Imaginação - a competência mais valiosa que não sabias que tinhas

Já reparaste que a imaginação nunca aparece na lista das competências mais valorizadas pelo Mercado de Trabalho?

Mesmo os trabalhos mais "criativos" são anunciados com referência à "criatividade", mas nunca à imaginação.

E mais: as pessoas imaginativas são consideradas "sonhadoras" (inserir comentário em tom pejorativo).

A verdade é que se não tivesses imaginação, não conseguirias fazer tarefas tão "básicas" como ler este texto. Nem coisas tão complexas como ouvir, de memória, uma música na tua cabeça, sem ela estar a tocar. Não te seria possível recordar uma história, ou compreender a História.

A representação de ideias através de símbolos (isto é, a escrita, em que os símbolos são letras) só é possível porque somos dotados de imaginação. Escrever, repara bem, implica "imaginar" alguma coisa, depois fazer a correspondência mental entre o que se imaginou e as palavras correspondentes, e depois, claro, o ato mecânico de riscar uma folha de papel ou de pressionar as teclas do teu teclado.

Imaginar é tão basilar que não possuir essa competência é mesmo como ser-se mentalmente cego. E há um nome para esta rara condição: afantasia.

Se tu apresentas um funcionamento normal da memória, és capaz de exercer a função simbólica e consegues projetar-te no futuro, não padeces de afantasia. Mas estarás a usar em pleno a tua Imaginação?

O mais provável é que não, tal como eu. Porquê?

1. Há uma estreita ligação entre Educação e Imaginação: e é possível que a primeira te tenha destruído a segunda (até que ponto?, não saberemos até que esteja implementada uma nova Educação);
2. Há uma coisa chamada "Imaginação Estratégica": é possível que em contexto de trabalho nunca to tenham proposto.
3. Como seres humanos cuja identidade assenta largamente na memória, tendemos instintivamente a comportar-nos como se o amanhã fosse igual a ontem.

Mas se imaginar é desbloquear o poder das possibilidades, porque não o usamos mais na gestão dos nossos projetos profissionais, na definição de objetivos pessoais e, de um modo geral, na importante tarefa de visualizar a vida que desejamos ter no futuro?

"O que pode ser medido pode ser gerido"

Esta é a velha máxima que continua a orientar grande parte dos processos nas escolas e empresas: se pode ser medido, pode ser gerido.

E se não puder ser medido mas puder ser imaginado?

Ao focarmos 100% da nossa atenção no que é quantificável, estamos a deixar de fora algo de realmente importante para o futuro dos nossos projetos - aquilo que ainda não foi inventado e que, por essa razão, é revolucionário e tem potencial de diferenciação.

Imaginação e Propósito

Imaginar significa, à letra, "criar imagens". Mas é muito mais do que isso: imaginar é uma atividade existencial e semântica, exclusiva da espécie humana.

Por isso é tão mais abrangente que a criatividade. E por isso está tão ligada àquela outra palavra, essa sim nas bocas de todos: propósito.

Queremos viver com propósito, liderar com propósito, ser liderados com propósito, descobrir o propósito de cada projeto e tarefa. Até nas desgraças que nos acontecem procuramos um propósito, para conseguirmos viver melhor com elas (na Psicologia, usamos a palavra "ressignificar" para este processo).

Uma forma de o fazer é simplesmente imaginar.

The true sign of intelligence is not knowledge but imagination. - Albert Einstein

What is now proved was once only imagined. - William Blake

Nota final: questionei-me muito antes de publicar este artigo. Tive receio de que fosse uma carta fora do baralho, de que não seguisse o fio condutor dos outros conteúdos que tenho publicado. Mas analisando esses mesmos conteúdos, vejo que o que há de comum a todos é a criatividade: a busca de mais criatividade na minha vida e no meu trabalho, ou as reais oportunidades que tenho tido de criar todo o tipo de conteúdos.

Então, e porque a Criatividade não existe sem Imaginação, aqui fica este comentário, que vai também buscar inspiração e conhecimento à minha "costela" de Psicóloga.