Impacto do saneamento na vida do brasileiro e o papel da indústria de cloro-álcalis
Nos últimos dois anos, o noticiário foi tomado por conteúdos pertinentes à nova regulação para o setor de saneamento básico, com destaque para o novo Marco Legal – lei que deu maior abertura para participação da iniciativa privada – e para o Plano Nacional de Saneamento Básico (PlanSab) com prazo e métricas para a universalização desses serviços.
Para vencer o desafio de trazer para a realidade o que ainda está no plano das leis, estima-se investimentos que ultrapassam a marca de R$ 700 bilhões, até 2033. Quantia que a sociedade recuperará diante do benefício econômico estimado em estudo do Instituto Trata Brasil como resultado da universalização do saneamento: R$ 1,1 trilhão, em duas décadas.
O levantamento detalha as áreas que receberão impacto positivo, como a elevação da produção e da produtividade no trabalho com impressionantes R$ 680 bilhões. A melhora nos indicadores de saúde, além do ganho de qualidade de vida da população, vai representar quase R$ 6 bilhões em economia de recursos destinados aos atendimentos para tratar doenças evitáveis.
A maior demanda de insumos e itens acabados típicos dos serviços de saneamento básico terá impacto positivo nos setores construção civil e indústria química. No último caso, será necessário atender um novo patamar de demanda por produtos como o cloro, o que, segundo dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai impor investimentos da ordem de até R$ 35 bilhões.
Um dos nichos da indústria química que se movimenta para acompanhar as necessidades antevistas é o setor de cloro-álcalis. Para se ter uma ideia, estamos falando de um incremento anual de 600 a 700 mil toneladas de cloro somente para atender a produção de mais de 130 mil quilômetros de tubos de PVC, total estimado para a instalação das estruturas de distribuição de água tratada e coleta de esgoto, em todo o País.
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E o setor já está respondendo!
A implementação de uma nova fábrica de cloro soda leva de dois a três anos e meio. Assim, a Abiclor está acompanhando sucessivas inciativas de companhias que estão iniciando (2022-2023) a ampliação de suas fábricas ou a construção de novas unidades produtivas. Os projetos seguem padrões de engenharia voltados para a sustentabilidade, com emprego de conceitos de eficiência energética e – em alguns casos – de fontes renováveis de energia e matérias-primas renováveis.
Na indústria química e outros setores relacionados, inúmeras empresas estão apostando na continuidade da “jornada do saneamento”, investindo recursos próprios para preparar estruturas imprescindíveis para levar saneamento básico para milhões de brasileiros.
Ou seja, nos próximos dez anos, asseguradas as condições, especialmente de regulação e financiamento, o Brasil deverá passar por uma transformação que representará ganhos de saúde e qualidade de vida jamais experimentados. O que, finalmente, deixaria no passado o discurso do professor Miguel Pereira, da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1916: “Apesar do muito que se tem feito, nestes últimos anos pelo saneamento da nossa Pátria, o Brasil continua a ser um imenso hospital".
Por Milton Rego, engenheiro e economista e presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor).