Hard e soft skills

São termos mais utilizados em recursos humanos, do que nas outras áreas. Infelizmente.

Em resumo:

Hard skills = habilidades técnicas.

Soft skills = habilidades comportamentais.

Eu sempre sou chamado para entrevistar candidatos, na maioria das empresas que trabalhei. No início, focava em teste técnico, perguntas extremamente técnicas. Muito por conta da bolha que o desenvolvedor vive.

Com o passar do tempo, ao me aproximar cada vez mais da gestão e dos gestores, passei a entender onde o calo realmente aperta.

O perfil ideal, é aquele que consegue o dificílimo estágio de equilibrar hard e soft skills. Mas na maioria das vezes, isso não é possível.

E o mercado de TI, como diria meu amigo, irmão e mentor Anildo Silva, vive um dilema que é a discrepância entre a imagem e a identidade do profissional.

Tem muito sênior, ganhando salário de pleno. Mas o pior mesmo é o pleno que acha que é sênior, ou foi erroneamente contratado como tal.

Em geral, o primeiro caso ocorre com profissionais jovens. Pessoas que ainda não tem confiança, não sabem enxergar o quão bom são. Ficam inseguros de pedir promoção. Inseguros de buscar novos ares. Mas não deixa de ocorrer com profissionais mais experientes. Principalmente os heróis, aqueles que todos lembram dele quando há um problema sério para resolver. E esse não sabe dizer não. Não consegue valorizar o próprio trabalho. Depende exclusivamente de bons gestores para ser reconhecido, apesar de produzir muito.

O segundo caso, o pleno que acha que é sênior, ocorre com pessoas mais experientes e é mais difícil de curar. Bem mais difícil.

Nesse segundo caso, temos dois perfis comuns: O trator e o cacarejador.

O trator é o pleno que entrega quantidade sem qualidade. Esse em geral é vaidoso e egocêntrico. Na maioria dos casos apadrinhado por gestores não técnicos que não tem como avaliar a qualidade do seu trabalho, pautados apenas pelas entregas. Pobre do desenvolvedor designado a dar manutenção nos códigos do trator.

E o pleno cacarejador. Aquele que não pode ver um ninho com ovo alheio, que senta e começa a cacarejar. Esse tem a vida bem mais curta do que o trator. Em geral, vira até motivo de chacota, antes da inevitável demissão. Conta vantagem, diz que faz e acontece, sabe tudo, vive roubando o mérito alheio e no fim, acaba dependendo exclusivamente de maus gestores para ter qualquer tipo de sobrevida na empresa. Muitas vezes o próprio gestor dele é outro cacarejador, que acaba se cercando de um ou dois heróis que mantém o avião no ar e uma horda de cacarejadores dizendo que eles é que são os responsáveis por isso.

Já vi squads inteiras serem demitidas, por causa do excesso de cacarejadores.

Mas enfim, o que hard e soft skills tem a ver com isso? Tudo!

O desequilíbrio entre imagem e identidade é culpa exclusiva da falta de soft skills.

Muita gente acredita que soft skills é a pessoa saber falar, ser boa de relacionamento, de trato fácil. Mas não, isso é apenas uma pequena parte das soft skills. O buraco é muito mais embaixo, e a figura do iceberg faz um paralelo perfeito.

Soft skills é conseguir aproximar a imagem da identidade. É saber liderar e/ou saber ser liderado. É ter sentimento de dono, mesmo que seja dono de uma feature, dono da solução de um bug, dono de um feedback para a gestão ou cliente. Sentimento de dono, não é de ser dono da empresa, mas dono do seu trabalho, dono das suas responsabilidades, dono da sua competência, dono da sua vida.

Hoje em dia, nas entrevistas técnicas que realizo, faço as perguntas técnicas chaves. Porque não tem como fugir disso.

Mas foco mesmo é nas soft skills.

Porque na hora de escolher um candidato, vou escolher aquele que equilibrou hard e soft skills em primeiro lugar. Na ausência destes, vou sempre escolher quem tem soft skills. Pois a parte técnica (hard skills) é mais, muito mais fácil de ensinar.

Já soft skills é quase inato da pessoa.

Até dá para desenvolvê-la. Mas é um desafio que pode ser comparado com um procrastinador parar de procrastinar. Um teimoso aceitar que está errado. Um gordinho emagrecer.

E assim por diante.