Hepatites virais: O que você precisa saber

Hepatites virais: O que você precisa saber

As hepatites virais são um grave problema de saúde no Brasil, tanto é que julho é o mês de conscientização e luta contra essas doenças. É o julho amarelo. E a cor amarela foi escolhida justamente por ser associada a um dos sintomas característicos das hepatites, pois a pele e os olhos da pessoa doente tornam-se amareladas (icterícia).

Neste artigo você vai aprender sobre os 5 tipos de hepatites virais, como se pega cada uma delas, quais os seus sintomas, como é feito o diagnóstico e o tratamento.

No final você vai encontrar informações importantes sobre como se proteger das hepatites virais e quando fazer o rastreio delas.

Boa leitura.

 

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Vídeo: HEPATITES VIRAIS: O que você precisa saber

Hepatites Virais

Existem basicamente 5 tipos de hepatites, identificadas pelas letras A, B, C, D e E. Todas são causadas por vírus e cada uma delas têm suas particularidades.

Especialmente para as hepatites B e C que podem ser transmitidas por relação sexual, existe a possibilidade de coinfecção com outras doenças como o HIV e a sífilis.

Hepatite A

O vírus da hepatite A entra no corpo pela boca e é eliminado nas fezes. Sendo assim o contato entre pessoas (especialmente crianças), além do consumo de alimentos contaminados e mal higienizados pode ser fonte de transmissão.

Relações sexuais com pessoas contaminadas também pode ser uma forma de se adquirir a infecção. Mas lembre-se de que adquire-se o vírus pela boca.

A hepatite A é uma doença benigna e muitas vezes em crianças passa-se desapercebida. É comum no consultório a investigação de hepatites virais em pessoas com algum problema no fígado, principalmente gordura no fígado (esteatose hepática). E dai acaba-se descobrindo que a pessoa tem anticorpos IgG contra o vírus da hepatite A, mostrando que ela foi contaminada possivelmente quando criança e se curou sem nem saber que teve a doença.

Uma vez contaminada os sintomas costuma aparecer em cerca de 28 dias. Em crianças menores de 6 anos, apenas cerca de 1/3 desenvolve sintomas. Já a maioria dos adultos vai ter sintomas, que começam de forma abrupta e incluem náusea, perda de apetite, febre, mal-estar e dor na região do abdomêm. Após cerca de uma semana a urina pode ficar escurecida (cor de coca-cola) e as fezes brancas. Em duas semanas a pele e a região branca dos olhos (esclera) podem se tornar amareladas e aparece coceira pelo corpo todo.

O diagnóstico é realizado baseado nos sintomas, e a comprovação definitiva é dada pela detecção de anticorpos contra o vírus (IgM anti-HAV) encontrados em uma amostra de sangue.

A hepatite A geralmente é uma doença que se cura sozinha e que não deixa sequelas. Porém a cura completa pode levar até 6 meses, necessitanto apenas de medicações para os sintomas nesse período. Devem ser evitadas medicações que são metabolizadas no fígado, pois podem piorar os sintomas e trazer consequências mais graves. Por isso o acompanhamento médico é essencial.

Uma vez curada a pessoa desenvolve imunidade contra o vírus, tendo anticorpos IgG anti-HAV positivo pelo resto da vida.

Além de medidas gerais de higiene, existe vacina contra Hepatite A. Leia mais abaixo.

Hepatite B

O vírus da Hepatite B é adquirido a partir de contato com o sangue ou semen de pessoas contaminadas. A forma mais comum de contágio é por relação sexual. Também é relativamente comum entre profissionais de saúde ou pessoas que se machucam com objetos contaminados. Além disso, a contaminação com barbeadores, lâminas de depilação, escovas de dentes ou instrumentos de corte e apara de unhas é possível.

Gestantes contaminadas podem também transmitir a doença para seus bebês durante a gestação, porém a amamentação parece ser segura.

A hepatite B costuma não apresentar nenhum sintoma em cerca de 70% dos casos. Porém pode ser fatal em aproximadamente 1%. Os sintomas quando presentes são os mesmos das outras hepatites: mal estar, nauseas, perda de apetite, icterícia (amarelão da pele e olhos), dor no abdômen em especial na região do fígado (parte superior direita da barriga). Eles aparecem em 1 a 4 meses da contaminação. E somem sem deixar sequelas em cerca de 6 meses, com tratamento dos sintomas apenas, sem necessitar de nenhuma medicação específica.

