Hora de cruzar o Pacífico? Um ângulo diferente (e mais sóbrio) sobre a China
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Hora de cruzar o Pacífico? Um ângulo diferente (e mais sóbrio) sobre a China

Para quem me acompanha há mais tempo, potencialmente já percebeu meu entusiasmo com o Japão. Nosso investimento em ações japonesas está prestes a completar um ano no Empiricus Money Rider Hedge Fund FIM IE e, de lá para cá, não temos nada a reclamar. O ETF da WisdomTree estruturado com hedges contra a desvalorização do iene apresentou um resultado muito positivo desde julho do ano passado: +34% em dólares.

A tese que permeou a inserção do ETF japonês no portfólio tinha um cunho macroeconômico claro. A política macroeconômica extremamente frouxa praticada pelo BoJ levaria a um avanço do diferencial dos juros americanos frente aos japoneses e isso provocaria uma desvalorização cambial relevante. Como a maior parte das grandes companhias japonesas são exportadoras ou possuem negócios fora do país, seus resultados operacionais avançariam, atraindo o capital estrangeiro.

Já as condições de segunda ordem se entrelaçaram de alguma forma com a questão chinesa. Em primeiro lugar, dada a desvalorização do iene, as exportações japonesas se tornariam mais competitivas e ganhariam espaço nos mercados globais; em segundo, a sintonia entre investidores e a bolsa japonesa sempre foi mais poderosa do que aquela vista com as bolsas chinesas e, portanto, diante da situação desafiadora no gigante asiático, os investidores direcionariam seus recursos para o vizinho.

Até aqui, foi exatamente essa dinâmica que prevaleceu. Ao alocar seus recursos na Ásia, os investidores globais procuraram fugir das incertezas provocadas pela crise do mercado imobiliário chinês e acabaram direcionando seus recursos para o segundo maior mercado da região. Dada a porta relativamente pequena, a Bolsa japonesa subiu com bastante força.

Entretanto, apesar do momento desafiador, a China ainda é um celeiro de oportunidades. Com o intuito de compreender melhor o panorama atual e o futuro da economia chinesa, conversamos com Hsia Hua Sheng, vice-presidente do Bank of China no Brasil, que compartilhou suas perspectivas e insights valiosos no primeiro Asset Day da Empiricus Gestão.

Sheng ressaltou que a economia chinesa está superando as expectativas de muitos analistas do mercado. No primeiro trimestre, o país registrou um crescimento econômico de 5,3%, e para o ano inteiro segue com sua meta, ao redor dos 5%. A rápida recuperação do mercado interno foi especialmente impulsionada pelo consumo durante o Ano Novo Chinês. Além disso, o governo abriu frentes de liquidez para fomentar a circulação de dinheiro, o que, aliado ao aumento das exportações de carros elétricos, painéis solares e baterias, ajudou a impulsionar o crescimento no período.

Olhando para o futuro,  o VP compartilhou três principais fatores que sustentarão o crescimento econômico da China:

  1. Prosperidade Comum: Um programa governamental para reduzir a desigualdade social e a concentração de renda, promovendo maior consumo interno;
  2. Economia Verde: Investimentos significativos em descarbonização e energias renováveis;
  3. Manufatura Digital e Alta Tecnologia: Nacionalização da cadeia produtiva, especialmente em tecnologia, com foco na produção de chips e inteligência artificial, visando a autossuficiência.

De acordo com Sheng, a economia chinesa está passando por uma transição estrutural, na qual alguns setores como o imobiliário ainda enfrentam dificuldades. Em resposta, o governo do país lançou pacotes de estímulo e calibrou sua política monetária para facilitar o crescimento da manufatura. Uma das estratégias adotadas foi a emissão dos títulos de longo prazo para o investidor chinês, cujos recursos serão canalizados aos governos locais, destinados à compra de imóveis e investimentos em infraestrutura, como eletrificação e despoluição. Além disso, houve redução das taxas de juros e da taxa compulsória dos bancos, com o intuito de ampliar a liquidez e incentivar investimentos em modernização industrial.

