A hora da virada*
Por que este é o momento de retomar os investimentos.
“Nunca antes na história deste País…”. Essa frase, até pouco tempo, era seguida de uma grande realização – às vezes real, outras nem tanto –, mas nos acostumamos, durante mais de uma década, a ser, finalmente, o país do presente – depois de muitos anos sendo o país do futuro.
O fato é que “deu ruim”, como dizem por aí. E vivemos hoje a maior recessão de que se tem notícia na história deste País. De acordo com dados divulgados no dia 7 de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia encolheu vistosos 3,6% em 2016, após ter perdido outros 3,8% em 2015 diante de um crescimento pífio de 0,5% em 2014. Ou seja, em apenas dois anos, conseguimos andar seis para trás.
O ano de 2016 foi especialmente traumatizante: tivemos um processo de impeachment, escândalos semanais de corrupção e a maior queda na economia desde 1990. E no começo deste ano, a sensação que se tem – em conversas com profissionais e empresários de diversos setor – é de que o ânimo continua ruim. A maioria das pessoas ainda está consumida pelo humor dos últimos dois anos, com a percepção de que, na melhor das hipóteses, a economia só começará uma tímida recuperação no segundo semestre deste ano – se tudo der certo.
Não concordo com essa visão.
Se olharmos para os fatos, deixando a emoção de lado, o que se vê é um acúmulo de sinais positivos em diversos âmbitos da economia. A bolsa não para de subir (em 2016 foi a maior alta em todo o mundo), os juros começaram a cair de forma consistente, a inflação já segue para o centro da meta, o real vem se valorizando perante o dólar e o índice de confiança do consumidor começa a se recuperar (ainda que esteja em um patamar bem inferior aos anos de glória de 2011-2012).
É verdade que ainda existem alguns indicadores negativos – o principal deles é o desemprego, que está com a taxa mais alta dos últimos 15 anos. Não podemos, de forma alguma, diminuir o impacto desse índice, que é a mais cruel consequência da crise. Entretanto, ele sempre apresenta um “atraso” em relação à economia em geral, pois como no Brasil a demissão é muito onerosa, as empresas esperam até o último momento tanto para demitir como para contratar. Portanto, é comum que o desemprego aumente depois do início da crise e que volte a crescer apenas alguns meses após o começo da recuperação.
Além disso, a despeito do questionamento válido sobre a qualidade ética ou a legitimidade do governo atual, a verdade é que ele tem duas características fundamentais para acreditarmos que a recuperação que ora se inicia será estrutural e consistente: a sua equipe econômica e a sua habilidade de aprovar medidas polêmicas no Congresso.
Depois de anos vivendo sob um amadorismo, mesmo que bem-intencionado, a equipe que aí está tem credibilidade, experiência e vem mostrando competência em reger a economia do País. Seja na proposição de medidas corretivas a curto prazo, com destaque para a repatriação de divisas do exterior e a disponibilização das contas inativas do FGTS, seja na posição dura, mas eficaz em relação ao combate à inflação e criação de condições sustentáveis para a queda dos juros.
Da mesma forma, no lado político, esse governo tem mostrado competência em aprovar medidas duras e impopulares que garantam um cenário estável para um crescimento a longo prazo. Seja na negociação com os estados, no plano de privatizações ou nas medidas das regras orçamentárias, o governo não tem amolecido no seu plano de adotar medidas amargas para restabelecer a confiança e a solvência do País.
É claro que estamos longe de uma situação confortável e que os riscos são muito grandes. Tanto em relação à incerteza política interna, de uma associação mais próxima do presidente Temer às delações da Lava Jato, quanto às dúvidas políticas e econômicas externas, como medidas protecionistas nos EUA, eleição na França, economia da China etc. Portanto, não faltam ameaças à ainda frágil recuperação que se inicia no Brasil.
Não é fácil tomar a decisão de investir quando as mazelas da maior crise enfrentada pelo País ainda se fazem sentir tão fortemente. Entretanto, os momentos de instabilidade são decisivos para a vida das empresas. Por um lado, aquelas que esperam a calmaria para voltar a investir, em geral, não colhem todos os frutos que uma recuperação econômica propicia. Por outro, aquelas que assumem riscos, com uma boa visão a longo prazo, podem ter resultados expressivos.
Agora é a hora de decidir: queremos andar com a maioria ou buscar a liderança?
*originalmente publicado no Meio & Mensagem
Roberto Grosman, parabéns pela análise. No nosso país, buscar a liderança supõe soltar as amarras que nos prendem à zona de conforto (o meu empreguinho, a minha aposentadoria, a minha casinha). O cenário de mudança exige pessoas dispostas a sair do padrão, da mesmice, a pensar fora da caixa. Vale lembrar uma frase de James Cameron: "se você traçar METAS absurdamente altas e falhar, seu fracasso será muito melhor que o sucesso de todos".