Impacto do Covid-19 na Economia e Geopolítica mundial.
Imagem: Lucia Mutikani

Impacto do Covid-19 na Economia e Geopolítica mundial.

Observaremos, nesse meu artigo, os principais impactos que podem acontecer na economia, na geopolítica e também no comércio internacional com os resultados de uma pandemia que praticamente "anulou" os resultados prévios de crescimento econômico das maiores potências globais que vinham em retomada.

Primeiramente devemos entender a proliferação do Covid-19 e sua complexidade em relação às outras pandemias que tivemos desde o início da globalização. E, porque analisamos desde esse momento? Pois o movimento de escala global de abertura econômica dos países vai se mostrar crucial para a disseminação do Covid-19 entre o fim do ano passado e o ano de 2020 por completo.

O primeiro passo é entender a diferença que o Covid-19 tem para as recentes pandemias pós fim da Guerra Fria, pós-era Soviética e abertura de economias outrora fechadas com a impulsão do comércio internacional desde o início dos anos 90. Ao contrário da H1N1, um vírus influenza, o Covid-19 é oriundo de uma outra constituição genética, de maior complexibilidade, e de maior disseminação, o qual eu não tenho expertise para explicar, e isso torna a criação de uma vacina mais complicada. Um segundo ponto se dá no diferente impacto das pandemias localizadas de MERS e SARS; primeiramente, o mundo ainda "engatinhava" na globalização; os principais hubs portuários para o comércio internacional e o movimento de internacionalização de empresas ainda era muito baixo para que ele eclodisse a nível mundial, como o Covid-19 fez através das viagens internacionais, principalmente a negócios com a China. E aqui, a China se torna crucial para o entendimento.

Um país que cresce exponencialmente tanto economicamente como na internacionalização de seus negócios começa a fazer business com diversos locais do mundo, propiciando um maior incremento do país economicamente, geopoliticamente e fornecendo maior negociações internacionais. Em tal ponto, o díspare do aumento de viagens internacionais cresce de maneira significativa desde o "boom" chinês do início da 1a década do Século XXI. Onde o país crescia a taxa de 8-12% em média.

Na China, portanto, já sabemos que "nasce" o Covid-19 no seu principal centro comercial, a cidade de Wuhan, para onde se espalha primeiramente para a Europa, mais especificamente a Itália, que é onde encontramos a segunda correlação com a internacionalização; Bergamo e Milão são centros de comércio têxtil, maquinário e de filiais metalúrgicas Chinesas, o que faz o vírus se espalhar rapidamente na região mais forte economicamente da Itália; e logo, sem as fronteiras fechadas, e subestimando o vírus, se espalha pela Europa via aeroportos, portos para Rússia, os EUA e a posteriori para América Latina, com o Brasil como epicentro, principalmente por ter diversos hubs aéreos [e aqui vemos a diferença com a Argentina concentrada em Buenos Aires], já eclodindo na Índia e posteriormente África.

E, em que momento isso impacta na economia global de larga escala? Primeiramente temos o impacto na China, que começa com um surto. As fábricas fecham, a produção industrial da China cai drasticamente, assim como seus procedimentos em fechamento de comércio internacional e criação de barreiras para a entrada e saída no país. O PIB Chinês, de uma expectativa de crescimento pré-covid-19 de 4-6% [já que a China já havia alcançado seu pico industrial], cai segundo dados do FMI para um crescimento de 2-4%, não obstante, impactando toda a economia mundial com resultados de deflação nos preços de seus produtos agrícolas que vão ser acompanhados pelas, aí sim, quedas no PIB de EUA [na casa dos 6-8%], Europa [8-10%] e Brasil [6,5% segundo o BCB].

O impacto de uma drástica recessão econômica vêm acompanhada de movimentos deflacionários, com o Brasil apresentando índices de deflação entre os meses de abril e maio; e mais profundamente os EUA vendendo o petróleo no mercado futuro a preços negativos [onde prefere-se manter o barril em galpões a vendê-lo], causando o que a própria deflação estabelece, manter a produção industrial parada, pressionando a queda do crescimento econômico via setor industrial.

Com o lockdown e as quarentenas [extremamente necessários para a não disseminação do vírus], o impacto também absorve o setor comercial global; seja o varejo, seja o próprio comércio internacional. Os países, num subrefúgio tentam artificializar a economia baixando taxa de juros para a movimentação do consumo maior das famílias; em conjunto com a queda das principais moedas em valor cambial, principalmente o próprio dólar. Paul Krugman vêm nos mostrar que o mundo pode se "afundar" em uma "armadilha de liquidez" onde chegaremos a taxa de juros 0, ou negativa e a política monetária, fundamental para tal crescimento vai ser tornar inerte e o mundo terá que se apoiar em políticas fiscais, e ai temos o grande problema de endividamento interno da Europa [recém saída da crise dos PIIIGS, Troika e austeridade Fiscal], dos EUA [já recuperado da "porrada" do subprime] e do Brasil [com gastos internos maiores que arrecadação desde 2011], o que pode causar uma crise fiscal e um maior endividamento destes países.

