A grande herança de meu avô.

A grande herança de meu avô.

Foto emblemática. Meu avô e eu, lendo livros de uma coleção da década de 70, a “Nova Biblioteca de Contabilidade e Prática Comercial”. Eu, iniciando o curso de Ciências Contábeis e o vô Geraldo, Engenheiro Agrônomo, já aposentado. Cristão, ministro eucarístico da Igreja Católica, me deixou como herança valores inestimáveis, como lealdade, amor ao próximo, humildade e o real sentido do trabalho. Valorizava tanto o trabalho, que após se aposentar como Agrônomo do Estado do Rio Grande do Sul, seguiu na prefeitura do Campus II da Universidade Católica de Pelotas - UCPel até quase completar 80 anos de vida.

Eu nasci mais ou menos nessa época, então sei muito pouco sobre a carreira de agrônomo do Vô, além de alguns trabalhos disponíveis na internet e histórias das Estações Experimentais de Maquiné, Bagé e Domingos Petroline. Nessa última, próxima a Rio Grande, tive o prazer de estar com ele no aniversário do Sr. Amarante, antigo funcionário do Vô e ver um pouco do que ele representava para aquelas famílias. Já sobre a estação experimental de Bagé, hoje Fepagro Campanha, a cada trajeto de Rosário do Sul à Pelotas, ao passar pelo local, dou uma diminuída na velocidade e fico contemplando o que conhecia apenas por fotos, lembrando do meu avô. Quanto as histórias de Maquiné, me foram contadas pela minha avó, Terezinha, que sempre me acolheu nos momentos mais difíceis da minha vida, vibrou e vibra nos mais importantes, rezou e reza por mim todos os dias e, claro, tem um papel fundamental em toda essa história.

Por isso, as lembranças profissionais que tenho do Vô são na sala dele no Campus II da UCPel, com aquela papelada, carimbos, clipes e grampeadores, que eram brinquedos fabulosos para uma criança. De brinquedos de verdade, lembro da casinha branca e vermelha que ficava no pátio do campus e que, embora na minha época de estudante já não existisse mais, o local onde ela ficava anteriormente era o meu preferido para os estudos em épocas de provas.

O Vô, que também era meu padrinho, contribuiu muito com minha educação, incentivando os estudos, a arte e os esportes, me matriculando em cursos de desenho, futebol, natação e assinando revistas de ciência, por exemplo. Retribuir tudo o que ele fazia por mim era pesado, ao ponto que me frustrava uma nota menor que 9 ou 10 para compartilhar com ele no almoço. Desses almoços, aliás, vem uma das maiores lembranças que, ao meu ver, contribuíram com o profissional que sou hoje. Jamais esquecerei dos enigmas que o Vô me passava em um almoço, para que eu pensasse, achasse a solução e a levasse no almoço seguinte.

Porém, a maior lição do meu avô ainda estava por vir. E veio na hora certa, mais ou menos na época dessa foto. Estávamos indo a Bagé para ver o desfile de “07 de setembro” em que meu primo, que na época era médico do exército, iria desfilar. No trajeto, passando por um clube da cidade, falei com orgulho que “na época da minha banda havia tocado naquele clube”.

Foi então que meu avô, naturalmente, me olhou e perguntou, retoricamente, como quem trazia os enigmas dos almoços de outrora: “Hugo, viste que já fizeste de tudo nessa vida?”. Eu estava abrindo um sorriso sem graça, quando ele completou: “...e que ao mesmo tempo não fizeste nada?”. Foi a maior lição que eu tive sobre FOCO.

Desde então, entrei no Curso de Ciências Contábeis, ingressei na carreira profissional como estagiário no escritório do seu Clóvis (a quem devo muito e também foi um grande incentivador) e sai de lá sócio. O Vô Geraldo acompanhou essa parte da minha vida e creio que estivesse muito orgulhoso, tanto que não aceitou muito bem quando eu deixei a sociedade.

Infelizmente, o que veio pela frente ele não conseguiu acompanhar. Mas, sempre esteve comigo, em todos os momentos. Quando há um dilema, seja profissional, ético ou moral, sempre me pego pensando o que o meu avô faria em tal situação antes de tomar uma decisão.

Em retribuição a todos esses ensinamentos, queria dar orgulho ao meu avô. Meu sonho de criança, por muita influência do meu pai, era ser médico. Pensava que assim daria orgulho a ambos. Nunca cogitei a Agronomia, talvez por não o ter acompanhado na ativa. De toda sorte, foi gratificante, no momento dessa foto, perceber a alegria do meu avô com a profissão escolhida por mim, alegria que ele também demonstrava com a banda que eu montei e com todas as minhas simples conquistas. Creio que ele estaria muito orgulhoso hoje, vendo que além de ter me encontrado profissionalmente, sigo, por acaso ou influência inconsciente, os passos dele no Agronegócio, além de estar ministrando aulas e cursos na UCPel, instituição onde cresci com ele, pois era a sua segunda casa. Não tem um dia que eu entre na instituição sem lembrar e agradecer ao vô Geraldo.

Não à toa, adoto o sobrenome dele, Monteiro da Cunha, que apesar de ser o meu primeiro sobrenome, materno, indo de encontro com o usual, foi o sobrenome que escolhi passar ao meu filho João Vicente. E tenho certeza que o meu pai, se ainda estivesse conosco, não se sentiria ofendido por eu ter, de certa forma, preterido o sobrenome "Cardoso" e, sim, ficaria feliz com a homenagem ao grande e bondoso homem que foi o vô Geraldo.

Obrigado por tudo, Vô! Hoje posso dizer que faço algo relevante e tenho foco profissional: sigo os teus passos, carrego os teus valores, o teu sobrenome, sou um Consultor do Agronegócio e aprendiz de Professor, sempre buscando evoluir tanto como profissional quanto como ser humano.

Hugo Monteiro da Cunha Cardoso


Sandro Al-Alam Elias

Consultor de Empresas Rurais Familiares em Sucessão Familiar, Planejamento Tributário, Governança e Gestão Econômico Financeira. Diretor de Novos Negócios e Especialista no Mercado de Terras.

4 a

Belíssima homenagem Hugo, sem dúvida muito do teu avô descrito em tuas palavras reconheço em ti. Que sigas está belíssima trajetória de sucesso profissional e ajuda ao próximo. Teu avô está sorrindo para ti lá do céu acompanhando teus passos.

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