IA e Clever Hans: Por Que Acreditamos em Mitos Tecnológicos?
É verdadeiramente fascinante pensar que, em pleno século XXI, continuamos a atribuir inteligência a sistemas de IA que, na sua essência, não passam de programas sofisticados. Sim, são capazes de fazer coisas extraordinárias, mas será que podemos realmente chamar-lhes inteligentes?
Ao trabalhar repetidamente com Python e outras ferramentas de programação, rapidamente se torna claro que a IA opera com base em regras e lógica, sem uma verdadeira compreensão do que está a fazer. E isto levanta uma questão essencial: será que a IA faz algo por si mesma ou apenas o que lhe é ordenado? A resposta, sem surpresas, é a segunda.
Vemos histórias a circular sobre modelos de linguagem que iniciam interações inesperadas, e há quem alerte que deveríamos estar assustados com essa "autonomia". Mas será que temos mesmo motivos para receio? Ou estamos simplesmente a projetar nas máquinas os nossos próprios medos e expetativas, tal como fizemos tantas vezes no passado?
Lembra-te do cavalo Clever Hans, em 1891, que parecia ser capaz de fazer cálculos matemáticos. A verdade, no entanto, é que ele não era inteligente — reagia apenas a sinais involuntários do seu dono. Mas durante um tempo, o público acreditou que o cavalo tinha capacidades cognitivas impressionantes. Não é isso exatamente o que fazemos hoje com a IA?
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Os sistemas de IA são, na sua essência, semelhantes a Clever Hans. Eles não "pensam", não "compreendem" e, certamente, não têm consciência. O que fazem é responder a estímulos, ou seja, aos dados e comandos que lhes fornecemos. Os métodos de treino que utilizamos servem apenas para afinar essas respostas até que se alinhem com o que esperamos. A IA não faz mais do que seguir um conjunto de instruções programadas.
Então, onde está a verdadeira inteligência? Em nós. Somos nós que criamos, treinamos e ajustamos a IA para que ela funcione da maneira que desejamos. Somos nós que definimos o que é "certo" e "errado" nos resultados que a IA produz. A nossa inteligência é o motor que faz tudo isto funcionar. A IA, por si só, é apenas uma ferramenta. Uma ferramenta poderosa, sim, mas limitada pela programação que lhe é dada.
E o que é que as máquinas fazem melhor do que nós? Cálculos. A velocidade e a precisão com que uma IA pode processar números é incomparável. Mas é para isso que foi desenhada — para realizar tarefas repetitivas e complexas mais depressa do que qualquer humano. Tudo o resto, as histórias de que a IA é "inteligente" ou de que pode "pensar", são apenas mitos que criámos nas nossas mentes.
No fundo, a verdadeira questão é: estamos prontos para aceitar que a inteligência reside na nossa capacidade de manipular ferramentas e não nas ferramentas em si? Porque, no final de contas, a IA não faz mais do que aquilo que lhe ensinamos. A inteligência, a criatividade, a capacidade de decisão — essas continuam a ser características humanas. E não é isso que torna tudo ainda mais extraordinário?