Hora de tomar decisões
Há algumas semanas eu tive o prazer de participar de um evento chamado Festival Vida&Arte, promovido pelo jornal O Povo, de Fortaleza, CE. Trata-se de um evento multicultural, na maior amplitude possível que se possa atribuir ao termo. Dentre as atrações, várias mesas e debates sobre jornalismo.
Os que mais chamaram minha atenção, e que logo coloquei na minha programação, foram: Como atualizar o jornal impresso na era da Internet, Os bastidores da cobertura do poder, Jornalismo em tempos de pós-verdade, e Novos modos de fazer jornalismo.
O primeiro, Como atualizar o jornal impresso na era da internet, contou com a participação de Ana Naddaf, diretora-executiva da redação do O Povo, e Vinícius Mota, secretário de redação da Folha de São Paulo. Ambos apresentaram os cases de suas empresas, de como elas se posicionaram diante desse boom de web-notícias que tivemos nos últimos anos.
A segunda atração sobre jornalismo que assisti, Os bastidores da cobertura do poder, foi sensacional. A começar pela convidada, a mais nova editora-chefe da revista Época, do grupo Globo, Daniela Pinheiro. Ela está à frente da revista há poucos meses. Antes, fazia parte da equipe da Piauí. No vasto currículo, Daniela tem grandes reportagens, com grandes personagens. Algumas das reportagens geraram um tanto de polêmicas, como o perfil de Ciro Gomes. Foi uma aula de jornalismo! Sensacional!
O jornalismo em tempos de pós-verdades, que antecedeu a sessão de autógrafos do livro de mesmo nome (de Isabel Filgueiras, Plínio Bortolotti, Érico Firmo, Christian Dunker e Durval Muniz), discutiu, como não poderia deixar de ser, o jornalismo em meio a essa crise de fake news. Termo que, inclusive, não me pareceu ser o preferido dos participantes. Daniela Pinheiro, que citei no parágrafo anterior, enquanto espectadora, mais uma vez polemizou: "as fake news venceram". Mas todos os participantes concordaram que o jornalismo está em guerra com as fake news. A questão nem é vencer ou perder, mas lutar para que o leitor saia ganhando.
Por último, já no último dia do Festival, assisti ao debate sobre Novos modos de fazer jornalismo. Esse foi especialmente curioso. Participaram Roger Pires (da Nigéria Filmes), José Orestein (editor-executivo do Nexo jornal) e Carol Monteiro (do Marco Zero conteúdo). O primeiro, um jornalista produtor de conteúdo em vídeo, amante de documentários; os outros dois, jornalistas que trabalham, agora, no que muitos chamam de mídia alternativa. O jornal Nexo e o Marco Zero são produzidos sem a retaguarda de uma grande empresa de comunicação. O compromisso deles é exclusivamente com a informação. Roger, o film maker, chegou a dizer que não faz jornalismo. Talvez tenha sido ingênuo. Documentários são, na minha opinião, a melhor forma de jornalismo em vídeo. Ana Naddaf, que mediou o debate, concorda comigo.
Enfim. O texto já está longo e eu ainda não cheguei onde eu queria chegar. E onde eu quero chegar? Respondo: não é de hoje (nem de ontem) que eu sou firme nas minhas posições a respeito da profissão que escolhi. O jornalismo, infelizmente, estacionou no tempo e, com a crise, sofreu o pior dos impactos. Empresas de comunicação estão fechando, demitindo, enxugando, economizando... Não há exceção. A pedra estava cantada! Só não viu quem não quis; afinal, quem é que vai olhar para a frente enquanto tudo vai bem?
Recomendados pelo LinkedIn
Acontece que os tempos de ouro das empresas de comunicação, principalmente as que vivem (ou viviam) de veículos impressos, acabou. Pararam no tempo e perderam o timing da revolução que a web trouxe. Agora, estão correndo atrás do prejuízo. E, sinto informar, me parece ser tarde demais. Salvo as empresas que já tinham uma boa poupança (e não tiveram que gastar tudo com demissões) ainda têm algum fôlego para correr.
Meu trabalho de conclusão de curso, no jornalismo, foi sobre a “Convergência entre internet e tecnologias sem fio como fator de expansão da comunicação móvel”. Isso foi em 2003! Era aquele o momento que as empresas de comunicação deveriam ter se preocupado. De lá para cá, passaram-se 15 anos! Se em um ano o seu notebook de última geração já não é mais o mesmo... imagina o que acontece com um segmento tão dinâmico quanto a comunicação em 15 anos!
O modo como a informação é consumida mudou. A informação do dia-a-dia está na palma das nossas mãos. Nós quase não precisamos ir atrás dessa informação. Existem aplicativos que fazem isso pra gente, entregando, no horário que a gente quiser, um resumão do dia com links para sites confiáveis e com informação de qualidade.
Uma vez ouvi em um workshop sobre o redesign da revista Galileu, que os veículos impressos precisam fazer o que os digitais não podem fazer. Pode até parecer difícil estabelecer o que é o quê. Mas fato é que ninguém tem paciência de ler, por exemplo, uma grande reportagem na tela do celular. E, quando está em frente ao computador, que tem uma tela maior, acaba encontrando outras coisas mais relevantes para ocupar seu tempo. Por isso eu acho que o papel da comunicação impressa, com o perdão expressão, é imprimir algo que seja mais interessante, mais relevante, mais atemporal, mais valioso, que consuma o tempo que o consumidor estabelecer para aquilo. Só o consumidor importa. E porquê ele se importaria com um monte de papel que traz informações que ele já leu no dia anterior, minutos após os acontecimentos? Se a notícia de ontem tem relevância suficiente para render um aprofundamento, que seja dado, então, no impresso. O digital é ágil. O papel, nem tanto; por isso mesmo deve levar ao consumidor aprofundamentos, grandes reportagens, perfis bem elaborados de gente interessante, etc.
É preciso se reinventar! É hora de valorizar cada uma das pontas envolvidas na produção. Repensar a função de cada um dos canais. Repensar as maneiras como a informação é entregue. Repensar os públicos. Valorizar o engajamento. Aprender com o público. Dar ouvidos ao público, interno (!) e externo. Se o modo como a informação é consumida mudou, que eu acho que é mais do que óbvio para todo mundo, nada mais certo do que mudar também o modo como a informação é produzida.
E você? Concorda? O que você pensa sobre a crise no mercado da comunicação? Quais alternativas você acha que as empresas do ramo têm para correr atrás do tempo perdido? Ainda dá tempo?
Comunicadora Visual | Designer
6 aBoa reflexão Felipe. É preciso coragem e planejamento para mudar!