A política monetária e fiscal da China tem objetivos claros de suporte à economia real e ao crescimento sustentável

No que tange à atração de investimentos estrangeiros, destacou que o mercado de capitais chinês vem se desenvolvendo, inclusive  com a promoção dos chamados "Panda Bonds", voltados para a captação das empresas internacionais, ainda que limitado a empresas com "investment grade". Outro mercado que vem crescendo é o de derivativos, especialmente para commodities como soja, minério de ferro e petróleo, oferecendo ferramentas de hedge para grandes compradores chineses.

Em suma, a economia chinesa vem demonstrando resiliência e adaptabilidade em face dos desafios atuais, com estratégias delineadas para sustentar seu crescimento a longo prazo. As políticas governamentais e os investimentos em tecnologia e infraestrutura são fundamentais para esse processo e devem manter a China em uma posição de destaque no cenário econômico global.

No cenário geopolítico, Sheng, que nasceu em Taiwan, destacou a longa história de integração com a China. "Taiwan faz parte da China há muito tempo[...]. Não vejo nenhuma guerra aí, embora frequentemente prevejam conflitos”. De acordo com ele, a questão é mais política e se resolverá de forma pacífica, sem grande alarde.

Sobre a inversão da pirâmide etária na China e suas implicações econômicas, a modernização da manufatura chinesa, com inteligência artificial e digitalização, reduzirá a necessidade de mão de obra. Dessa forma o ganho de produtividade não virá mais das pessoas, mas da automação, e a China está se preparando para isso, ajustando seu sistema educacional para focar em competências digitais e de engenharia.

De forma geral, o quadro retratado me parece mais positivo do que negativo. É preciso ter em mente que o tempo para os chineses transcorre de forma um pouco diferente da conturbada (e eficiente em certa medida, eu diria) dinâmica dos mercados financeiros ocidentais e, portanto, a velha e boa paciência é algo que precisa estar no radar. Mas para nós investidores sem fronteiras, buscar outros ângulos para compreender melhor as oportunidades que existem por lá é sempre necessário. A hora para ampliar investimentos do lado do Pacífico vai chegar e precisaremos estar preparados.

O comportamento dos mercados em junho e os ajustes nas carteiras

As Bolsas internacionais iniciaram o mês de junho a todo vapor.  O índice S&P 500 bateu sua máxima histórica aos 5.367 pontos e continua com o caminho livre para atingir novos recordes. O Vix, que mede a volatilidade das opções de venda do índice S&P 500, tem se mantido na casa dos 12 pontos, refletindo o baixo apetite dos investidores por instrumentos de hedge.

Diante desse quadro mais positivo, não realizamos mudanças relevantes em nossos portfólios. O comportamento dos nossos fundos internacionais em maio foi extremamente positivo, puxado pelo segmento de tecnologia. E o bom momentum continuou nos primeiros pregões de junho.

Do lado dos fundos de renda fixa (Empiricus RF Ativo e sua versão de Previdência), entregamos resultados positivos em maio. No entanto, a volatilidade dos ativos de renda fixa ainda continua bastante elevada, especialmente nos dias em que são divulgados indicadores econômicos relevantes, como por exemplo, a inflação ou emprego. Surfar neste ambiente não tem sido nada fácil para a maior parte dos gestores brasileiros (e internacionais).

Por fim, é preciso mencionar o fraco desempenho dos fundos de ações locais. O fluxo para as ações dos países emergentes ainda se mostra incipiente e incapaz de mover o ponteiro. Do meu ponto de vista, tal dinâmica precisa ser lida como oportuna. Mas, como sempre digo, a dose de paciência aqui precisa ser elevada.

Forte abraço,

João Piccioni


PS. Ontem, o valor de mercado da Nvidia atingiu a marca dos US$ 3 trilhões e ultrapassou a Apple na corrida pela busca da empresa mais valiosa do mundo. Acredito que em breve, a companhia liderada por Jensen Huang ultrapassará a gigante Microsoft. É questão de tempo…


Apresentamos a seguir a tabela contendo os resultados das principais estratégias da casa, nas janelas mensal, anual, semestral e anual e desde o início. Caso você deseje conferir algum outro fundo que não esteja presente nesta lista, visite o nosso site: www.empiricusgestao.com.br.


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