A ideia genial que não atinge ninguém

A ideia genial que não atinge ninguém

Eu estudei por anos em um colégio estadual do meu bairro em São Paulo. Em frente ao colégio, havia uma pequena lanchonete de um senhor que a gente só chamava de "Tio", e a lanchonete não tinha quase nada, era só balas, chicletes, pirulitos, alguns doces como paçoca e pé de moleque, geladinho e garrafinhas de refrigerante. Nada custava mais do que um ou dois reais.

O Tio nunca teve uma ideia genial, na verdade o negócio dele era bem simples. Mas ele sabia o seguinte: crianças gostam de doces, às vezes carregam moedas e o lugar onde mais tem criança é a escola. Então por que não vender doce na frente da escola? Ele conhecia o público, a rotina do público e o perfil financeiro do público. A lanchonete continua dando lucro há quase 20 anos.
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Faz uns anos que prestar consultoria ou simplesmente ajudar startups estava nos meus planos como uma atividade paralela, e agora em 2015, finalmente comecei a me dedicar ao ecossistema de startups. De uns tempos pra cá, vejo novas empresas, novas ideias e novas pessoas surgindo e desaparecendo na mesma velocidade. E por que será? Com certeza há inúmeras variáveis, mas eu acredito muito na questão de venderem o empreendedorismo como uma ideia inovadora que qualquer pessoa pode ter. Não é bem assim.

Conversando com vários fundadores de startups que estão surgindo agora, eles sempre me dizem: "Nós viemos para resolver uma dor que é a seguinte... a falta de X coisa no mercado". E aí vem o Canvas Model, o pitch, os problemas, as oportunidades, o mercado, a concorrência e nada de público alvo. Como você cria um produto, uma empresa, busca investimento, conselho e até funcionário sem sequer saber quem vai ser o seu cliente? Você não sabe nem se a tal da dor existe mesmo!

Fica bem óbvio que muitos empreendedores que ficam pensando só em frase motivacional e ideia inovadora na verdade só querem o sucesso financeiro e o status glamourizado de empreendedor descolado. 

É irônico que quanto mais a gente se aprofunde num momento muito favorável ao perfil de trabalho orientado a dados, mais pessoas ignorem as possibilidades que uma pesquisa pode trazer e continuem baseando toda a sua estratégia em um simples achismo. Trabalhar na ideia apenas porque ela parece ser interessante não é lá algo que dê muito retorno. A ideia de um Yakult 2 litros é incrível, mas o efeito colateral dela não deixaria ninguém feliz. O avião sem piloto também é uma ótima ideia, mas quem entraria em um avião assim?

Não adianta ficar chorando depois por não conseguir investimento, não conseguir cliente ou parceiro se você não estabelece seu foco e nem seu objetivo. Por mais que essa dica seja óbvia, há quem não pense assim.

Entender o seu público e as reais necessidades dele pode ser a diferença entre se tornar uma piada entre milhares de startups que surgem, ou ser o novo serviço que as pessoas realmente precisam. Se você quer atingir mais pessoas e realmente mudar algo na sociedade, fique menos apegado à ideia e pense mais em problemas reais enfrentados por pessoas reais. Deixe que as agências de publicidade criem soluções para problemas inexistentes.

Sylvio L. Riccó

Business Development Senior

9 a

Muito bom texto. Parabéns

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