Há décadas onde nada acontece e há semanas onde décadas acontecem
O título deste e-mail é a minha tradução livre da famosa frase de Lenin: “There are decades where nothing happens, and there are weeks where decades happen.” Li e ouvi esta frase algumas vezes durante o mês de maio, citada na carta da Atmos e nos vídeos da Verde Week, e reflete bem o meu sentimento em relação ao mês anterior.
Neste último mês, em particular, cada carta que eu li me surpreendeu em profundidade e qualidade. Enquanto debruçava-me em estudar cada uma delas, parecia que eu havia feito uma matrícula em um curso de especialização em investimentos ou MBA (como queira), onde cada gestor seria um professor de uma disciplina diferente. Gente do mais alto nível, com anos de experiência em investimentos e com bons resultados para mostrar.
Uma das melhores formas de aprender sobre investimentos é ler o que os bons gestores escrevem em suas cartas (algumas gestoras publicam mensalmente, outras semestrais). Particularmente, não gosto de escrever a respeito dos mês que finalizou antes de ler essas cartas e posso explicar o porquê. A quantidade de informação que chega para cada um de nós a todo momento é absurda, e para os que são inscritos em alguns portais de investimento o volume é ainda maior. A informação por si só já não é mais um diferencial; acredito que no momento em que vivemos a curadoria é o fator de diferenciação. Neste sentido, ler o que os melhores gestores escrevem é algo que realmente enriquece, pois além da informações de mercado, eles geralmente abordam a visão de sua gestora de recursos sobre os assuntos, seus estudos a respeito, como estão se posicionando para ganhar dinheiro, etc.
Quero agora apresentar, como um exercício hipotético, os professores desta especialização e suas respectivas disciplinas. São ensinamentos valiosos que podemos acessar de graça.
Fique a vontade para ler o que você tiver mais interesse.
Como foi o mês de Maio?
Pra quem não conhece, a Ibiuna é liderada pelo Mário Torós e Rodrigo Azevedo, ambos foram diretores do Banco Central e são especialista em política monetária. O fundo Ibiuna Hedge STH FIC FIM está rendendo +9,59% no ano, mostrando que eles acertaram muito nesta crise.
Nós tivemos um mês de valorização da bolsa, aproximadamente +8,56%, e trago aqui uma citação da visão da casa a respeito do animo do mercado:
"Uma racionalização plausível seria a de que investidores parecem ter dado o benefício da dúvida a um cenário construtivo que combina estímulos fiscal e monetário sem precedentes, uma saída rápida da recessão em curso e a expectativa de descobrimento de remédio ou vacina que possa conter o ressurgimento de surtos contagiosos do COVID19 no segundo semestre."
Você pode fazer a leitura completa da carta através do seguinte link:
Esta primeira semana de Junho também surpreendeu! Na última sexta-feira, por exemplo, o Employment Report (relatório de emprego dos EUA) teve o maior erro de estimativa da história. Enquanto esperava-se 19,7% de taxa de desemprego, a taxa veio 13,3%, ou seja, houve até geração de postos de trabalho no mês, sendo uma métrica bem positiva e animando o mercado.
Projeções 2020/2021
Para ministrar a disciplina Projeções 2020, eu convidaria o pessoal da Legacy. Em sua carta, a gestora traz algumas analises bem interessantes sobre a COVID-19 e acrescenta, também, algumas projeções. Eles acreditam que a queda do PIB brasileiro, neste ano, será por volta de -9% e estão projetando inflação abaixo do piso da meta para o ano de 2020 (1,1%) e 2021 (2,7%).
Você pode conferir em detalhes a carta completa, no link abaixo:
Gestão em momentos de crise
Um professor que é frequentemente citado pelos outros professores com admiração, posso dizer que é a Dynamo. Para você ter uma ideia, o fundo Dynamo Cougar – que existe desde 1993 –registra um retorno percentual acumulado de 31.570,4% até 2019 contra 875,9% do Ibovespa.
