A importância de falar com o outro e não para o outro

A importância de falar com o outro e não para o outro

Tenho aprendido com o passar dos anos e experiências vivenciadas que uma Cultura de Segurança forte está baseada essencialmente no fazer bem feito, com foco e disciplina, o básico.

Tenho aprendido que nada adianta importar a mais avançada “ferramenta de segurança”, aplicada na mais top das organizações em termos de Gestão de Saúde e Segurança, se a mesma não estiver conectada com os valores da sua empresa e se o básico não estiver sendo bem feito.

Mas o que seria este básico? Quais seriam estas poucas e boas ferramentas?

Eu diria que fazer o básico com poucas e boas ferramentas está relacionado com práticas do dia a dia, cujo objetivo é o gerenciamento de riscos com foco no cuidado ativo e a prevenção de acidentes e doenças do trabalho. São rotinas de Saúde e Segurança que muitas vezes são deixadas de lado, pois são consideradas repetitivas e sem valor. Mas será que não tem valor?

Estes dias li uma frase, que desconheço a autoria, mas que dizia:

“A arte de inovar: faça o básico bem feito!”

E pensei, sim, fazer o básico bem feito também é inovação! Desta forma, compartilho aqui com você, a ferramenta de segurança mais básica, mais simples, talvez a mais antiga e com certeza a mais desprezada e subutilizada em muitas das organizações...com você:

o...DDS – Diálogo Diário de Segurança, ou simplesmente Diálogo de Segurança, ou ainda, Minuto de Segurança, ou Momento de Segurança, ou outro nome que a empresa achar mais pertinente e que se conecte bem com o seu público alvo, mas aqui vamos tratar de DDS.

O DDS é uma ferramenta utilizada em praticamente todas as organizações e a mesma tem um alto potencial de contribuição na Gestão de Saúde e Segurança, se bem aplicada, e acima de tudo é simples, rápida, flexível e de fácil adaptação as diferentes necessidades. Por outro lado, se o DDS não for adequadamente utilizado ele perde a finalidade e se torna uma obrigação.

Levanta a mão aí quem nunca se incomodou com aquele DDS em que o interlocutor aparece com uma folhinha impressa, faz uma leitura sem nenhuma empolgação, fala meia dúzia de palavras que não tem nada a ver com o seu público alvo e no final passa uma lista de presença pra garantir a validação da execução da ferramenta?!

Vamos mudar este cenário?

Nós, Gestores de Saúde e Segurança, temos o dever de provocar as mudanças necessárias para sairmos do patamar que nos encontramos. Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em 2017, 4% do PIB Mundial e 10% do PIB das Nações em Desenvolvimento, foram destinados a custos com acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

Ah, mas o DDS vai mudar este cenário sozinho?

Não, mas certamente irá contribuir para a melhora destes resultados, pois o que não dá é para continuar a brincar de fazer segurança e torcer para dias melhores.

Vamos para a ação!

E aí vão 06 Dicas para tornar seu DDS especial e impactante:

1)     Conheça o seu público alvo

É de extrema importância que você conheça as pessoas com as quais você está falando, para isso, pratique a empatia (segue aqui o link de um e-book gratuito que escrevi sobre a aplicação do Mapa da Empatia na Gestão de Saúde e Segurança, e que pode ser utilizado neste caso, e que com certeza você irá extrair muitos assuntos a serem abordados nos diálogos de segurança com o seu time).

Lembre-se da importância de falar com o outro e não para o outro, este é o princípio fundamental de um diálogo. Pode parecer sutil a diferença, mas falar com o outro se traduz em um diálogo autêntico, verdadeiro, empático, e é assim que as pessoas crescem, se desenvolvem, interagem, trocam ideias e opiniões, o que do ponto de vista de saúde e segurança trará muitos benefícios.

2)     Pense no objetivo a ser atingido com este DDS

O seu diálogo de segurança tem que ter um objetivo concreto, caso contrário não irá gerar o engajamento necessário e nem o resultado esperado.

Para tal, o DDS pode ser informativo (Estou ciente!); conceitual (Ok, entendi!); preparatório para uma atividade que irá ocorrer na sequencia (Combinado!); auxiliar na passagem de serviço (Deixa comigo!); tirar do automatismo e buscar presença, atenção e foco (Estou aqui!); um momento de reflexão, podendo utilizar os recursos de storytelling (Ual, Faz sentido!); uma roda de conversa (Não tinha pensado nisso); e por fim, pode também ser realizado ao final de uma tarefa para análise dos aprendizados vivenciados e reforçar a importância do cuidado ativo (Quanto aprendizado!).

3)     Reflita sobre qual comportamento-alvo você pretende fortalecer

Normalmente, você trabalha com a sua equipe o comportamento seguro ou o comportamento de risco? É muito comum darmos ênfase no que não se deve fazer e partimos do erro, do ato inseguro, para buscar o fortalecimento daquele comportamento em especial.

Será que este é o melhor caminho? Porque não trabalhar o que e como fazer de forma segura?

Afinal o comportamento seguro ocorre na presença de riscos, e estes riscos precisam ser mostrados, uma vez que quanto mais “seguro” for o comportamento adotado menor a probabilidade de ocorrer acidentes.

