As implicações do dólar forte globalmente

As implicações do dólar forte globalmente

É consenso entre os economistas que a taxa de câmbio é uma das variáveis mais difíceis de se prever, dada a quantidade de fatores externos e internos que pode afetá-la. Ainda assim, alguns indicadores conseguem mostrar tendências para as moedas. E a tendência, hoje, da mais importante de todas, o dólar, é de fortalecimento global.  

 O dólar continua sendo o porto seguro mundial – e sobe mesmo quando são divulgados dados negativos da economia americana. No início do mês, por exemplo, quando a inflação ao consumidor nos Estados Unidos atingiu 8,6%, maior valor em 40 anos, foi para o dólar que os investidores correram. A moeda americana se valorizou frente às demais divisas, tanto de países desenvolvidos quanto de emergentes.  

 Com a aceleração no aumento dos juros nos EUA (elevação de 0,75 p.p., a maior desde 1994), na semana passada, a valorização deve continuar. Taxas mais altas atraem capital para o país, tirando a força dos ativos de risco, principalmente de economias emergentes. A expectativa é de que os juros sigam em trajetória ascendente para derrubar a inflação.  

 Bancos Centrais importantes, como o da Inglaterra e o Europeu, estão subindo os juros mais moderadamente. Como resultado, libra e euro estão se desvalorizando frente ao dólar. Além disso, a guerra entre Rússia e Ucrânia, travada em plena Europa, traz consequências negativas e muita incerteza para o continente. Há economistas que preveem, inclusive, a paridade entre dólar e euro num futuro não muito distante – desde 2001 as cotações não estavam tão próximas. 

 No Brasil, com a pandemia, o dólar passou para o patamar dos R$ 5. No ano passado, se desvalorizou em 6,88% frente à divisa americana, 12º pior desempenho entre 25 economias relevantes. E, este ano, por sua vez, o real chegou a se valorizar quase 15% em relação ao dólar. 

 Desde o anúncio do novo patamar de juros no Brasil e nos EUA, a cotação ora sobe, ora desce. O dólar alto estimula a exportação, o que pode ser bom para a balança comercial brasileira, mas encarece itens básicos que já estão caros, como petróleo e trigo, impactando a inflação. De toda forma, pode-se dizer sem medo de errar que o pior cenário é o de alta volatilidade da moeda, pois atrapalha quem quer fazer negócios, dada a imprevisibilidade.  

 Com o crescimento da economia da China, não faltam arautos do fim da hegemonia do dólar, embora o euro, a libra e o iene japonês sejam mais utilizados do que a moeda chinesa. Mas não é tão fácil (nem rápido) desbancar a moeda da maior economia mundial, maior potência militar, dona de um robusto parque industrial e que é reserva de valor para a maioria dos países.  

 A libra esterlina passou por isso no século passado, em um processo que levou décadas, entre a primeira e a segunda guerras mundiais. Naquela época, o acordo de Bretton Woods reordenou a economia global e estabeleceu como parâmetro o dólar, que estaria lastreado em ouro. Posteriormente, em 1971, o padrão ouro foi abandonado, restando apenas o dólar.  

 Atualmente, 59% das reservas internacionais mantidas pelos países são em dólar, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). É o menor percentual em 25 anos – alcançava 71% em 1999, antes do lançamento do euro. A título de exemplo, dos US$ 362 bilhões de reservas internacionais do Brasil, 80,3% estão em dólar, 5,04% em euros e 4,99% em moeda chinesa. 

 Embora mudanças geopolíticas e transformações tecnológicas estejam remodelando a economia global e o uso internacional das moedas, não devemos esperar revoluções em um futuro próximo. Na definição do próprio FMI, as movimentações neste campo ocorrem em ritmo glacial.

 Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP

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