A disciplina ministrada por eles seria Gestão em momentos de crise. A gestora lançou duas cartas no mês passado, sendo a de número 102 (denominada "Côncavo...") falando sobre a COVID-19 e a 103 (denominada "e Convexo") falando sobre mercado de capitais e gestão dos investimentos da casas.
Você vai encontrar muita coisa interessante aqui, desde estudos sobre como era a cadeia produtiva mundial em 1995 em contraste com o ano de 2011, a raridade da crise que estamos vivendo, reflexão sobre qual seria a melhor explicação para um movimento de recuperação tão incomum dos mercados (seria técnica, fundamentalista ou especulativa?) e até tendências futuras.
O que mais me chamou atenção durante a leitura, foi os três vetores elencados, que devemos olhar nas empresas que compõem nossa carteira no momento de crise. São eles:
- Necessidade de saída de caixa;
- Atividades operacionais;
- Inferir as repercussões de longo prazo desta crise.
Destaco aqui um trecho que acredito representar bem o espírito da carta:
"Vestimos o chapéu do analista de crédito obcecado: investigamos cada uma das linhas de crédito e de capital de giro, contratos e emissões de dívidas, observando suas composições, maturidades, covenants, subordinações e conversibilidades, construindo um mapa detalhado da situação de liquidez de cada investimento."
Outro ponto que enriquece na leitura, é a visão sobre as características nos negócios que fazem a diferença na performance dos bons ativos neste momento:
"Companhias mais conectadas com a entrega física de bens e serviços na ponta final – consumo (Natura), varejo (Renner) e shopping centers (BrMalls) – terão um ano mais difícil. Outras sofrerão menos, seja pela sua posição competitiva privilegiada (B3), pelo perfil de longo prazo de seus contratos (Eneva), pela qualidade de seus ativos estratégicos (Vale), pela matriz diversificada de seus segmentos de atuação (Cosan), pela capacidade de ocupar espaços deixados pela concorrência mais fragilizada (Localiza), pela proposta de valor diferenciada para seus clientes (XP), ou pelo seu ecossistema de negócios, preparado para capturar os benefícios das transformações que vimos assistindo (Mercado Livre)."
No final da carta, a gestora faz várias reflexões sobre tendências e cita algumas que parecem já estarem definidas:
"Tendências que se desenhavam devem se acelerar. Três delas já parecem se definir: um ambiente com mais dívida, menos globalizado e mais digital."
Segue o link para leitura completa:
Visão histórica - Fatores do Crescimento
A carta mensal da Dahlia traz uma leitura prazerosa, onde eles iniciam com a seguinte relação lógica:
Preço das ações seguem os lucros das empresas ao longo do tempo > Lucro das empresas seguem, em países desenvolvidos, o crescimento do país.
Você já se perguntou o motivo de alguns países crescerem mais que outros?
Na carta, a gestora elenca três fatores principais: 1) a força das instituições; 2) tecnologia e inovação e 3) demografia e geografia.
E para explicar porque a casa acredita na continuidade da hegemonia americana, ela aborda uma visão histórica a respeito, intitulada "Os peregrinos e os pais fundadores". Vale muito a pena a leitura:
Análise de ação: Estudo de caso Netflix
Uma das metodologias de ensino utilizada pelas principais escolas de negócios, sem dúvidas, é o estudo de caso. Também conhecido como "case", trata-se da análise de um exemplo real em seu contexto.
Então para ministrar esta disciplina em nosso curso hipotético, convidaríamos a IP Participações com sua carta trimestral intitulada "Netflix". Para quem não conhece, a gestora atua desde 1993 e tem um histórico impressionante, inclusive são um dos raros fundos de ações que já estão positivos este ano. Em sua estratégia, a casa investe em empresas no Brasil e no Exterior, tem o mínimo de aplicação inicial de R$1.000,00, onde o investidor estará exposto as principais companhia tech do mercado, como Netflix, por exemplo.
