do seu time que muitas vezes só precisa de uma pequena dose de “VOCÊ” e, isso não requer nenhuma reengenharia ou projeto metafísico, basta apurar os seus sentidos.

              Façamos um excelente dia com excelentes resultados.

              Forte abraço.

Averlan Martins de Souza

Consultor

(Câmbio, FX, Trade, Projetos, Risco, PLD, Investigação, Fraudes e Compliance)

Excelente texto 👏🏾👏🏾 Você está de parabéns...

Edivaldo Storine

Gerente de Filial na Agricase Equipamentos Agrícolas Ltda

7 a

Parabéns!! excelente texto, muito verdadeiro e com uma dose extra de motivação.

Keyla Mariane Braga Cerhorder da Silva

Analista de RH | Recrutamento e Seleção | Talent Acquisition | Tech Recruiter | Generalista | Diversidade

7 a

Concordo com vc Amanda Queiroz. Simplesmente amei este texto.

Amanda B. de Queiroz Luz

Consultora de negócios na FI Group | Inovação, Tecnologia e PD&I

7 a

Me emocionei! Um dos textos mais inteligentes e belos que pude ler sobre o tema. Parabéns!

Vivianne Ribeiro Fábrio

Engenheira de Produção | Software Engineer na Berkana Patrimônio

7 a

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