Home Office e Saúde Mental

O formato de home office ou trabalho remoto já era adotado por várias empresas muito antes da pandemia. Anteriormente, esse modelo era visto como um benefício e algumas empresas, inclusive, concediam dias da semana em home office sob o argumento de maior flexibilidade na jornada e aumento na qualidade de vida.

Contudo, com a chegada da pandemia, milhões de colaboradores foram forçados a adotar o trabalho remoto como forma de diminuir os índices de contágio da covid-19. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, no Brasil há 7,3 milhões de pessoas trabalhando em casa durante a pandemia e, destas, 76% possuem ensino superior. A maioria absoluta tem qualificação e carteira assinada.

Portanto, ter a opção de home office é um privilégio para poucos, já que para manter comércios, fábricas e serviços básicos funcionando, a maioria da população ainda precisa se deslocar fisicamente para o trabalho. Muitos estudos têm apontado, porém, que o privilégio do trabalho remoto não se reflete necessariamente em mais qualidade de vida e bem-estar.

Um estudo realizado pela Workana, plataforma de trabalhadores freelancers, mostra que o impacto do home office na saúde mental dos trabalhadores pode ter sido negativo. Em entrevista com 2.810 adeptos desse modelo, 43% declararam que trabalhar em casa resultou em impactos psicológicos.

Outra pesquisa, realizada pela empresa global de inteligência de mercado Ipsos para o World Economic Forum, mostrou ainda que 49% das pessoas que trabalham em home office se sentem isoladas ou solitárias. Além disso, o estresse de conciliar atividades domésticas ou cuidados familiares com atividades laborais pode afetar até 64% dos trabalhadores, especialmente as mulheres.

Um estudo recente da Fundação Dom Cabral em parceria com a Grant Thornton e a Emlyon Business School com 1.075 respondentes, realizado em março de 2021, aponta que 58% dos participantes se sentem mais produtivos em home office, mas que nem sempre o senso de produtividade está alinhado com equilíbrio e bem-estar.

Ao trabalhar nesse modelo, as pessoas relatam receio de perder o convívio social, dificuldade de comunicação ou ainda excesso de horas trabalhadas. A conclusão desse estudo é que embora no início da pandemia as pessoas tenham percebido as atividades remotas como positivas, a continuidade desse modelo por um longo período gera uma maior dificuldade de equilibrar demandas familiares e trabalho, afetando o bem-estar.  

Diante desse cenário, muitas empresas que antes declaravam apoio irrestrito ao home office e inclusive se propuseram a adotar definitivamente o modelo mesmo num cenário pós-pandemia, agora recuam em relação ao trabalho remoto integral. A Head de RH do Google, Fiona Cicconi, declarou aos colaboradores em abril deste ano que o calendário de retorno presencial à empresa estava sendo adiantado. A mensagem indicou que ainda haverá flexibilidade de trabalho, mas a maioria dos funcionários precisará ir aos escritórios.

O Google não está só: Twitter, Amazon, IBM, Microsoft e muitas empresas de tecnologia, embora ofereçam os recursos necessários para a máxima produtividade dos trabalhadores em home office, ainda assim estão caminhando para o modelo de trabalho híbrido. Ou seja, as pessoas irão ao escritório, mas também terão dias de expediente remoto.

Portanto, grande parte das empresas já percebeu que o home office permite flexibilidade, mas não parece ser um modelo válido para 100% do tempo, já que isso tem impactos negativos sobre a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, as organizações têm apostado em formas de priorizar a saúde mental dos colaboradores e, além disso, preparar espaços corporativos que permitam o retorno presencial de forma plenamente adaptada a uma nova realidade. Isso envolve desde rever seus projetos arquitetônicos no intuito de ter mais espaço entre estações de trabalho, melhorar a ventilação natural e intensificar medidas de higiene e limpeza até uma ampla estratégia de comunicação interna para que todos façam sua parte visando um local seguro.

Cada empresa tem uma cultura e valores muito próprios. É fundamental que esse retorno ocorra atrelado à cultura da organização e, principalmente, priorizando o colaborador. Ao indagar como as pessoas desejam esse retorno, quais são seus receios e necessidades, é possível elaborar ações que aumentem o engajamento do time. Ouvir as pessoas e criar espaços seguros para a retomada presencial é um dos caminhos para ajudar os colaboradores a reequilibrar aos poucos a vida pessoal e a vida profissional. Em conclusão, o trabalho remoto tem vantagens, mas a interação presencial e o compartilhamento de ideias no ambiente físico inegavelmente contribui para o bem-estar psicológico das pessoas.  

Vamos conversar mais sobre o assunto?

Estou à disposição para troca de ideias :)