Implementos, em bom momento, devem faturar R$ 9 bilhões este ano
Qual é o papel da Anfir – Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários no transporte de cargas? Segundo José Carlos Spricigo, seu atual presidente, que é também CEO da Librelato, o setor fornece os componentes complementares ao caminhão na movimentação de carga seca, como ocorre em baús e carretas, graneleiros e cegonhas, além de líquidos, em tanques. Os associados da Anfir trabalham em cooperação com o cliente e com os fabricantes de caminhões para configurar as encomendas dos implementos.
A Anfir reúne mais de 140 associadas e 900 afiliadas ativas, incluindo desde micro até grandes empresas relacionadas ao segmento de transporte de cargas. Segundo a entidade, essas companhias são responsáveis pela fabricação de todos os implementos rodoviários utilizados no Brasil e, portanto, o setor dispensa importações de produtos acabados.
A Anfir foi instituída em 1980 em Caxias do Sul, RS, e reuniu inicialmente as 13 principais empresas do setor na época: Biselli, Cargo-Van, Dambroz, FNV-Fruehauf, Furglas, Guerra, Massari, Iderol, Krone, Randon, Recrusul, Rodoviária e Trivelatto. “Desde então a Anfir passou a representar suas associadas em todas as frentes”, esclarece Spricigo. Ele calcula que o setor que representa gera 35 mil empregos diretos e indiretos.
DESEMPENHO
A Anfir projeta a comercialização de 156 mil implementos rodoviários este ano. Em agosto o setor entregou ao mercado 15 mil produtos ante 11 mil unidades em janeiro, o que representa 36% de crescimento. “O aumento gradual nos emplacamentos mostra que a revisão de nossa previsão anual tem condições de ser alcançada”, diz Spricigo.
Segundo a Anfir, o total de implementos rodoviários de janeiro a agosto de 2021 está 45,5% acima do registrado em 2020. Em oito meses a indústria entregou ao mercado 107.298 unidades, contra 74.744 produtos no mesmo período do ano passado.
O segmento pesado, de reboques e semirreboques, segue com ritmo de recuperação mais aquecido que o leve. Em oito meses de 2021 a indústria distribuiu 61.445 unidades contra 40.462 produtos registrados de janeiro a agosto de 2020. Isso representa variação positiva de 51,86%.
No segmento leve, de carroceria sobre chassis, o percentual de recuperação foi de 37,77%. De janeiro a agosto de 2021 foram comercializados 45.853 produtos contra 33.282 implementos rodoviários em igual período de 2020.
Se o mercado dispensa a importação de produtos acabados, há dependência na compra externa de componentes. “De uma forma geral, apesar das dificuldades temos atendido a demanda” – garante Spricigo, explicando que as compras de reboques, semirreboques e carrocerias sobre chassi atendem de forma especial o agronegócio, a construção civil e obras de infraestrutura. A linha pesada puxa os negócios, para o abastecimento dos centros de distribuição; a linha leve faz as entregas nas regiões urbanas.
Segundo a Anfir, a receita líquida de seus associados, computados somente implementos, sem autopeças, deve crescer 70% acima dos valores de 2020, para R$ 9 bilhões. A inflação do setor, em IGPM, preocupa, pois atinge itens como commodities, pneus e aço, utilizados na manufatura.
Spricigo destaca os bons resultados obtidos pelas vendas de implementos ao agronegócio, que somam 65% do total, correspondente à demanda de semirreboques e reboques, além de carrocerias sobre chassi. O desempenho das vendas à construção civil não decepciona, posicionando-se acima de 20%, voltados ao transporte de produtos como cerâmicas, vergalhões e bobinas de aço.
Spricigo revela que a receita da Librelato subirá 80% sobre o ano passado, graças a um mercado comprador acima das previsões. A empresa colhe os resultados de investimento em tecnologia e automação e se prepara para apresentar a linha de produtos para 2022 em novembro.
Recomendados pelo LinkedIn
As exportações contabilizadas pela Anfir vão de vento em popa. Enquanto em 2020 foram vendidos ao exterior 1.900 equipamentos completos, este ano o volume se aproximará de 5 mil unidades. A base de comparação interanual é sobre uma base pequena e denota os efeitos da pandemia, revela a entidade. Já o aftermarket vem também em ritmo crescente, com boa performance desde 2019, graças ao envelhecimento da frota.
REGULAMENTAÇÃO
O setor de implementos rodoviários é regido por normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e tem sua operação orientada pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Os fabricantes têm investido continuamente em novas tecnologias, materiais e serviços para garantir uma performance de primeira classe aos equipamentos, apesar das estradas brasileiras, em grande parte, oferecerem condições precárias de tráfego, com sinalização deficiente e grande volume de acidentes.
A Sergomel, fabricante de implementos rodoviários, explica que os implementos podem ser classificados em carrocerias sobre chassi ou então rebocados (reboques e semirreboques). A primeira categoria refere-se a veículos de carga de menor porte, geralmente utilizados nas áreas urbanas. As carrocerias são montadas diretamente sobre o chassi do caminhão e não têm eixos ou chassi próprios.
Os implementos rodoviários rebocados são mais utilizados em longos percursos. Isso se deve ao maior comprimento somado a maior capacidade de carga do implemento. Muito utilizados na área agrícola, os implementos rodoviários rebocados são comuns no transporte de mercadorias até centros de distribuição.
Segundo a Bidu, plataforma de serviços financeiros na internet, a principal diferença entre reboque e semirreboque está na forma como ficam acoplados no veículo: o reboque fica apenas engatado ao veículo motor; semirreboque fica engatado e apoiado no veículo motor.
NOVAS TECNOLOGIAS
A utilização de materiais mais leves, como o alumínio, ou mais adequados na construção dos implementos, tem ganhado impulso no setor de manufatura. A Randon Implementos acaba de anunciar, por exemplo, a produção de equipamentos rodoviários substituindo o aço por um material até 65% mais leve, graças a uma tecnologia desenvolvida pela Fras-le, que também pertence ao grupo Randon.
Segundo o comunicado da Fras-le, a nova linha Smart Composites permite a fabricação de autopeças estruturais utilizando compósitos. O primeiro resultado desse projeto será usado para produzir suportes de para-lamas para semirreboques.
A previsão é que, até outubro, 40% dos semirreboques produzidos pela Randon já utilizem a nova tecnologia da Fras-le. Além do menor peso, os suportes de para-lamas fabricados com o material compósito terão um desempenho superior aos modelos em aço, seja de forma estática ou dinâmica, segundo a empresa.