Herbie 2.0 – O Carro Autônomo
por Carlos Pedro Staudt
Consultor e professor em sustentabilidade empresarial.
Ecosfera 21 Consultoria Ambiental – São Paulo/SP, Brasil.
A princípio toda tecnologia lícita e pessoal é boa, depende do modo como fazemos uso dela. Isto é, a maneira e a intensidade pela qual a utilizamos. O exagero normalmente implica em transtornos de comportamento como no caso dos Smartfones (celulares), que vão desde o acesso frenético das redes sociais e uso incansável do Whatsapp. Muitos jovens de uma cidade como São Paulo não sabem caminhar sem o auxílio do GPS.
O uso desmedido das tecnologias pessoais reflete a carência de humanidade e solidariedade dos seus usuários. Isso se comprova no pouco tempo que dedicamos ao convívio social e familiar, da conversa real, frente a frente. Pois é no convívio com outras pessoas que nós nos percebemos e nos reconhecemos.
Adentrando no tema do artigo, é importante situar o carro. É definido como veículo automotor, sendo muito popular mundo afora. Também conhecido como veículo de passeio ou automóvel. Nascido há pouco mais de um século tomou conta das ruas das cidades e é o principal vilão da mobilidade, porém não é o único.
Já o carro autônomo, previsto para ser vendido comercialmente em 2025, ainda é pouco conhecido e debatido. Vale salientar que quando novos produtos são alardeadas como sendo grandes avanços da ciência e tecnologia a favor das pessoas e dos negócios, não paramos para refletir as suas implicações em nossas vidas, apenas queremos entender as vantagens/benefícios que normalmente são “garantidos” pelos seus próprios fabricantes.
Nessa linha o carro autônomo parece ser um caso emblemático de inovação. O mais correto seria afirmar que como está na fase de testes ainda se trata de uma invenção, pois não viabilizou-se como produto até o momento. O público em geral aguarda mais essa novidade. Porém já é tempo para pensar melhor sobre o assunto.
Antes de ser lançado o Herbie 2.0 – nome que adotei para me referir ao carro autônomo em geral – esse já traz um certo deslumbramento “uma maravilha Hi-tech dos novos tempos” porém pelo que já pesquisei sobre o assunto, até o momento não identifiquei nenhum benefício que realmente mereça destaque. A publicidade e os meios de comunicação são implacáveis nesse processo pois tem força de construir necessidades artificiais.
Esse veículo dispensa o motorista. Pode então se deslocar com ou sem passageiro. Podemos imaginar diversas situações, por exemplo, uma pessoa que o utiliza para ir ao trabalho e depois o manda de volta para casa. Se vai para uma reunião ou fazer compras – por falta de vaga para estacionar ou para economizar no estacionamento – pode ser programá-lo para dar voltas no quarteirão…
Durante o trajeto o passageiro estaria livre para ler, falar no celular, navegar na internet. Não lhe restará tempo para observar a cidade, os parques, a chuva, o dia ensolarado, e as pessoas. Provavelmente estará preso num congestionamento. O carro se transformará num escritório sobre rodas mas com pouca mobilidade.
Cuidado redobrado com os hackers que podem invadir o sistema e interferir na condução segura do veículo. Não podemos esquecer dos experts que podem adulterar os parâmetros de segurança do sistema em nome dos seus próprios interesses ou de terceiros.
Hoje com o motorista real os acidentes normalmente ocorrem por excesso de velocidade, imprudência, imperícia, irresponsabilidade, uso de drogas e consumo de álcool. A legislação penal é muito branda e um tanto conivente. No caso doHerbie 2.0 como se dará o enquadramento criminal / penal. Como será a legislação para o condutor virtual. A defesa poderia alegar – internet lenta, vírus, entre outras. E se o carro estiver trafegando sem passageiros? Poderá transportar passageiros menores de idade desacompanhados?
Cada vez que nos afastamos do controle da nossa vida e das coisas nós nos alienamos, ou seja, perdemos nossa autonomia. Perda de autonomia significa perda de independência. Serei escravo da tecnologia ou a tecnologia apenas me ajudará nas tarefas do dia a dia? Devemos nos atentar para o limites do seu uso e do espaço que ela irá ocupar na nossa vida. Se a tecnologia permear tudo, ou quase tudo em nossa vida, seremos vitimados por algum efeito colateral muito grave.
Vale lembrar o famoso filme dos estúdios da Disney “Se meu fusca falasse”. Nessa película lançada em nos cinemas em 1969 havia um carro chamado Herbie (estrela do filme). Além de ser autônomo, tinha sentimentos e faltava apenas falar. Talvez isso também possa se tornar realidade se adicionarmos aos carros autônomos em testes, uma inteligência artificial…
Para concluir, temos diante de nós um desafio imenso, um momento especial para refletirmos e tomarmos as rédeas do presente e pensarmos melhor o futuro de maneira coletiva, criativa e responsável. Tudo isso pelo simples fato de sermos os próprios e os únicos agentes do nosso tempo!
Esse veículo dispensa o motorista. Pode então se deslocar com ou sem passageiro. Podemos imaginar diversas situações, por exemplo, uma pessoa que o utiliza para ir ao trabalho e depois o manda de volta para casa. Se vai para uma reunião ou fazer compras - por falta de vaga para estacionar ou para economizar no estacionamento - pode ser programá-lo para dar voltas no quarteirão...