A Geopolítica, nesse momento, se deteriora com a OMS tendo diversas divergências com os EUA de Trump [esse até abandonando a entidade], com a própria China, na demora da divulgação de pandemia, e até mesmo na sua própria política de governança interna, que se perde em vários assuntos durante a discussão do Covid-19. A governança internacional pregada desde o tratado de Bretton-Woods e atualizada na época da globalização, vê seu principal player, os EUA, agir sozinho sendo imitado por Brasil e países do leste Europeu, como Belarus, Hungria e Rússia, em menor escala. Impactando diretamente a ação dos principais atores da geopolítica internacional.

E o impacto econômico? Os resultados começam também a chegar na Índia, onde o crescimento [do país que era visto como a China da segunda década do século XXI], também irá crescer muito pouco 3-4% estando essa no ápice da Industrialização; o que deve impactar em conjunto com o fraco crescimento Chinês e do comércio internacional em um cenário de recessão mundial que pode durar anos.

Tal recessão, então, migraria com os resultados deflacionários para uma crescideflação, uma retomada das atividades econômicas pós pandemia, mas com os preços, principalmente de produções industriais paradas, barateados no mercado externo, e com movimento de juros negativos e deflação ao longo de um bom período de tempo [eu, particularmente, espero de 5-7 anos em um cenário médio de expectativa]. Mas, com uma luz no fim do túnel, uma crescimento da China mais cedo do que o esperado, para tentar diluir essa situação que vivemos de uma mistura de "Gripe Espanhola" com "Crise da recessão Americana de 1929", uma crise deflacionária e drástica nos movimentos econômicos globais e do comercio internacional, que deverá adotar novas medidas fitossanitária para o período pós pandêmico.

A geopolítica toma um rumo parecido, com os EUA dependendo das ações de sua eleição no final desse ano; uma vitória de Trump, e as relações cortadas com a OMS e as principais governanças internacionais devem se deteriorar, com o Brasil e o leste Europeu [em excessão à Rússia] o seguindo, e a China podendo se tornar uma forte player dentro de tais instituições. Caso, a provável vitória de Joe Biden se concretize, os EUA devem voltar ao cenário global, e em médio prazo recuperar a força geopolítica internacional, e com um fim da pandemia, o Brasil, pode ficar como uma pária nessa situação; e infelizmente, questões que haviam sido "paradas" durante o cenário se retomem; o conflito EUA x Irã, Rússia x Ucrânia, o retorno de uma briga entre EUA x Rússia [não mais com Putin aliado a Trump], o movimento de evasão Síria e proibição de entradas até com desumanização na Europa Ocidental, em especial na França e Reino Unido, a realização do Brexit, a crise China x Índia com a Cashemira e o status quo de Hong Kong com os próprios Chineses.

Minha humilde visão, é de que realmente teremos um cenário econômico muito inconclusivo e de resultados muito fracos, que deve se arrastar por até uma década; mas que pode ser amenizado se tal retomada Chinesa [que vêm acontecendo mais rápido do que o previsto, realmente acontecer - e aqui o Brasil ganharia muito, como um dos principais parceiros internacionais, e se não tivermos uma segunda onda pandêmica]. Enquanto que o momento que se encontrar uma vacina ou uma cura, discordo de que teremos o tão famigerado "novo normal", tais ações de conflitos geopolíticos "congelados" inerentemente voltarão; o novo normal será a questão social de integração das pessoas, o qual eu também não tenho expertise para falar.

Ou seja, poderíamos nesse período aprender a ser mais "humanos" com as disputas políticas no cenário geopolítico externo, mais fundamentados nas teorias de Locke; quando na verdade voltaremos ao nacionalismo exacerbado de Hobsbawn, uma polarização invasiva da política em uma verdadeira dualidade de "certo" e "errado", quando não há tal certo e errado; e uma pura ação de Hobbes indicando que o homem continua sendo o lobo do homem. [e a briga pela patente das vacinas entre tais potências já nos encaminha a isso].

Poderíamos mudar isso ao menos; mas humildemente, não o vejo. Nem um cenário favorável para a geopolítica, e um que ainda que inconclusivo pode ser drástico para a mudança da economia global.

Mas, essa é apenas minha visão em cima do que têm acontecido nas principais potências mundiais.

Um abraço.

Prof. MSc. Gabriel Cazotto

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