A Herança Dourada – O Regresso ao Futuro do Azeite
Frequentemente para contar estórias sobre produtos intemporais começamos pela sua pré-história, metemos egípcios, gregos e romanos pelo meio e damos a típica voltinha pela idade média e os descobrimentos. Mas desta vez vai ser diferente. Não temos um DeLorean, mas vamos levá-lo numa viagem de regresso ao futuro do azeite.
2050 AD – O Olival Pós-Digital
Afinal sempre vamos falar dos tempos antigos, não fossem as oliveiras árvores omnipresentes na história das grandes civilizações mediterrânicas, com alguns exemplares milenares que trouxeram até hoje, embebido nas suas células, a mensagem genética que torna estes seres vivos testemunhas do devir dos tempos, forneceram o azeite que iluminou a idade de ouro do Al-Andaluz, passaram pelas primeiras reformas agrícolas que marcaram a baixa idade média europeia, alimentaram caldeiras durante a era do carvão e do vapor, impeliram a dieta mediterrânica para o estrelado mundial e assistiram à ascensão e queda do óleo de rocha.
Afinal de contas, estamos em 2050 e já nos despedimos do pesadelo dos combustíveis fósseis graças à tecnologia (e bom senso) que representa agora 150% das necessidades energéticas (é verdade, vivemos em superavit energético) através de fontes renováveis como o sol, o vento, a geotermia e a bioenergia, entre as quais energia térmica e bioeletricidade produzida a partir dos resíduos de exploração do olival biológico e dos lagares de azeites, que funcionam de acordo com processos otimizados de extração a frio, fornecendo ao mercado uma nova geração de azeites altamente conceituados.
A utilização de biossensores conectados em rede na agora comum internet-das-coisas permite acompanhar em tempo real e de acordo com modelos preditivos o tempo de maturação das azeitonas, bem como quaisquer necessidades das árvores, assim como para a qualidade ambiental dos olivais.
Junto aos lagares existem pequenos parques de drones preparados para voar até à árvore que emitir um sinal de stress causado por ataque de inseto potencialmente nocivo, falta de água ou desequilíbrio nos nutrientes e oligoelementos indispensáveis para a saúde fitossanitária. Se o caso for complicado, segue um alerta para um especialista humano entrar em ação.
No caso de ataque de potenciais pragas, os biossensores conseguem identificar as espécies e emitir feromonas naturais ou sintéticas que atraiam os seus inimigos naturais que vivem em equilíbrio com as infraestruturas ecológicas que fazem parte da paisagem produtiva das quintas e herdades.
No que se refere à água, todo o trabalho feito ao longo das últimas décadas tem sido no sentido de adaptar os olivais aos efeitos das alterações climáticas. As áreas ecologicamente sensíveis foram integradas em redes territoriais intermunicipal de gestão sustentável como é o caso das zonas húmidas e ribeirinhas e dos bosques e florestas que valorizam a paisagem em milhões de euros (já não usamos euros, mas não vos queremos confundir) de serviços ambientais prestados às comunidades.
Outra vantagem dos biossensores é que permitem às equipas de campo receber informação preciosa nos seus ultrasmartphones sobre a qualidade e as características esperadas para cada uma das múltiplas variedades tradicionais de azeitonas, muitas das quais recuperadas do esquecimento graças a estratégias de valorização do capital natural que permitiram salvaguardar um património genético valiosíssimo que andava disperso e pouco protegido durante as primeiras décadas do milénio.
Graças a estas preciosidades, é agora possível produzir azeites extraordinários para fins alimentares mas também cosméticos e nutricêuticos. Sim, além de algumas características fabulosas do azeite conhecidas há milhares de anos, descobriram-se outras propriedades de consociação entre o azeite e derivados e outros elementos da natureza que permitem combinações fantásticas com inúmeros usos em terapias preventivas e profiláticas que vão desde substitutos da quimioterapia a produtos de regeneração acelerada de pele em vítimas de queimadura ou tratamento de doentes de Alzheimer, entre outros fins.
O Sonho do Presente
À data que estiver a ler este texto, muito do que se fala aqui está entre o reino da ficção científica e a especulação informada, mas há algo que é a mais pura verdade:
- Todos os dias é preciso trabalhar para que os olivais sejam uma parte integrante da Natureza e dos ecossistemas, em balanço com o que a terra pode dar e as necessidades de produção de uma economia apostada no desenvolvimento sustentável;
- Todos os dias é preciso estudar e procurar construir parcerias importantes que criem redes de conhecimento que tragam inovação aos métodos de produção de azeitona e azeite, com maior eficiência no uso e consumo de recursos naturais como a água e o solo, melhor integração dos subprodutos de transformação na geração de composto e de energia;
- Todos os dias se torna fundamental analisar adequadamente as tendências e nichos de mercado mas também os aspiracionais e problemas das comunidades de forma a criar produtos e serviços de excelência e, se possível surpreender com ideias que tragam mais-valias para todas partes interessadas.
Todos os dias é necessário sonhar com o futuro e, com os pés bem assentes na terra, cuidar o melhor que sabemos desta herança dourada.
Estudante de Doutoramento na Universidade de Évora
8 aCom os pés na terra tudo bem.. mas se bem, que voar baixinho não faz mal a ninguém))
Presidente at SPECO - Portuguese Ecological Society
9 aYah....especialmente com a ameaça da Xillela que está a dizimar os olivais mediterranicos. Quanto menos esperarmos está aí .....