Achei muito interessante o case de Netflix, por ser uma empresa bem conhecida do grande público. É uma ótima forma do investidor entender como a gestora faz sua análise de ações. Um dos pontos mais interessantes da carta, em minha visão, foi quando eles trataram "A Falsa Narrativa de Streaming Wars" (este termo surgiu para referenciar a competição do streaming entre as novas concorrentes: Disney, HBO, Amazon Prime, Apple).
Com certeza, esta tem que ser eleita como matéria obrigatória por aqui:
Visão Macro
O estudante quer entender mais sobre os dados da China, a economia na Europa e política nos EUA de forma resumida? Eu tenho a indicação certa pra fazer, é a carta mensal da Gauss. A gestora seria nossa professora de visão macroeconômica, sem dúvidas. Além do excelente resumo da evolução do cenário, a gestora também explica suas posições de investimento e porque acredita que não há exagero na valorização recente do S&P 500 (principal índice da bolsa americana) e do Ibovespa (principal índice da bolsa brasileira)
Dê uma olhada através do link:
Nossos viéses como investidores brasileiros
Esta carta é simplesmente brilhante, escrita pela gestora Persevera, ela aborda um tema bem interessante sobre os vieses dos investidores brasileiros. Um viés pode ser entendido como uma tendência ou uma forma de olhar desproporcional.
Logo no início da carta, eles elencam 4 obsessões dos investidores brasileiros:
- O eterno trauma com a taxa de câmbio;
- O vício de olhar a dívida pública bruta, ao invés da líquida;
- O viés de acreditar que tudo deriva do resultado fiscal primário;
- O eterno fantasma do risco inflacionário.
A carta finaliza de maneira brilhante, com um convite a não deixarmos os fantasmas do nosso passado assombrarem nossa visão de futuro.
O link da carta está logo abaixo:
Correlação, descorrelação, hedge, beta
Correlação é um assunto importante quando falamos sobre diversificação. Em tese, quando adiciona-se ativos descorrelacionados que tendem ao crescimento no longo prazo, você está diminuindo o risco. É o famoso, último almoço grátis do mercado financeiro. Também é popularmente conhecido como "nunca bote todos os ovos no mesmo cesto".
Na verdade, esta tese rendeu o prêmio Nobel de 1990 ao economista Harry Max Markowitz, também foi base para o famoso "Holy Grail of investing" (Santo Graal dos Investimentos) do Ray Dalio.
E para tratar deste tema, trago a carta da Kadima. Durante a leitura senti com que lendo um artigo científico, muito bem escrito, fazendo jus a denominação de fundo quantitativo (são fundos que operam através de programas computacionais e algoritmos).
Confira a carta completa no link abaixo:
Extra
E para abrilhantar a finalização do nosso curso hipotético "MBA em finanças", não poderia deixar de citar a carta que inspirou nosso título, estou falando da Atmos.
Em sua carta, a Atmos destaca que uma das principais diferenças da crise atual em comparação a 2008 tem sido a velocidade do movimento das autoridades públicas. Outro ponto muito peculiar abordado pela gestora, foi a tendência do nosso cérebro entrar em um estado de overflow informacional, sendo necessário ao investidor ter um olhar temporal mais distante para entender determinados movimentos.
Vale cada segundo do seu tempo esta leitura:
O último conteúdo que quero deixar como sugestão, não é uma carta, mas duas palestras em vídeo promovida pela Verde Asset em um evento online chamado "Verde Week".
A minha primeira indicação é uma live com Luis Stuhlberger e Daniel Goldberg, sobre o Bailouts (injeção de liquidez), que nesta crise estamos vendo uma injeção de dinheiro sem precedentes históricos.
A segunda live que indico aqui é com o time da Verde e o professor Scott Galloway, como convidado. Além de falar sobre as big tech (Amazon, Facebook, Google e Apple), o professor Galloway faz uma reflexão sobre qual empresa tem a estrutura e a logística para distribuir em massa a futura vacina contra a Covid-19.
Espero que de alguma forma esta seleção te ajude na sua caminhada enquanto investidor.
Lista das principais gestoras que acompanho mensalmente: