Google e o conglomerado do século XXI
A reestruturação anunciada ontem pelo Google, criando a Holding Alphabet e separando os produtos de Internet dos projetos visionários, é um movimento interessante para o mercado de tecnologia. Mas o que mais chamou a minha atenção foi o fato de o Google estar adotando uma estrutura de conglomerado, coisa que andava fora de moda desde de que a maioria deles foi desmontada durante os gananciosos anos 80.
Depois de algumas décadas em que investidores, executivos e consultores só falavam de foco, foco e foco; estamos começando a ver algumas das gigantes da tecnologia começarem a se diversificar. Como dizia Alfred Chandler que estrutura deve seguir a estratégia, estamos vendo o Google adotar agora uma estrutura de conglomerado em um movimento similar ao que ocorreu na década de 20 quando DuPont, GM, Standard Oil e Sears começaram a se diversificar e adotar uma estrutura multi-divisional.
Apesar de o Google ter sido o primeiro a se movimentar para uma estrutura de holding, diversas outras empresas de tecnologia estão adotando uma estratégia de diversificação como a Amazon, a Tesla e até mesmo o Facebook. É provável que aos poucos essas empresas também se reorganizem como conglomerados.
A grande diferença na estratégia de diversificação, entre as empresas de tecnologia atuais, dos conglomerados do século XX, parece ser o fato de que no passado, a diversificação era vista como uma estratégia de gestão de portfolio, em que se buscava redução de riscos investindo em mercados estabelecidos e estáveis que pudessem servir de "hedge" quando um dos mercados do grupo passasse por dificuldades.
Agora no século XXI, estamos vendo uma diversificação diferente, em que as empresas de tecnologia estão investindo em apostas de futuro. Projetos e mercados que tenham um potencial de se tornarem novos grandes negócios. Parece uma espécie de aposta como um antídoto para o dilema do inovador, de forma a usar o sucesso do negócio atual para investir na criação de um novo ciclo de crescimento em um mercado novo e de alto potencial.
Para o Google essa nova estrutura vai dar maior clareza na análise financeira da empresa. A nova estrutura também permite ao Google reconhecer e dar mais liberdade e poder para alguns executivos que agora poderão ser CEOs de suas próprias empresas sem sair do Google para um concorrente.
O principal desafio vai ser manter Wall Street satisfeita e resistir as pressões, que certamente surgirão, quando ficar mais claro que o Google gera caixa mas as outras empresas perdem dinheiro, de fazer um spin-off do Google e dividir de fato a holding em duas empresas listadas em bolsa.
Vitor Conceição é empreendedor, executivo e consultor com mais de 20 anos de experiência no mercado de tecnologia, mídia e digital. Pós graduado em liderança organizacional pela Universidade de Oxford.
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