Em cerca de 5% dos casos a hepatite B pode cronificar. Isso quer dizer que a doença permanece ativa e nestes casos o doente tem mais chances de ter cirrose além de câncer do fígado (hepatocarcinoma). 

O diagnóstico é feito baseado nos sintomas, além da detecção do antígeno HBsAg. Um antígeno é como se fosse uma parte do vírus. No caso da Hepatite B se o antígeno HBsAg for detectado no sangue significa que o vírus está em circulação.

O médico pode pedir outros exames como o anticorpo anti-HBs, que se positivo mostra que a pessoa já teve contato com o vírus da hepatite B, ou seja, desenvolveu anticorpos contra o vírus. Isso pode ser devido a ter tomado vacina ou por ter tido a doença. 

Para diferenciar quem tem anticorpos pela vacina de quem tem por ter tido contato com o vírus é realizado um exame para detectar os anticorpos anti-HBc. Estes anticorpos só são criados por quem teve contato com o vírus. A vacina da hepatite B não produz anticorpos anti-HBc, somente anti-HBs.

É complexo, mas o médico saberá interpretar corretamente o resultado desses exames. Outros exames podem e devem ser pedidos para avaliar a função do fígado (TGO, TGP, Gamma GT, bilirrubinas, proteinas, entre outros). A existência de outras hepatites, em especial hepatite C e a A também devem ser investigadas.

Assim como para a Hepatite A, também existe vacina para Hepatite B.

Hepatite C

A Hepatite C é muito semelhante a Hepatite B, sendo transmitida por relação sexual ou contato com sangue contaminado. Os sintomas quando aparecem costumam também ser de mal estar, cansaço, eventualmente nausea, perda de apetite, dor abdominal e icterícia (pele e olhos amarelos).

É uma doença que normalmente não dá sintomas, mas sendo o risco maior o de se tornar uma doença crônica, sem que o organismo consiga curá-la, aumentando os riscos para outras doenças no fígado como cirrose e câncer. A doença se torna crônica em cerca de metade dos contaminados.

O diagnóstico é realizado com a detecção de anticorpos anti-HCV, que mostram que a pessoa teve ou tem Hepatite C. Para confirmar se a doença esta ativa é feito uma exame para detectar a presença do vírus, com a quantificação do RNA do vírus HCV.

E diferentemente das outras hepatites, além dos remédios para os sintomas, o tratamento é feito com o uso de medicações que combatem e eliminam o vírus (antivirais). O uso é feito por normalmente 12 semanas e a taxa de cura pode chegar a mais de 95% dos casos.

Ainda não existe vacina contra o vírus da Hepatite C.

Hepatite D

A doença Hepatite D é mais rara e, dentre várias razões, um dos motivos é pelo curioso fato de que o virus da hepatite D depende do vírus da hepatite B para se replicar e causar doença. Ou seja, para ter hepatite D, é necessário estar com hepatite B!

É uma doença grave que se torna crônica e pode ser fulminante, e cujo tratamento é apenas de suporte, tratando os sintomas.

Além dos cuidados para Hepatite B, a melhor forma de evitar a Hepatite D é se vacinando para Hepatite B.

Hepatite E

A hepatite E é bem menos comum e é similar a hepatite A, sendo transmitida pela via fecal-oral, com o consumo de alimentos e água contaminados ou ainda pelo contato íntimo com pessoas contaminadas.

É uma doença que na esmagadora maioria das vezes se cura sem deixar sequelas, assim como na hepatite A. A preocupação maior é com gestantes, pois nessas a doença pode ser mais grave.

Não existe tratamento específico e nem vacina para o vírus da Hepatite E.

Como se proteger das hepatites virais

A melhor forma de se proteger das hepatites virais é com bons hábitos de higiene, vacinas para hepatite A e B, bem como rastreio periódico em especial para os vírus B e C.

