Harmonizando o Tao com os Capítulos da Vida

Em 2017, ao retornar da minha primeira temporada na China e seguir rumo ao Brasil, escrevi um texto chamado "Stop Separating Your Life Into Chapters", no qual rejeitava a ideia de segmentar a vida em capítulos ou compartimentos. Naquela época, imersa na filosofia oriental, passei a enxergar o mundo através da lente taoísta, que vê a vida como um caminho contínuo, uma jornada em fluxo.

Recentemente, ao reler esse texto, senti a necessidade de revisá-lo. Isso ocorreu porque eu mesma mudei. Minha vida evoluiu, ganhou novos contornos, experiências e significados. Além disso, com a maturidade e o acúmulo de vivências, ganhei uma nova perspectiva, fazendo com que tudo parecesse mais complexo.

Foi então que percebi a utilidade da filosofia ocidental, que vê a vida como uma combinação de fases ou capítulos. Essa abordagem cartesiana oferece uma ferramenta útil para análise, proporcionando clareza sobre as experiências passadas, os padrões que se repetem, e ajudando a decidir quais padrões desejamos manter ou encerrar. Essa perspectiva nos permite assumir um papel mais proativo em nosso destino, racionalizar e ganhar consciência sobre o processo evolutivo da vida, e separar o que é relevante do que não é.

A análise ocidental, nesse sentido, é extremamente útil. Como dizia Sócrates, “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida.” Sem um entendimento crítico, simplesmente deixamos a vida nos levar sem um propósito claro. Por outro lado, a filosofia oriental valoriza a inação, ou wu-wei, confiando na sabedoria universal e encontrando conforto no caos e na incerteza.

Não pretendo criar uma dicotomia entre esses pensamentos. Pelo contrário, o taoísmo pode complementar o pensamento ocidental, e não confrontá-lo. De acordo com as definições, um paradoxo é uma situação que desafia a lógica, enquanto uma contradição é um conflito direto entre duas ideias (figure 1 at the top). Embora a filosofia oriental possa apresentar mais contradições internas, ela não se opõe à filosofia ocidental; ao contrário, pode complementá-la.

Hoje, vejo a vida como uma combinação de ambas as filosofias. Reconheço o valor dos métodos ocidentais de racionalização e análise, enquanto também valorizo o fluxo e a fluidez do pensamento oriental. Identifiquei padrões significativos em minha vida, como mudanças frequentes de país e cidade em busca de aprendizado e oportunidades profissionais, diversidade acadêmica, experiências amorosas variadas, e um espírito empreendedor sempre acompanhado de uma busca por significado espiritual.

Esse reconhecimento de padrões tem sido extremamente útil. Permite-me refletir sobre se quero continuar seguindo esse caminho ou se desejo fazer mudanças. Enquanto o taoísmo me encoraja a aceitar o fluxo natural da vida, aprecio a clareza que a abordagem ocidental oferece para moldar decisões importantes e ajustar comportamentos.

Embora a vida seja imprevisível e esteja sujeita a fatores fora de nosso controle, podemos decidir como abordar o passado e moldar o futuro. Sinto uma profunda conexão com minhas raízes e, ao mesmo tempo, um senso de ser cidadã do mundo, com uma visão holística que integra tanto o pensamento oriental quanto ocidental.

O Tao proporciona uma base para entender que tudo flui e se repete em alguns aspectos, enquanto o racionalismo ocidental nos ajuda a colocar pontos e vírgulas, assumindo um papel mais proativo em nossa vida. Ambas as filosofias, longe de serem contraditórias, se complementam, oferecendo uma abordagem mais completa para a jornada da vida.

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