“O comportamento seguro de um trabalhador, de um grupo ou de uma organização, pode ser definido por meio da capacidade de identificar e controlar os riscos da atividade no presente para que isso resulte da probabilidade de consequências indesejáveis no futuro, para si e para o outro.” (Bley, 2004)

4)     Defina a melhor estratégia

Se o objetivo do seu DDS é informativo, a estratégia será relatar uma ocorrência, reforçar um procedimento e/ou levar para a equipe informações importantes; se for conceitual busque reforçar as práticas seguras de trabalho, por exemplo; ah, estão se preparando para uma atividade repleta de riscos de elevada gravidade, verifique se estes riscos são de conhecimento de todos, trate das medidas de mitigação e controle, relembre as boas práticas e os planos de contingência e emergência; mas eu estou fazendo uma passagem de serviço, então aproveite o DDS para criar conexões entre as atividades dos diferentes turnos, buscando a maior estabilidade do processo.

Enfim, para cada objetivo definido, estabeleça a melhor estratégia!

5)     Ofereça uma experiência significativa ao seu público alvo

Se prepare adequadamente, sim, trate este momento com a relevância e importância devida.

Defina previamente o tempo (entre 10 a 30’ é o ideal), escolha o local adequado de forma que as pessoas possam te ouvir sem ruídos desagradáveis, permaneça fora de áreas de risco e evite a dispersão. Lembre-se...é um Diálogo e não um Monólogo, portanto, promova discussões e interações entre os participantes.

6)     Verifique se os objetivos foram atingidos

Para tal, faça um check rápido ao final do conteúdo abordado para garantir que a sua equipe vá para a área de trabalho inspirada pelas suas palavras, com os olhos e a mente na tarefa a ser executada, atentos e aptos a antecipar os riscos da atividade.

Nada de mudar o foco do DDS e “aproveitar” o momento para falar de benefícios, remuneração, hora extra, enfim, qualquer outro tema que não faça parte do objetivo proposto, deixe estes assuntos para outro momento.


E aí? O que você acha? O DDS é herói ou vilão? Pode potencializar ou não os resultados da Gestão de Saúde e Segurança?

Mas acho que você deve estar se perguntando, tudo isso para um simples DDS? Vou ter que seguir estas dicas todos os dias? E todas as outras atividades que tenho para fazer, como ficam?

Bom, deixe estas perguntas de lado e foque no essencial!

Faça a diferença junto ao seu time.

Um DDS conduzido por um profissional preparado, com um objetivo claro, com temas que despertam o interesse dos funcionários em prol do comportamento seguro, é indiscutível que trará um crescimento enorme para a equipe e uma exponencial melhora nos resultados de segurança.

“Uma cultura de segurança se faz com poucas e boas ferramentas , um sistema de gestão adequado e alinhado ao funcionamento mais amplo da empresa e uma liderança que suporte sustentar o discurso e a prática do cuidado com a vida o tempo todo, na tempestade e na bonança .” (Juliana Bley) 




Carla Lessa

Facilitadora em Segurança Psicologica de Times | Sustentabilidade | EHS Corporate Coordinator | HOP | Segurança no Trabalho que faz sentido

6 a

Obrigada Edivaldo Gregório pelas suas colocações, você tem razão quanto ao papel de mediador, acredito muito nisso também. Quanto ao tempo, venho pensado em complementar este artigo com o seguinte...o DDS num tempo de cerca de 7 a 10 minutos, como vc colocou, mas pelo menos a cada 15 dias, um bate papo um pouco mais longo, com 15 min. Veja a modalidade do TED Talks!! E quanta informação é absorvida...vou escrever um post sobre o tema. Muito grata pelas suas observações! E ohhhh....corrigi o artigo, a frase saiu trocada e mudou o sentido do texto. Valeu!!!!!

Edivaldo Gregório

Consultor & Palestrante sobre Tributação de SST: GILRAT, FAP e Aposentadoria Especial (LTCAT, PPP, FAE, eSocial)

6 a

Carla Lessa, certamente o Diálogo de Segurança é uma excelente ferramenta para desenvolver o comportamento seguro dos trabalhadores. Claro, se bem planejado, aplicado e avaliado. E as 6 dicas que você preparou e compartilhou conosco são essenciais para desenvolver o comportamento seguro nos ambientes de trabalho. E complementando, um ponto que acho importantíssimo é que o profissional responsável pela condução do diálogo não deve ter o papel de falar enquanto os outros ouvem, mas de iniciar e mediar o diálogo, onde a participação de todos ou da grande maioria é essencial para que exista a compreenção do tema debatido - no mesmo sentido de sua mensagem "falar com o outro e não para o outro". E um item discordo de você, em relação ao tempo. Acredito que o DDS devem ter entre 7 e 10 minutos. Visto que dentro deste intervalo conseguimos obter o máximo de atenção e foco de todos, sem que o assunto seja dispersado. E neste tempo deve ser dialogado sobre aspectos relevantes e cruciais em termos de informação, conceito e preparatório como bem dividido por você e que por sinal achei sensacional e didático esta divisão.

Bianca Adrielle Silva Andrade

Supervisora de Segurança do Trabalho na Grupo Pardini| Fleury

6 a

O básico bem feito... é isso! Praticar a escuta ativa e dialogar com o funcionário é básico e fundamental e, infelizmente isso se perdeu nos profissionais da nossa área. Muito bom o artigo!

Ótimo Carla, texto muito bom!! Realmente é muito desmotivador quando essa atividade é feita sem preparo e empenho, só acaba por deixar os funcionários desmotivados e mais desatentos

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