Medidas de higiene

  • Lavar bem as mãos sempre antes e depois das refeições.
  • Usar álcool em gel nas mãos após contato com pessoas ou superfícies potencialmente contaminadas.
  • Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los.
  • Evitar consumo de alimentos crus e de origem duvidosa.
  • Tomar somente água tratada ou mineral.
  • Usar preservativos além de lavar as mãos e região anal e genital antes de relações sexuais.
  • Não compartilhar objetos de uso pessoal como barbeadores, giletes, escova de dentes, cortadores e lixa de unha.
  • Escolha um profissional e local adequados ao fazer tatuagens, furar orelhas ou partes do corpo para o uso de brincos ou piercings.

Vacinas

Hepatite A:

  • A vacinação é indicada para todas as crianças à partir de 12 meses de idade.
  • Nas unidades de saúde é dada uma dose aos 15 meses de idade, podendo ser vacinado até os 5 anos.
  • Se preferir, na rede particular são 2 doses, uma aos 12 meses e outra aos 18 meses de vida.
  • Pode-se fazer a vacinação até os 60 anos de idade para a eventualidade daqueles que não se vacinaram quando crianças.
  • Porém, para adultos não vacinados, não há necessidade de se vacinar contra hepatite A. A menos que tenha alguma doença hepática ou outra condição, conforme indicação médica.
  • O SUS também fornece a vacina para adultos com outras doenças, como outras hepatites e HIV. É necessário procurar um posto de saúde para estes casos.

Hepatite B:

  • A vacina contra hepatite B foi instituída no Brasil em 1989 para áreas endêmicas da Amazônia, porém só foi ampliada para a população em geral, incluindo crianças recém nascidas, em 2004. 
  • Atualmente é a primeira vacina que todas as crianças recebem nas primeiras 12 horas de vida ainda na maternidade.
  • São três doses, com a primeira ao nascer, depois com 1 mês e outra de reforço aos 6 meses de vida.
  • Na eventualidade de não terem se vacinado quando crianças ou não saberem se tomaram a vacina, pode e deve-se tomar a vacina em qualquer idade, sempre com esse esquema de 3 doses (0, 1, 6 meses). Basta procurar um posto de saúde ou uma sala de vacina da rede particular.
  • Pessoas que tenham maiores riscos de se contaminar ou de desenvolver doença grave devem avaliar se a vacina funcionou medindo o anti-HBs pelo menos uma vez na vida. São elas:
  • Profissionais de saúde.
  • Portadores de Hepatite C ou HIV.
  • Pessoas que convivam com quem têm Hepatite B.
  • Pessoas que fazem hemodialise ou dialise peritoneal.
  • Que tenham risco de adquirir hepatite B em relação sexual, no caso de não saber se o parceiro tem a doença.
  • Neste caso (pessoas de risco e com anti-HBs < 10 mIU/mL depois de dois meses da última dose da vacina) podem tomar um novo esquema de 3 doses, mesmo que previamente vacinados.
  • A população em geral não tem indicação de medir o anti-HBs após a vacinação pois a vacina costuma funcionar na maior parte das vezes.
  • Caso tenha sido dosado o anti-HBs e este não aumente após um novo ciclo da vacina, não há indicação de nova vacinação.

Hepatite A e B:

  • Na rede privada existe uma vacina combinada contra os virus da hepatite A e B.
  • É uma alternativa para aqueles que precisem ou desejem tomar as duas vacinas e preferem reduzir o número de picadas.
  • Neste caso são 3 doses com intervalo de 0, 1 e 6 meses.

Rastreio periódico das hepatites virais

Para todos os adultos há a indicação de rastreio de hepatites B e C pelo menos uma vez na vida ou periodicamente nos check-ups para aqueles com maior risco, como por exemplo:

  • Pessoas que têm relações sexuais com pessoas em que não se conhece as condições de saúde.
  • Profissionais de saúde com exposição a sangue ou material contaminado.
  • A critério do médico que o acompanha.

Conclusão

Existem 5 tipos de hepatites virais, sendo que as do tipo A e E se pegam pela boca, com o consumo de alimentos, água ou contato direto com pessoas contaminadas. Já as Hepatites B e C são de transmissão pelo contato com sangue contaminado ou através de relações sexuais. As hepatites B e C podem se tornar cronicas e predispor a problemas como cirrose ou cancer de fígado. Há vacina para as hepatites A e B e esta é a melhor forma de prevenção, além de bons hábitos de higiene.

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Um forte abraço.


*Este artigo apareceu primeiro no Blog do Dr. Angelo Bannack.

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