A história da vaquinha
Por Marcos Outeiro;
Dois monges, caminhando pela estrada, encontraram uma choupana, um homem, uma mulher e duas crianças. Todos eram pálidos, magros e pareciam tão tristes. Ao lado, havia também uma vaquinha tão magra quanto o pasto com o qual ela se distraia. O monge mais velho perguntou ao homem do que eles sobreviviam. O homem explicou que ali não havia trabalho e que eles viviam do pouco leite que sua vaquinha lhes dava. E disse também, que quando sobrava alguns litros de leite, ele levava até a aldeia mais próxima e vendia. Despediram-se e o casal e foram para dentro da choupana. O monge mais velho, então, pediu ao mais novo que empurrasse a vaquinha até uma ribanceira, atrás da casa. O monge mais moço, acostumado a obediência, mesmo sem entender a ordem, fez o que o mestre lhe pedia. E os dois continuaram seu caminho.
Na volta, alguns meses depois, passaram pelo mesmo lugar. Mas não encontraram a choupana. Ali havia uma casa ampla e confortável, duas crianças coradas brincavam e riam, enquanto um casal bem trajado e alegre os olhava da varanda. Ao lado e nos fundos havia uma horta enorme e sortida. O monge mais novo perguntou ao casal se eles sabiam para onde o casal anterior havia se mudado, e o que teria acontecido com eles. Foi quando o homem respondeu: “Somos nós mesmos! É que, tempos atrás, depois que dois monges como os senhores passaram por aqui, nossa vaquinha caiu no precipício e morreu. Sem ela, fui forçado a inventar outra coisa para fazer. Comecei a plantar, a horta deu certo. E hoje, temos fartura e podemos vender tudo na cidade. ”
Essa história mostra que, às vezes, a perda de algo importante na qual dedicamos tanto tempo, nos abre o caminho para novos horizontes e possibilidades. Quando nos prendemos ao velho, não conseguimos enxergar a possibilidade no novo.
"O que mata um jardim não é o abandono.
O que mata um jardim é esse olhar
de quem passa por ele, indiferente".
Mario Quintana.